Você tem fome e sede de quê?

As mobilizações em torno do Grito dos Excluídos de 2023, por ocasião da Semana da Pátria, em particular na data de 7 de setembro, trazem como lema “Você tem fome e sede de quê”? O tema continua a ser “A vida em primeiro lugar”. Em sintonia com a Campanha da Fraternidade deste ano, está em jogo a pobreza e a subnutrição de milhões de pessoas. Não se trata de escassez de alimentos, e sim da falta de uma política de distribuição equitativa dos recursos naturais, bem como do fruto do trabalho de todos. Faz-nos lembrar a oração feita com frequência antes das refeições: “Senhor, dai pão a quem tem fome, e fome de justiça a quem tem pão”!

Mais do que a falta e a necessidade imediata do comida e água – coisa que hoje em dia se torna um escândalo em nível global – o processo do Grito tem como objetivo trazer à tona outros tipos de fome e sede. São muitas e muito graves as situações de fome e de sede. Entre elas, destacam-se a fome de justiça, paz e dignidade; mas, também, a sede de uma educação que possa desenvolver as potencialidades humanas. A fome de terra, teto e trabalho, mas também a sede de reconhecimento de toda pessoa, sem qualquer tipo de discriminação e preconceito. A fome pela defesa e respeito aos direitos humanos, mas também a sede pelo desempenho de atividades que possam ser úteis a cada trabalhador e trabalhadora e, ao mesmo tempo, a toda a sociedade.

A data referência desse processo de eventos relacionados ao Grito dos Excluídos é o Dia da Pátria. Essas atividades desenvolvidas no dia 7 de setembro, desde meados da década de 1990, procuram um salto de qualidade. Em outras palavras, como passar de um “patriotismo passivo”, que se limita a assistir desde a plateia ao desfile de tropas, armas, soldados e escolares, para um “patriotismo ativo”, capaz de descer das arquibancadas e entrar em campo? Mais concretamente, como abrir canais, instrumentos e mecanismos de participação popular, no sentido de pressionar a elaboração de políticas públicas em favor dos pobres, excluídos e vulneráveis?

Como se pode ver, os debates, caminhadas, romarias, celebrações, seminários, encontros, rodas de conversa – entre outras iniciativas – giram em torno de uma cidadania viva e propositiva. Não basta votar nos representantes populares da democracia, é preciso acompanhar de perto os seus projetos, seus passos e suas decisões. É preciso ocupar as ruas e praças, organizar a população, para que os governantes direcionem os cofres públicos para as necessidades básicas do País.

Ao “pão nosso de cada dia”, oração que o Senhor nos ensinou, correspondem a fome e a sede nossas de cada dia. Fome e sede que, por todo o País, se estendem aos porões, às periferias, aos campos e às fronteiras mais longínquas da sociedade. A verdadeira cidadania exige que a todos cheguem os resultados da ciência, da tecnologia e do progresso. “O desenvolvimento é o novo nome da paz”, dizia São Paulo VI, na encíclica Populorum Progressio, publicada em 1967, como uma espécie de segundo capítulo da constituição pastoral Gaudium et spes, documento do Concílio Vaticano II.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários