Documento lista os desafios pastorais da Igreja latino-americana e caribenha, perfil dos participantes e repercussões do evento realizado em novembro de 2021
O Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) divulgou o relatório resumido que a presidência do organismo apresentou ao Papa Francisco na audiência realizada no sábado, 19, no Vaticano, referente à 1a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que ocorreu entre 21 e 28 de novembro do ano passado.
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No documento, estruturado em um texto de abertura e infográficos, há detalhes sobre o perfil dos participantes – sexo, idade, religião e eclesialidade (quantidade de bispos, padres, religiosos e leigos) – os textos de referência utilizados ao longo da Assembleia Eclesial, os desafios pastorais elencados, repercussões da cobertura de mídia – foram mais de 500 publicações em diferentes veículos -, a avaliação dos participantes e o cronograma de ações para 2022.
APRESENTAÇÃO
De acordo com o texto de introdução do relatório, assinado pelos membros da presidência do Celam, a 1a Assembleia Eclesial permitiu “reconhecer a presença do Espírito do Senhor neste tempo de Kairós e de renovação em chave sinodal, por meio de uma grande participação do povo de Deus”.
Os prelados também reafirmam seu compromisso de “animar a esperança, vislumbrando no horizonte o Jubileu Guadalupano em 2031 e o Jubileu da Redenção em 2033” e do compromisso do Celam com a Igreja sinodal: “Fiéis a nossa vocação de comunhão, reflexão, colaboração e serviço, reafirmamos nosso desejo de impulsionar uma Igreja em saída sinodal e reavivar o espírito da V Conferência Geral do Episcopado, que em Aparecida 2007, nos convocou a ser discípulos missionários”.
Em relação à Assembleia Eclesial, os prelados asseguram que “a metodologia pastoral, os conteúdos abordados, os momentos de espiritualidade e celebração litúrgica, e os espaços de escuta, diálogo e discernimento comunitário, nos encorajam a continuar apostando em uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.
Lembram, ainda, que o documento apresenta alguns elementos que detalham a experiência e o alcance da 1a Assembleia Eclesial e os processos que delam emanam para que a Igreja no continente seja “expressão do ‘transbordamento’ do amor criativo do Espírito e do nosso compromisso com uma autêntica conversão pastoral, pois ‘a Igreja necessita de uma forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do continente’ (DAp 362)”.
PERFIL DOS PARTICIPANTES
Participaram da Assembleia Eclesial, entre 21 e 28 de novembro, 1.104 pessoas, a maioria, 1.021 (92%) de modo virtual, e 83 (8%) presencialmente na Cidade do México.
Foram ao todo 68% de homens e 32% de mulheres. A maioria dos participantes, 32,6%, tinha entre 50 e 60 anos. Os leigos e leigas também tiveram a maior representação entre os membros da Assembleia, 39% do total.
Em relação ao local de origem, houve predomínio dos provenientes do Cone Sul – o que inclui os representantes brasileiros – 46% do total (512 pessoas), seguido por pessoas da região andina, 26% (287) e do México e América Central, 18% (202).
DESAFIOS PASTORAIS EM NÚCLEOS TEMÁTICOS
A fim de facilitar a visualização sobre os 41 desafios pastorais listados pelos participantes ao final da Assembleia Eclesial, o relatório resumido os apresenta em sete núcleos temáticos:
1 Jesus Cristo, Palavra, Igreja
O ponto de partida é sempre o encontro com Jesus Cristo (cf. DAp 14). Sua palavra e seu magistério nos ensina que somos chamados pelo Batismo a formar parte da Igreja povo de Deus. Com insistência se reivindicou banir o clericalismo e nos comprometemos à conversão sinodal. Se assinalou a necessidade de acompanhar as vítimas de abuso sexual e de poder na sociedade e na Igreja. É importante erradicar as estruturas pastorais caducas. Acolhendo o que se afirma no Documento de Aparecida e na Evangelii gaudium se propõe promover a piedade popular, assim como as Comunidades Eclesiais de Base.
2 Jovens, mulheres, leigos e leigas
Se destacou a necessidade reconhecer e dar lugar aos jovens como agentes de mudança eclesial e social. Sobre a mulher, se exortou a que se reconheça seu lugar na sociedade. Por sua vez, foi apontada a necessidade do acesso aos ministérios e espaços eclesiais de decisão, o que também se aplica para os leigos em geral. Para a evangelização, se propôs desenvolver a pastoral urbana e o uso das novas tecnologias para a missão; assim como anunciar e viver a fé em novos areópagos.
3 Famílias e fragilidades
A partir de uma renovada pastoral familiar, foi enfatizado que se deve aceitar e acompanhar os diversos modos de vínculo familiar, assim como o lugar da família na sociedade. Comprometemo-nos com o cuidado da vida desde a concepção até a morte natural, acompanhando cada etapa e dimensão da existência. Algumas famílias necessitam de um acompanhamento especial quando um de seus membros está preso, com alguma doença mental ou outra fragilidade.
4 Clamor dos Pobres
É urgente escutar os gritos da injustiça e dos abusos que clamam ao céu. Compromisso e proximidade com os migrantes e refugiados. Acompanhar aos movimentos populares nas buscas de terra, teto e trabalho.
5 Clamor da Terra
Grande presença teve a preocupação sobre o cuidado com a casa comum e o pedido de conversão ecológica como exposto na Laudato si’ e na Querida Amazonia. Trabalhar por um modelo econômico solidário e sustentável. Insistir na dimensão social da fé também nos seminários.
6 Povos Originários, afrodescendentes, interculturalidade e diversidades
Neste grupo de desafio, centrou-se o olhar nos povos originários e afrodescendentes, reconhecendo a diversidade cultural e religiosa. Como já mencionado em Aparecida, é necessário analisar as diversas propostas religiosas que estão surgindo no continente.
7 Violência, democracia, corrupção e impunidade.
A Assembleia chamou a atenção sobre a espiral de violência social e familiar, na qual as mulheres são quem mais sofrem maus-tratos verbais e físicos, e a morte. Corrupção e impunidade fazem com que o Estado e a Justiça estejam ausentes e se favoreça o desenvolvimento do crime organizado e das máfias do narcotráfico, das armas e o tráfico humano. É necessário acolher com ternura as vítimas. Se compartilhou a preocupação em fortalecer a democracia e trabalhar pela integração latino-americana. Compromisso com os direitos humanos e a paz.
AVALIAÇÃO POSITIVA
O relatório também sintetiza algumas avaliações feitas com os participantes da 1a Assembleia Eclesial.
Cerca de 76% afirmaram se sentir muito ou completamente representados nas conclusões da Assembleia. Além disso, de um total de 153 participantes consultados, 44% avaliaram positivamente os métodos e o conteúdo apresentado ao longo da atividade.
Em um grupo de 301 entrevistados, 129 avaliaram que a assembleia permitiu uma experiência de sinodalidade, unidade e integração; e 56 mencionaram que proporcionou reafirmar um compromisso pessoal.
PRÓXIMAS ETAPAS
A presidência do Celam também apresentou ao Santo Padre o itinerário previsto para este ano, por meio do qual se buscará animar diversos espaços relacionados com o processo de renovação e reestruturação, bem como da relação da Assembleia Eclesial com o Sínodo universal sobre a sinodalidade.
Entre os eventos se prevê um seminário sobre os horizontes da missão do Celam, assim como diversos encontros por regiões com os bispos das 22 conferências episcopais da América Latina e do Caribe. Haverá ainda uma reunião com os secretários das conferências episcopais e, em julho, a Assembleia Extraordinária do Celam, ocasião em que também será inaugurada a nova sede do organismo, em Bogotá, na Colômbia, culminando na conclusão da fase continental do Sínodo sobre a sinodalidade.
Assinam o relatório os membros da presidência do Celam: Dom Miguel Cabrejos Vidarte, OFM, Arcebispo de Trujilo (Peru), Presidente; Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, 1o Vice-Presidente; Cardeal Leopoldo José Brenes, Arcebispo de Managua (Nicarágua), 2o Vice-Presidente; Dom Rogelio Cabrera López, Arcebispo de Monterrey (México), Presidente do Conselho de Assuntos Econômicos; e Dom Jorge Eduardo Lozano, Arcebispo de San Juan de Cuyo (Argentina), Secretário-Geral.