‘Comunhão, participação e missão são as qualidades essenciais de uma Igreja sinodal’

Afirmou o Cardeal Scherer, no encontro anual com o clero da Arquidiocese de São Paulo

Fotos: Luciney Martins /O SÃO PAULO

O Cardeal Odilo Pedro Scherer realizou na quarta-feira, 16, o encontro anual com o clero para marcar o início do ano pastoral da Arquidiocese de São Paulo.

O evento aconteceu no Colégio Santo Antônio de Lisboa, no Tatuapé, e contou com a presença dos bispos auxiliares, vigários episcopais, sacerdotes e diáconos.

Entre os temas tratados no evento, o Arcebispo de São Paulo convidou os clérigos a uma reflexão sobre o processo de renovação pastoral e evangelizadora proposto pelo Papa Francisco para toda a Igreja, que tem como tema: “Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão”. Essas três palavras, frisou Dom Odilo, são as “qualidades essenciais” da Igreja.

COMUNHÃO

“Foi o que Jesus pediu com insistência na última ceia: permanecer unidos Nele, no Evangelho e na caridade. Estar unidos, de fato, na comunhão eclesial não é uma opção entre outras possíveis.

E a única possível na Igreja de Cristo. Em nossa Igreja, há verdadeira união e comunhão de fé, esperança e caridade? Quanta divisão, radicalismos e polarizações penetraram na Igreja nestes nossos tempos!”, enfatizou o Cardeal.

PARTICIPAÇÃO 

Dom Odilo sublinhou que é preciso recordar que a Igreja é uma realidade “participada” por cada um de seus membros. “Não fundamos nós mesmos a Igreja, mas participamos de um dom que já nos precede; nela, entramos e participamos do patrimônio da fé e da vida eclesial. A participação diz respeito, em primeiro lugar, a essa dimensão da graça de Deus, da qual nem sempre nosso povo está consciente. Somos participantes dos bens da casa de Deus. E quantos são esses bens!”, acrescentou.

MISSÃO

“Na Igrejasinodal, a missão do anúncio e testemunho do Evangelho é assumida por todo o povo de Deus, e não apenas por uns poucos. Nem todos fazem a mesma coisa, mas cada um possui um dom para participar da missão da Igreja. Cabe refletir sobre isso com o povo de nossas paróquias, para compartilhar a missão da Igreja com todos: com numerosos agentes de pastoral, com os casais e pais cristãos e todos os fiéis leigos inseridos nas estruturas do mundo. Muita vitalidade nova pode ser despertada nas paróquias, se o povo compreender bem a sua parte na missão da Igreja!”, exortou o Arcebispo. 

Luciney Martins /O SÃO PAULO
Retomada do sínodo arquidiocesano

No que se refere ao contexto de retomada gradual das atividades sinodais, o Cardeal Scherer anunciou aos padres que a terceira etapa do sínodo arquidiocesano também será reiniciada. Devido à pandemia, a assembleia sinodal arquidiocesana, prevista para acontecer em 2020, teve de ser suspensa. Para a retomada, o Arcebispo convida todas as paróquias e organizações eclesiais para uma fase de pré-assembleia, que consiste na celebração de uma missa e na realização de duas reuniões ampliadas dos Conselhos Paroquiais de Pastoral (CPPs). Essas reuniões devem acontecer entre 13 de março e 10 de abril.

Os roteiros das duas reuniões serão encaminhados a todas as paróquias em formato digital, assim como as indicações para o acesso dos diversos textos ou documentos de apoio aos encontros.

A nova abertura dos trabalhos da Assembleia Sinodal será no dia 7 de maio. “O sínodo requer de nós um processo de conversão generosa. Tenhamos coragem, façamos a nossa parte e confiemos em Deus e na ação do Espírito Santo”, concluiu Dom Odilo.

‘A Igreja é um evento da graça de Deus’

O Cardeal Scherer também refletiu com os padres e diáconos sobre o “clericalismo”, conceito mencionado pelo Papa Francisco como um “mal sufocante na Igreja”. Dom Odilo explicou que a mentalidade de que a Igreja se resume a uma organização apenas constituída de clérigos não é algo que afeta apenas os membros do clero, mas, também, os fiéis leigos, quando esses não se compreendem como membros da Igreja, mas apenas “fregueses” ou ‘beneficiados” que usufruem dos serviços prestados pela instituição.

“A Igreja é um evento da graça de Deus e da ação do Espírito Santo, onde todos nós somos agraciados. E o imenso  povo reunido em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a comunidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo e testemunhas do Evangelho. É a família de Deus, o rebanho do Bom Pastor, a casa de Deus, de cuja edificação todos participam”, salientou o Arcebispo, reforçando que, na Igreja, todos recebem dons e graças diversas, para participar, de modos diversos, da sua vida e missão. “E os clérigos recebem a graça muito especial do ministério sagrado ordenado, para ser exercido como serviço a Deus, à Igreja e ao mundo. E na Igreja, o principal agente é o Espírito Santo, como vem recordando com insistência o Papa Francisco”, completou.

Vida pastoral na pandemia

O Arcebispo de São Paulo enfatizou que o ano pastoral de 2022 se inicia no contexto da pandemia da COVID-19, que ainda exige prudência e cuidado. “Aprendemos a conviver com o vírus e a combatê-lo com medidas preventivas eficazes. Grande parte da população já está vacinada, o que assegura maior defesa contra o contágio e impede efeitos mais devastadores para quem ainda acaba sendo contagiado. Por isso, continuamos com os cuidados necessários, pois a pandemia ainda não acabou”, afirmou, recordando as inúmeras vítimas do coronavírus, inclusive padres e religiosos.

“Levando conosco as lições aprendidas, devemos, agora, retomar com prudência e coragem o ritmo da vida eclesial e pastoral”, exortou o Cardeal, reconhecendo o esforço das comunidades para socorrer os mais afetados pelos impactos da pandemia por meio do serviço da caridade. “Devemos, também, voltar nossa atenção às outras dimensões da vida eclesial e pastoral, que talvez tenham sido afetadas mais fortemente pela situação de pandemia. Assim, a dimensão litúrgica, com a celebração dos sacramentos, especialmente a Eucaristia dominical, que está no centro da vida das nossas comunidades”, frisou, recordando que as transmissões das celebrações pelos meios de comunicação são importantes para manter vivos a fé e o vínculo com a comunidade das pessoas impossibilitadas de ir à Igreja, mas não substituem a participação na vida sacramental.

“A presença e a participação física são partes da dimensão sacramental da nossa Igreja e é exigida para a realização dos sacramentos. Portanto, recomendo que voltem a incentivar a participação presencial nas celebrações da Igreja, acolhendo com alegria quem retorna de um longo período de isolamento. As pessoas estão necessitadas de acolhida e reinserção na vida da sua comunidade eclesial”, completou Dom Odilo.

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