O aborto nas eleições norte-americanas

Chapa Democrata, formada por Biden-Harris, tem adotado uma radical posição favorável ao aborto, que encontra resistências dentro do próprio partido

Em novembro de 2020, os americanos elegerão o presidente dos Estados Unidos para os próximos quatro anos. A cada eleição, a diferente posição dos dois grandes partidos, Democrata e Republicano, a respeito do aborto tem se tornado mais manifesta. Além de ser uma questão em si importante, ela costuma revelar o que os candidatos pensam sobre vários outros temas. Por isso, a medida que as diferenças têm crescido, a questão tem recebido maior atenção.

Há algumas décadas, o partido Democrata tem se posicionado com clareza em favor do aborto. Todavia, não havia manifestado sua posição de modo tão radical e explícito como nestas eleições presidenciais. O programa do partido deste ano propõe “opor-se e tentar derrubar as leis e políticas federais e estatais que impeçam o acesso da mulher ao aborto, incluindo a rejeição da Emenda Hyde”.

A Emenda Hyde, proposta em 1976 pelo republicano Henry Hyde e, então, aprovada amplamente por membros de ambos os partidos, proíbe o destino de fundos públicos ao financiamento do aborto, salvo em alguns casos. Sua aplicação, porém, tem variado segundo o partido que tem a maioria no Congresso e/ou que ocupa a Casa Branca.

Além disso, a aposta democrata para estas eleições, composta por Joe Biden para presidente e Kamala Harris para vice, forma “a chapa presidencial mais pró-aborto da história dos Estados Unidos”, segundo Marjorie Dannenfelser, presidente da Lista Susan B. Anthony, organização pró-vida que monitora os posicionamentos dos políticos no que toca os direitos dos não nascidos.

Joe Biden, quando foi candidato com Barack Obama em 2008 e 2012, não se manifestou a favor de abortos tardios. O mesmo fez Tim Kaine, candidato com Hillary Clinton nas eleições de 2016. Neste ano, porém, a chapa Biden e Harris defende abertamente o aborto de bebês até nove meses. É certo que o aborto deliberado é sempre um assassinato, mas não deixa de ser mais chocante o fato que alguém o defenda quando o bebê, já gestado, está prestes a deixar o ventre materno.

O Arcebispo de Nova Iorque, Cardeal Timothy Dolan confirmou, recentemente ter aceito o convite do partido Republicano para fazer uma oração no início da Convenção que ocorrerá entre os dias 24 e 27 de agosto, na qual Donald Trump e Mike Pence serão oficialmente confirmados como os candidatos republicanos para a eleição presidencial.

“Enquanto padre, uma das minhas mais sagradas obrigações é tentar e responder positivamente sempre que sou convidado a rezar”, disse o Cardeal em pronunciamento, na terça-feira, dia 18. “É por isso que eu aceitei o convite para rezar na Convenção Nacional Republicana”, continuou. “Minha aceitação por rezar não constitui um apoio a nenhum candidato, partido ou plataforma. Tivesse eu sido convidado para rezar na Convenção Nacional Democrata, teria aceito com alegria, como fiz em 2012”.

Naquela ocasião, durante a Convenção Democrata, o então presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos rezou pelos não-nascidos. “Que eles sejam bem-vindos e protegidos”, dissera o Cardeal. Neste ano, ele não foi convidado pelos Democratas – o Partido convidou outras figuras religiosas.

O Cardeal também disse esperar que nesse momento tumultuoso da história norte-americana, pessoas religiosas e não religiosas “possam se unir na procura da paz e reconciliação em nossos corações, nas nossas cidades e no nosso país”.

Repercussões

A posição mais radical do que o habitual adotada pela chapa Biden-Harris neste ano provocou uma reação contrária de alguns membros democratas. Mais de 100 políticos do Partido com posições pró-vida assinaram uma carta ao Comitê responsável pelo programa eleitoral, elaborado a cada quatro anos, pedindo que levem em consideração suas posições.

A carta diz: “os democratas pró-vida nos Estados Unidos foram uma parte fundamental da coalizão para ampliar o direito ao voto, melhorar o sistema de saúde e aprovar a reforma da justiça criminal”, e “nada disso seria possível se o Partido Democrata tivesse o aborto como pedra de toque”.

A carta diz que a atual posição do Partido transmite a seus eleitores a mensagem que ninguém pode pertencer a essa organização a não ser que se oponha a qualquer limite ao aborto. Segundo seus autores, um terço dos eleitores democratas é pró-vida e o Partido, que atribui a si mesmo a qualidade de inclusivo e aberto à diversidade, não pode ignorá-los.

No entanto, a posição democrata é clara, na prática e, agora mais ainda, oficialmente. Para isso, basta considerar os nomes selecionados para intervir na Convenção do Partido deste ano: são radicais pró-aborto, por exemplo Michelle Obama, Bernie Sanders e Andrew Cuomo (governador de Nova Iorque que, em 2019, passou uma lei autorizando o aborto até o momento imediatamente anterior ao parto).

Outro nome é Alexandria-Cortez, que há pouco acusou São Damião de Molokai, heroico apóstolo dos leprosos, de ser um representante “do patriarcado e da cultura supremacista branca”.

Donald Trump sabe disso e tem se aproveitado – como na eleição de 2016 contra Hillary Clinton – para deixar evidente sua posição contrária nesse ponto. Por isso, tem recebido o apoio de muitos que se posicionam em favor da vida. É o caso de Melissa Ohden, fundadora da Abortion Survivors Network (em português, Rede dos Sobreviventes de Aborto) e uma das mais célebres e ativas sobreviventes do aborto.

Entre outras coisas ditas em defesa do atual presidente americano, Melissa disse que, sob a administração de Trump, “as vozes dos estadunidenses pró-vida deixaram de ser silenciadas e marginalizadas: são amplificadas e respeitadas”.

Fontes: CruxNow e Religión em Libertad

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