‘Vamos até Belém!’

Depois de terem ouvido o anúncio do Anjo acerca do nascimento do Menino Jesus, os pastores disseram entre si: “vamos até Belém para vermos este acontecimento que o Senhor nos deu a conhecer” (Lc 2,15). Este propósito resume o espírito com que viveremos os próximos dias. Celebrar o Natal consiste em “ir até Belém”! Fazemos isso, antes de tudo, na liturgia. Ela, por assim dizer, “transporta-nos” até a Judeia de 2000 anos atrás e nos une ao mistério da Encarnação e do Natal do Filho de Deus. Contudo, a participação na liturgia é mais frutuosa na medida em que buscamos espiritualmente a gruta de Belém.   

Por isso, vamos até Belém também com nosso pensamento, imaginação e, principalmente, com o coração – isto é, com a vontade. A montagem do presépio – realizada pela primeira vez por São Francisco de Assis em 1223 – tem a finalidade de nos transportar espiritualmente à cena do nascimento de Jesus. Colocamo-nos ali como um personagem a mais. Imaginamos a simplicidade da estrebaria onde nasceu o Senhor, os animais, o frio, a escuridão. Pensamos na presença acolhedora da Virgem Maria e de São José, repleta de amor e de bondade. Concebemos como foi a chegada dos pastores repletos de admiração. 

Transformamos a imaginação em meditação e, olhando para o Menino, dirigimos-lhe palavras de gratidão, confiança e súplica. Pedimos que Ele traga caridade e fervor aos nossos corações e que não permita que o nosso trato com Deus, com nossa família e com os demais venha a esfriar. Fazemos o mesmo com a Virgem Maria, a quem congratulamos pelo nascimento do seu Filho; e com São José, a quem pedimos proteção para nossa família, consagrando-a à proteção da Sagrada Família. Propomo-nos, então, a viver como em Belém: ainda que nos faltem bens materiais aparentemente essenciais, não faltará caridade. Toda divisão, ressentimento e indiferença desaparecerão. 

Detendo-nos um pouco mais sobre a cena, podemos levar nossa meditação a aspectos práticos da vida. Examinamos, por exemplo, como temos praticado a hospitalidade, a qual, infelizmente, não foi exercida com a família de Jesus. Ou como temos vivido as virtudes da pobreza e da simplicidade, exercitadas pelo Rei do Universo já desde o nascimento. Vendo a alegria simples da Sagrada Família e dos pastores, investigamos as causas da nossa alegria: regozijamo-nos em Deus, nos vínculos humanos, na solidariedade, na pureza de consciência, ou apenas nas coisas, sensações, na saciedade passageira, enganosa e sensual? Ao longo da história humana, tantas coisas passaram, tantas riquezas apodreceram, perderam o valor… Mas o presépio continua o mesmo: silencioso, discreto e essencial. 

Contemplando o Menino Jesus, o tempo para e nos aproximamos da eternidade. Sem dizer coisa alguma, alimentamo-nos de um profundo espírito de adoração e apenas olhamos para Ele, “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz” (Is 9,5). Neste Natal, não estejamos desatentos: vamos até Belém! 

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