Em coletiva de imprensa em Roma, pessoas que vivem e atuam em solidariedade a este país africano falaram de como o povo congolês tem sofrido com as recorrentes explorações de seu território. O Papa Francisco inicia visita ao Congo na terça-feira, 31 de janeiro
“A guerra na República Democrática do Congo é como uma árvore que esconde um bosque”. A afirmação foi feita em uma coletiva de imprensa, em 25 de janeiro, em Roma, por Pierre Kabeza, um antigo sindicalista defensor dos direitos das crianças congolesas e ex-presidente da associação juvenil da região de Kivu do Sul, no leste do país.
Na ocasião, Kabeza falava sobrea guerra civil que há 30 anos ocorre no leste da RD Congo, país que a partir da terça-feira, 31 de janeiro, receberá o Papa Francisco em viagem apostólica.
“As raízes de uma árvore não se veem. As raízes são as grandes potências do mundo, junto com suas multinacionais. O troco da árvore são os países vizinhos da República Democrática do Congo (Ruanda e Uganda), que recebem ajuda de grandes potências e, por último, os galhos são os diversos grupos guerrilheiros que operam no território congolês. A seiva que nutre a árvore são os interesses econômicos”.
Exatamente para sensibilizar a opinião pública sobre a guerra nas províncias congolesas de Kivu do Norte, Kivu do Sul e Ituri, e no contexto da vista do Papa ao país, 107 associações, comitês e grupos da sociedade civil italiana, muitos deles presentes naquela nação africana, enviaram uma carta ao Papa, pedindo para que dê voz ao clamor do povo congolês e torne mais conhecido o que sofrem, denunciando, ao mesmo tempo, as “causas estruturais” e as responsabilidades políticas e econômicas do Ocidente, que se apropria impunemente dos recursos naturais, dos mercados e dos recursos humanos daquele país.
Entre as causas estruturais estão os enormes recursos naturais da região, em particular o coltan e o cobalto (mas, também, várias das chamadas ‘terras raras’), minerais cada vez mais estratégicos diante da chamada “transição energética”, apresentada como um avanço ecológico.
“Estes minerais fazem do meu país natal um paraíso, mas, enquanto isso, as populações vivem um verdadeiro inferno”, declarou John Mpaliza, ativista ítalo-congolês de direitos humanos. Ele recorda como a República Democrática do Congo é “um país estratégico para o mundo”, não só por recursos minerais, mas, também, “por sua posição geográfica no centro da África, e porque possui a segunda maior floresta tropical, o ‘pulmão verde’ do planeta”.
A esperança vem dos jovens que anima uma sociedade civil muito ativa representada por associações como a Lucha, que na coletiva de imprensa foi representada por Micheline Mwendike: “Queremos dizer-lhes que há quem lute a cada dia por eleições livres, carreiras, salários e seguridade”. E prosseguiu: “Temos a impressão de que o mundo prefere deixar-nos no caos, porque é a única maneira de que obtenham minerais a custo zero. Não nos pagam pelo CO2 que a floresta equatorial congolesa absorve. Porém, apesar deles, lutamos para melhorar a situação”.
“As novas gerações africanas tem se dado conta dessa situação. Espero que os jovens africanos e europeus se unam para ajudar na mudança”, comentou John Mpaliza.
O Padre Giovanni Piumatti, missionário fidei donum, há mais de 50 anos na Diocese de Pinerolo, em Kivu, recordou o drama dos meninos soldados recrutados por diferentes grupos guerrilheiros (ao menos cem) e sublinhou: “Nos últimos anos, temos centenas de garotos que querem deixar as armas, mas não há estrutura alguma capaz de acolhê-los e reintegrá-los à sociedade”.
Fonte: Agência Fides
(Tradução ao O SÃO PAULO: Daniel Gomes)