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Colômbia: bispo faz novo apelo ao diálogo após um mês de conflitos

Manifestações começaram em 28 de abril, em oposição ao anúncio de uma reforma tributária. Ao menos 60 pessoas morreram e 120 continuam desaparecidas

Grupo de manifestantes contra o governo colombiano (imagem extraída a partir de vídeo da Comissão Intereclesial de Justiça e Paz)

A Colômbia completa na sexta-feira, 28, um mês com manifestações diárias e conflitos entre civis e destes contra as forças de segurança do país que já resultaram na morte de, ao menos, 60 pessoas, de acordo com o Instituto de Desenvolvimento da Paz (Indepaz), e em 120 desaparecidos, conforme dados da Comissão Intereclesial de Justiça e Paz.

Uma greve nacional foi deflagrada naquela data após o governo do presidente Iván Duque apresentar uma proposta de reforma tributária que levaria à maior tributação das pessoas físicas – direta ou indiretamente, como pelo aumento de impostos em itens de alimentação – e à redução de tributos que decorrem sobre as pessoas jurídicas (empresas e outras instituições).

Após os primeiros protestos, a reforma tributária foi retirada da pauta, mas as manifestações prosseguiram, lideradas pelas centrais sindicais, movimentos estudantis e membros do movimento indígenas, contrários a outras reformas que o governo federal deseja realizar, como nos serviços de assistência à Saúde.

Nos últimos 30 dias, conflitos têm ocorrido diariamente, com acusações de parte a parte: os manifestantes afirmam que as forças de segurança têm agido com força desproporcional. Já o Governo garante que as ações são em resposta aos atos de vandalismo e de incitação da violência.

Estímulo ao diálogo

Desde o início dos conflitos, a Igreja na Colômbia, por meio da conferência episcopal e das dioceses, tem exortado que as partes dialoguem.

Dom José Roberto Ospina Leongómez (foto: Diocese de Buga)

Uma das vozes que ressoaram pela paz nesta semana foi a de Dom José Roberto Ospina Leongómez, Bispo de Buga e Administrador Apostólico de Cartago, que se manifestou, em carta, após o crescimento das tensões sociais nas cidades de Cartago, Buga e Tuluá.

“Quero expressar a todos que vos acompanho com toda a alma e que compartilho, no mais íntimo do meu ser, do sofrimento ao qual têm sido vítimas pelos excessos que foram cometidos. E repudio qualquer forma de violência ou atropelo da dignidade humana e do direito de viver dignamente, venha de onde vier”, afirmou o Bispo.

Além de pedir que sejam ampliadas as vias de diálogo, Dom José Roberto convidou que todos pensem nas reais motivações do atual conflito: “É bom perguntarmos se esta situação não é reveladora do fracasso social que temos cultivado como país, uma sociedade que há muito perdeu o norte moral; uma população que crê resolver seus problemas sem Deus”.

Manifestação na cidade de Cali

O Prelado também pediu aos sacerdotes que se mantenham perseverantes na prática da oração e no apelo pelo paz. “Convido-lhes a ser pontes de diálogo, de aproximação entre todos para ouvi-los, entender as reclamações, buscar saídas, a fim de que todos possamos nos sentir parte da solução e não coloquemos mais fogo para a intolerância e a discriminação”.

Às pessoas de boa vontade, o Bispo também pediu que, independentemente da forma como pensem a realidade do país, que possam apresentar suas ideias, mas que saibam escutar a dos outros, com vistas a construção de uma sociedade melhor. “‘Jesus nos ensinou: faça o bem a quem te faz mal, ora por teu inimigo’ … Todos somos colombianos, somos uma pátria, todos somos irmãos”, escreveu na conclusão da carta.

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