Exposição de presépios resgata a religiosidade popular peruana em paróquia no Brás

A Paróquia Bom Jesus do Brás, na região central de São Paulo, promove, até o fim de janeiro de 2022, uma exposição de presépios típicos da cultura popular peruana.

Além dos já tradicionais presépios napolitano e nordestino expostos nessa igreja histórica da cidade, este ano a comunidade peruana reuniu seus diferentes grupos folclóricos para confeccionar representações da cena da natividade de Jesus com elementos próprios de sua tradição e cultura.

Fotos: Luciney Martins / O SÃO PAULO

Esses grupos são identificados pelas danças típicas que expressam o louvor e a devoção popular à Virgem do Carmo de Pisac, padroeira dos peruanos da região de Cusco, no sul do Peru.

Ao todo, são oito presépios que apresentam o Menino Jesus vestindo os trajes típicos de cada dança e os personagens já conhecidos da cena da natividade. Também foram inseridos personagens tradicionais da região, elementos da agricultura, do comércio, arqueologia, fauna, flora, paisagens naturais e os elementos próprios de cada dança: Ccapac Chunchacha, Ccapac chuncho, Terala, Kcoyacha, Negrilas, Mestiço Qoyacha, China Saqra e Kcolas de Pisac.

SÍMBOLOS

Luciney Martins / O SÃO PAULO

Em alguns presépios, há a representação de animais comuns na região, como lhamas, alpacas e vicunhas, ou plantas nativas. Também são representadas as ruínas das cidades de Pisac, monumentos históricos e uma réplica do Vale Sagrado dos Incas, um dos cartões-postais da região dos Andes peruanos.

A cidade de Cusco está situada a 3,4 mil metros acima do nível do mar. Era a capital do Tahuantinsuyu, ou Império Inca e, atualmente, é considerada a Capital Arqueológica da América e Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Muitas peças dos presépios são produtos do artesanato local, principal atividade econômica dessa região do Peru. Há, inclusive, uma representação do Santuranticuy, a feira natalina realizada todos os anos na véspera de Natal na praça principal da cidade de Cusco, onde são expostos os trabalhos de artesãos de toda a região.

COMUNIDADE

Luciney Martins / O SÃO PAULO

A comunidade peruana foi acolhida na Paróquia Bom Jesus em 2014. “No começo, éramos algumas famílias que se reuniam para celebrar a festa da Virgem do Carmo de Pisac. Aos poucos, fomos crescendo e, atualmente, entre membros e seus familiares, envolvemos mais de mil pessoas”, explicou Bernardo Baca, presidente da Irmandade Devotos da Virgem do Carmo Residentes em São Paulo, organização que agrega os grupos das danças folclóricas peruanas.

Todos os meses, no sábado próximo ao dia 16, é celebrada uma missa em espanhol com cantos em quéchua, idioma indígena local, seguida da apresentação de uma das danças típicas. No mês de julho, na festa da Virgem do Carmo de Pisac, há uma série de comemorações tradicionais.

A iniciativa de fazer a exposição partiu dos membros da comunidade, incentivados pelo Pároco, Monsenhor Sergio Tani. “Nós percebemos o quanto os peruanos se sentiram felizes em poder compartilhar um pouco da sua cultura conosco, e isso nos deixou felizes também”, ressaltou o Sacerdote, acrescentando que experiências como essa ajudam a integrar os imigrantes ainda mais na comunidade.

“Agradecemos ao Monsenhor Sergio Tani e a todos os paroquianos a acolhida e incentivo para que mantenhamos nossa cultura e identidade vivas”, ressaltou Bernardo Baca.

RAÍZES DE UM POVO

Luciney Martins / O SÃO PAULO

Para o professor Osvaldo Castañeda, peruano que vive no Brasil há 40 anos, a exposição dos presépios, além de recordar às pessoas o sentido cristão do Natal, mantém viva a cultura peruana entre os imigrantes e ajuda a transmiti-la a seus descendentes.

“Hoje, cerca de 90% das crianças e adolescentes de nossa comunidade nasceram no Brasil. Por isso, as danças, os presépios e a devoção à Virgem do Carmo ajudam a transmitir nossa identidade às novas gerações”, disse Castañeda, enfatizando que se um povo se esquece de suas origens, aos poucos, deixa de existir.

No Brasil há 18 anos, Patrícia Loiza nunca mais festejou o Natal em sua pátria. Por isso, vivenciar essa tradição na Paróquia é uma forma de matar a saudade de suas origens. Ela enfatizou, ainda, que essa tradição natalina é tão forte na região de Cusco que, desde cedo, as crianças aprendem que o centro do Natal é o Menino Jesus vestido com trajes típicos e levado em procissão pelas ruas enfeitadas com brinquedos, que depois são distribuídos às crianças.

Além dos presépios, a comunidade peruana promove cantatas com os tradicionais villancicos ou cânticos natalinos entoados pelas crianças. A Paróquia Bom Jesus está localizada na Avenida Rangel Pestana, 1.421, no Brás.

Luciney Martins / O SÃO PAULO
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