Papa: Deus nos ajuda a retomar o caminho e passar do fracasso à esperança

Disse o Pontífice na missa que presidiu no Santuário Nacional de Santa Ana de Beaupré, na viagem apostólica ao Canadá

Fotos: Vatican Media

Diante de uma assembleia de fiéis composta por muitos indígenas, o Papa Francisco presidiu na manhã da quinta-feira, 28, a Santa Missa no Santuário Nacional de Sant’Ana de Beaupré, distante cerca de 30Km da cidade de Quebec. Na celebração eucarística também houve um rito próprio reconciliação.

O santuário é o local mais antigo de peregrinação dos cristãos na América do Norte, e recebe anualmente quase um milhão de visitantes.

O Santuário se encontra a cerca de 30 quilômetros da Cidade de Quebec, e é o mais antigo lugar de peregrinação da América do Norte. A igreja dedicada a Santa Ana, padroeira da Província de Quebec, foi construída em 1658, e teve o templo reconstruído outras vezes, como na década de 1920, após o incêndio que  o consumiu em 1922.

DO FRACASSO À ESPERANÇA

Na homilia, refletindo sobre a Evangelho segundo São Lucas, em que os dois discípulos de Emaús após a morte de Jesus encontravam-se abatidos e sem esperança, o Papa destacou que na estrada da vida cotidiana e de fé, por vezes há momentos de decepção, mas que nestas e em todas as horas, é preciso lembrar que não se está sozinho: “O Senhor vem ao nosso encontro, coloca-se ao nosso lado, caminha pela nossa própria estrada com a discrição de um amável viandante que deseja reabrir os olhos e inflamar de novo o nosso coração”, disse, exortando os fiéis a seguir esse caminho que leva do fracasso à esperança.

A experiência vivida pelos discípulos de Emaús – ressaltou o Pontífice – é a mesma sentida por quem se vê obrigado a redimensionar os próprios anseios e lidar com as ambiguidades e as obscuridades da vida, além das próprias fraquezas, derrotas e erros que fazem “desabar  aquilo  em  que  tínhamos  acreditado  ou  nos  tínhamos  empenhado”, ocasiões em que a sensação é a de se sentir “esmagados pelo nosso pecado e os sentimentos de culpa”.

O Pontífice lembrou que isso também pode ocorrer na vida da Igreja, em alguns momentos “vagar perdida e desiludida perante o escândalo do mal e a violência do Calvário. Então nada mais consegue fazer senão apertar nas mãos a sensação de fracasso e interrogar-se: Que aconteceu? Porque é que aconteceu? Como pôde acontecer?”.

Essas perguntas também as faz a Igreja no Canadá neste “árduo caminho de cura e reconciliação. Também nós, perante o escândalo do mal e o Corpo de Cristo ferido na carne dos nossos irmãos indígenas, caímos na amargura e sentimos o peso do fracasso”, enfatizou, lembrando a questão que vem à tona: “Como pôde isto acontecer na comunidade daqueles que seguem Jesus?”.

EVITAR A FUGA E ABRIR-SE A CRISTO

Francisco alertou que é preciso evitar a tentação da fuga, ou seja, fugir da verdade dos fatos ou tentar removê-los. “Não há nada pior, perante os fracassos da vida, do que fugir para não os enfrentar. É uma tentação do inimigo, que ameaça o nosso caminho espiritual e o caminho da Igreja: ele quer fazer-nos acreditar que aquele fracasso já seja definitivo, quer paralisar-nos na amargura e na tristeza, convencer-nos de que não há mais nada a fazer e, consequentemente, não vale a pena encontrar uma estrada para recomeçar”, apontou.

No entanto, prosseguiu o Pontífice, conforme revela o próprio Evangelho, são nessas situações de decepção e tristeza, diante do mal e da vergonha da culpa, que o Senhor se aproxima e caminha junto. “No caminho de Emaús, ele coloca-se discretamente ao lado deles para partilhar os passos resignados daqueles discípulos tristes. E que faz? Não oferece palavras genéricas de encorajamento, expressões de circunstância ou consolações fáceis, mas, desvendando nas Sagradas Escrituras o mistério de sua morte e ressurreição, ilumina a sua história e os acontecimentos que viveram. Assim abre os olhos deles para uma nova visão das coisas”, disse.

O ÚNICO CAMINHO

Ainda fazendo alusão aos discípulos de Emaús, o Papa destacou que o Senhor com eles esteve, partiu o pão e abriu-lhes os olhos, e, assim, “ajuda-os a retomar o caminho com alegria, recomeçar, passar do fracasso à esperança”.

“Só há uma estrada, um único caminho: é o caminho de Jesus, é o caminho que é Jesus (cf. Jo14, 6)”, enfatizou o Pontífice. “Acreditemos que Jesus vem se juntar ao nosso caminho e deixemo-nos encontrar por Ele; deixemos que seja a sua Palavra a interpretar a história que vivemos como indivíduos e como comunidades, e a indicar-nos o caminho para nos curarmos e reconciliarmos; com fé, partamos juntos o Pão Eucarístico para que, ao redor desta mesa, possamos redescobrir-nos filhos amados do Pai, chamados a ser todos irmãos”, exortou.

AS MULHERES E A RECONCILIAÇÃO

Ao recordar que a basílica onde estava é dedicada à mãe da Virgem Maria e nela há uma cripta à Imaculada Conceição, o Papa destacou que Deus quis dar evidência à mulher no plano de salvação.

“Santa Ana, a Santíssima Virgem Maria, as mulheres da manhã de Páscoa apontam-nos um novo caminho de reconciliação: a ternura materna de tantas mulheres pode acompanhar-nos – como Igreja – rumo a tempos novamente fecundos, deixando para trás tanta esterilidade e tanta morte, e no centro colocar de novo Jesus, o Crucificado Ressuscitado”.

Por fim, o Pontífice enfatizou que no centro da vida humana não devem estar as interrogações, mas, sim o Senhor Jesus: “No coração de cada coisa, coloquemos a sua Palavra, que ilumina os acontecimentos e reabre-nos os olhos para ver a presença operante do amor de Deus e a possibilidade de bem mesmo em situações aparentemente perdidas; coloquemos o Pão da Eucaristia, que Jesus ainda hoje parte para nós, para partilhar a sua vida com a nossa, abraçar as nossas fragilidades, sustentar os nossos passos cansados e conceder-nos a cura do coração. E, reconciliados com Deus, com os outros e conosco, podemos também nós tornar-nos instrumentos de reconciliação e de paz na sociedade em que vivemos”.

Ao fim da missa, Francisco foi saudado pelo Cardeal Gérald Cyprien Lacroix, Arcebispo de Québec e Primaz do Canadá. O purpurado recordou a história do santuário e a trajetória de fé do povo canadense e enalteceu a postura do Pontífice no itinerário de perdão e reconciliação com os povos indígenas do país. “Obrigado por nos acompanhar no caminho da cura e da reconciliação. Obrigado por rezar por nós, pois nós mesmos temos a certeza de acompanhá-lo, da melhor maneira possível, no caminho de sua exigente missão”.

Ainda nesta quinta-feira, no fim da tarde, o Papa Francisco presidirá a oração das Vésperas junto com os bispos, padres, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais reunidos na Catedral de Quebec. Ali o Pontífice fará uma homilia e se deterá em oração diante do túmulo de São Francisco de Laval, o primeiro bispo da cidade. A viagem do Pontífice ao Canadá será concluída no sábado, 30, com o retorno ao Vaticano.

(Com informações de Vatican Media)

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