O alerta do Fevereiro Laranja para o câncer que mais acomete crianças e adolescentes

Além de incentivar o diagnóstico precoce da leucemia, campanha motiva que mais pessoas sejam doadoras de medula óssea

Crédito: Freepik

O segundo mês do ano é marcado pela campanha Fevereiro Laranja, que busca conscientizar a população sobre a leucemia e a procura pelo diagnóstico precoce, além de incentivar a doação de medula óssea, que para alguns casos é a opção de tratamento.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2021 quase 6 mil homens e 5 mil mulheres serão diagnosticados com leucemia no Brasil, e entre crianças e adolescentes, o número pode chegar a 8 mil novos casos. Só em 2017, foram 4.795 óbitos decorrentes da doença no Brasil.

O movimento Fevereiro Laranja tem abrangência nacional. No estado de São Paulo, a campanha foi instituída em 2019, com a Lei 17.207. Recentemente, a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) lançou a campanha “A leucemia parece invisível. Mas seus sintomas são perceptíveis”.

Em Goiás, em unidades da Secretaria da Saúde, ações de conscientização sobre o Fevereiro Laranja foram realizadas no início do mês, e em Santa Catarina, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren/SC) publicou em seu site, no final de janeiro, informações sobre os sintomas e o tratamento da leucemia.

A DOENÇA

A leucemia é uma doença maligna que atinge os glóbulos brancos do sangue, acumulando células doentes na medula óssea e comprometendo o sistema de defesa do organismo.

“O que acontece é a substituição [das células sanguíneas normais] por células doentes, que vão crescendo desordenadamente. Assim, a pessoa deixa de fabricar glóbulos vermelhos e plaquetas”, explica o médico oncologista pediatra Sidnei Epelman, presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca).

Na medula óssea, que ocupa o interior dos ossos, são produzidas as células sanguíneas e são elas que dão origem aos glóbulos brancos (leucócitos), aos glóbulos vermelhos (hemácias) e às plaquetas, que compõem o sistema de coagulação do sangue.

A leucemia pode afetar pessoas de qualquer idade, mas ocorre com mais frequência em adultos com mais de 55 anos, além de ser o câncer infantojuvenil mais comum.

Segundo o INCA, existem mais de 12 tipos de leucemia. As quatro principais são: leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC), leucemia linfocítica aguda (LLA) e leucemia linfocítica crônica (LLC).

A classificação das leucemias, como aguda e crônica, ocorre de acordo com a evolução e o tipo de defeito dos glóbulos brancos. Em crianças, as leucemias agudas são as mais comuns.

Embora as causas ainda sejam desconhecidas, alguns fatores de risco têm sido associados à doença, como o tabagismo, a exposição à radiação ionizante (raios X e gama) e a produtos químicos diversos (benzeno, formaldeído, entre outros), além de anomalias cromossômicas (fatores genéticos), como síndrome de Down e outras doenças hereditárias.

SINTOMAS

Os sintomas dependem da intensidade da doença e estão relacionados à falência da medula óssea, sendo os principais: anemia, fraqueza, fadiga, sangramentos nasal e gengival, manchas roxas e vermelhas na pele, gânglios inchados, febre, sudorese noturna, infecções e dores nos ossos e nas articulações.

A médica hematologista Danielli Cristina Muniz de Oliveira, coordenadora técnica do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), alerta que as manifestações da doença são “muito inespecíficas”, mas que precisam ser diagnosticadas o quanto antes. “A leucemia é uma doença que pode ser muito agressiva. Assim, se a pessoa adia o diagnóstico e o início do tratamento, isso pode prejudicar o resultado”, enfatiza.

O exame de hemograma é o que pode indicar a suspeita de leucemia. A partir dele, são realizados outros específicos para obter a confirmação do diagnóstico.

TRATAMENTO

De acordo com o oncologista Epelman, o tratamento para a leucemia é a quimioterapia. “Hoje temos condição de saber os subtipos [da doença], com base em todos os fatores.

Conhecemos os fatores prognósticos que mostram se a leucemia é de altíssimo, médio ou baixo risco, e assim, sabemos se trataremos com quimioterapia mais ou menos intensa”, pontuou o presidente da Tucca, associação que em 23 anos já ofereceu, em parceria com o Hospital Santa Marcelina, tratamento multidisciplinar para 4,1 mil crianças com diferentes tipos de câncer.

Além da quimioterapia, o paciente com leucemia pode ser submetido à radioterapia e ao transplante de medula óssea, apenas para casos de altíssimo risco ou que não haja resposta com a quimioterapia.

“A leucemia é uma doença curável e sem transplante”, enfatizou a coordenadora do Redome. “O transplante está indicado para um subgrupo de pacientes, mas nem todos precisarão dele. E daqueles que precisam, a maioria acaba não tendo doador idêntico na família, por isso dependem dos registros”, complementou.

ATUAÇÃO DO REDOME

Criado em São Paulo em 1993, o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea pertence ao Ministério da Saúde e, desde 1998, está sob a coordenação técnica do INCA.

Com mais de 5 milhões de doadores cadastrados, o Redome é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo. Ao se cadastrar, o doador passa a integrar uma rede internacional que hoje conta com 38 milhões de voluntários.

“Como trabalhamos com essa integração internacional, quando um paciente no Brasil não tem um doador no Redome, automaticamente fazemos a busca em bancos de cadastros internacionais”, esclarece Danielli Oliveira. Do mesmo modo, bancos estrangeiros buscam doadores compatíveis no órgão brasileiro.

Ao se cadastrar, o doador fornece os dados pessoais e uma amostra de sangue para testes de identificação de características genéticas que vão ser cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade. É fundamental que o voluntário mantenha seu cadastro sempre atualizado. Se for compatível com algum paciente, o doador será consultado para decidir quanto à doação, e, ao aceitar, passará pelos devidos procedimentos.

Antes era feita uma operação casada: a coleta da medula óssea era agendada e o paciente a recebia em até três dias. Com a atual pandemia, a medula óssea passou a ser congelada e o tempo para ser transplantada ao paciente pode chegar até pouco mais de uma semana.

COMO SE TORNAR DOADOR

Para se tornar doador, é necessário ser maior de 18 anos e realizar um cadastro no Redome nos hemocentros públicos em cada estado.

Os endereços dos hemocentros estão disponíveis no site http://redome.inca.gov.br.

Sobre ser um doador, o presidente da Tucca sintetizou. “É como na doação de sangue. Você tem que querer fazer, achar o tempo e ir. Você tem quem pensar no outro pra fazer isso”.

”Quem doa medula é porque acredita no futuro, eu trabalho com isso. Os doadores estão dando futuro para os pacientes”, finalizou a coordenadora do Redome.

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