Dom Martinelli: a fraternidade humana, um ato profético que convida à paz em todos os lugares

Algumas semanas antes do início da sua missão como vigário apostólico da Arábia do Sul, a entrevista de dom Paolo Martinelli ao Vatican News: vou trabalhar numa realidade eclesial intercultural, e o documento assinado em Abu Dhabi será um dos critérios para viver a vida de fé em harmonia.

Vatican Media

Ele nasceu num contexto específico para dar um novo horizonte à relação entre cristianismo e islamismo, mas afirma um valor universal que hoje também pode favorecer de forma crucial a paz na Europa, interrompida pela guerra. A ênfase, que também é um desejo, chega através do novo vigário apostólico da Arábia do Sul, dom Paolo Martinelli, o bispo que deixou o ministério como vigário episcopal na arquidiocese de Milão no início deste mês para gradualmente mergulhar na nova realidade.

E qual tem sido a sua abordagem para a parte da Igreja e das relações inter-religiosas que o Papa lhe confiou?

“Eu tentei me aprofundar ainda mais do que esta tarefa significa. E agora houve mais algumas oportunidades para ouvir também o meu antecessor, dom Paul Hinder, e os outros membros da Casa dos Bispos de Abu Dhabi. Tentamos procurar ter uma visão da situação neste Vicariato Apostólico. Entendo que é uma realidade muito complexa, muito variada, mas também me parece muito promissora, muito bonita e significativa para a Igreja de hoje. Uma Igreja composta inteiramente de fiéis migrantes que estão ali para trabalhar, e nós, como realidade eclesial, devemos servi-los, sua fé, seu estar ali, seu habitar aquele território, certamente não um território fácil, mas que dá uma chance de trabalhar. Por outro lado, há o confronto diário com a realidade do Islã. Não só é uma Igreja composta por fiéis que vêm de tantos países, de culturas diferentes, mas até mesmo os próprios padres são provenientes de muitos países diferentes. A outra realidade a considerar é ali está o lugar onde o Papa Francisco assinou o Documento de Abu Dhabi três anos atrás junto com o Grão Imame de Al-Azhar. Portanto, acho que também temos um pouco de tarefa para preservar a memória deste ato profético que realizaram, cuja importância certamente é ainda maior agora do que era há três anos.”

É compreensível que ainda seja cedo, dada a sua recente nomeação, mas o Documento sobre a Fraternidade Humana de alguma forma já direcionou o seu ministério?

“Eu viajarei para Abu Dhabi no final de junho, onde haverá uma missa para iniciar meu ministério. Depois haverá também um encontro com as autoridades civis, portanto certamente haverá uma oportunidade de entrar em contato mais direto com eles. Parece-me que a comunidade cristã já está tentando tomar o evento do Documento sobre a Fraternidade Humana como um critério importante para viver a própria fé, as relações dentro daquele contexto social. Da minha parte, considero esse um tema particularmente significativo hoje, não apenas para aquela terra, mas parece-me que este evento que ocorreu ali tenha algo a dizer ao mundo inteiro neste momento.”

A Europa está lidando com uma guerra que tem perturbado todos os arranjos geopolíticos do continente. Qual é a sua percepção sobre isso na área onde o senhor foi chamado para servir?

“Parece-me que a história daqueles países (árabes), as boas relações que estão sendo estabelecidas nos últimos anos, nos dizem, diante de um acontecimento tão dramático e perturbador, a importância da mensagem que o Papa está dando tanto em relação à guerra, quanto, sobretudo, na promoção das relações de fraternidade. Este é um tema inevitável, devemos tê-lo em mente e é o que precisamos para enfrentar e sair de uma crise internacional de proporções tão devastadoras. Se realmente não assumirmos um espírito de fraternidade, se não o tornarmos uma mensagem difundida na cultura, penso que estamos realmente caminhando para uma situação cada vez mais complexa da qual será muito difícil nos erguermos.”

Quase poderíamos dizer uma mensagem para “exportar”, como se a terra onde nasceu o Documento sobre a Fraternidade Humana pudesse enviar uma mensagem para outra terra onde neste momento a fraternidade foi totalmente destruída…

“Exatamente. É interessante que tenha nascido naquele contexto, assim, na relação entre cristianismo e islamismo, mas precisamente afirmou algo que é importante para cada homem e mulher de nosso tempo.”

O seu ministério como vigário apostólico da Arábia do Sul está para começar nestas semanas. Como metas a curto e médio prazo, o senhor tem algum ponto em particular que acredita que deve ser desenvolvido em sua missão?

“Tentando estudar um pouco as atividades que são realizadas pelo Vicariato Apostólico, certamente existe esta rede paroquial que permite responder a uma grande necessidade que nossos fiéis têm. E isso certamente é algo que deve ser consolidado, levado adiante, onde o território o permita, serenamente. Certamente minha mente, meu coração, desde o início, foi muito para a realidade do Iêmen, que faz parte do Vicariato e que, neste momento e durante anos, vem experimentando uma situação de conflito muito forte. Penso nas Irmãs de Madre Teresa que sofreram a perda de quatro de suas irmãs, justamente porque não queriam sair daquele lugar, apesar das ameaças, porque sentiam o dever da fé, da vocação de cuidar dos deficientes a elas confiados. Depois há outra coisa que me impressiona e que acho interessante desenvolver: encontrei a presença de muitas escolas promovidas pelo Vicariato também com a colaboração de alguns institutos religiosos. Isso me parece algo tradicional no Oriente Médio: lugares escolares como ponto de encontro intercultural e até inter-religioso, já que muitos dos que frequentam essas escolas são muçulmanos. Parece-me algo que merece ser desenvolvido: o lugar onde se aprende a ter relações positivas com pessoas que trazem diferenças culturais e religiosas, que podem construir uma vida boa para todos.”

Fonte: Vatican News

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