Papa lamenta que o Mar Mediterrâneo tenha se tornado um ‘enorme cemitério’ de migrantes

No 1o dia de sua visita a Marselha, na França, Pontífice teve um momento de recolhimento e oração com líderes religiosos e representantes de associações que trabalham em prol dos migrantes.

Fotos: Vatican Media

“Diante de nós, temos o mar, fonte de vida; mas este lugar evoca a tragédia dos naufrágios, que provocam a morte. Estamos reunidos em memória daqueles que não sobreviveram, que não foram salvos. Não nos habituemos a considerar os naufrágios como meras notícias de jornal, nem os mortos no mar como números: são nomes e apelidos, são rostos e histórias, são vidas despedaçadas e sonhos desfeitos. Penso em muitos irmãos e irmãs afogados no medo, juntamente com as esperanças que traziam no coração. Perante um drama assim não servem palavras, mas fatos; e, antes ainda, serve humanidade: silêncio, pranto, compaixão e oração. Convido vocês agora a um momento de silêncio em memória destes nossos irmãos e irmãs: deixemo-nos tocar pelas suas tragédias”.

Com esta forte mensagem, o Papa deu início a um momento de recolhimento com líderes religiosos junto ao Memorial dedicado aos marinheiros e migrantes desaparecidos em Marselha, cidade francesa que recebe na sexta-feira, 22, e no sábado, 23, o Papa Francisco, em sua 44a viagem apostólica internacional.

Francisco esteve no Memorial logo após ter participado de uma oração mariana na Basílica de “Notre Dame de la Garde” – Nossa Senhora da Guarda.  Junto aos demais líderes religiosos, ele recordou as tantas pessoas que não conseguiram superar o Mediterrâneo ao fugir de conflitos, pobreza e calamidades ambientais.

“Muitas pessoas, fugindo de conflitos, pobreza e calamidades ambientais, encontram entre as ondas do Mediterrâneo a definitiva recusa à sua busca de um futuro melhor. E, assim, este mar esplêndido tornou-se um enorme cemitério, onde muitos irmãos e irmãs são privados até do direito de ter um túmulo, acabando sepultada apenas a dignidade humana. No livro-testemunho Fratellino,

o protagonista, no final da tribulada viagem que o traz da República da Guiné até à Europa, afirma: ‘Quando te sentas sobre o mar, estás numa encruzilhada. Dum lado a vida, do outro a morte. Lá não há outras saídas» (A. Arzallus Antia – I. Balde, Fratellino, Milão 2021, 107). Amigos, também diante de nós temos uma encruzilhada: de um lado, a fraternidade, que fecunda de bem a comunidade humana; do outro, a indiferença, que ensanguenta o Mediterrâneo”, enfatizou o Papa, enfatizando:

“Encontramo-nos perante uma encruzilhada de civilização. Não podemos resignar-nos a ver seres humanos tratados como mercadoria de troca, encarcerados e torturados de maneira atroz; não podemos mais assistir às tragédias dos naufrágios, devido a tráficos odiosos e ao fanatismo da indiferença. As pessoas que correm o risco de se afogar, quando são abandonadas no meio das ondas, devem ser socorridas. É um dever de humanidade, é um dever de civilização!”, comentou, em uma alusão indireta às barreiras migratórias que historicamente têm sido adotados por nações europeias, especialmente em relação a migrantes e refugiados provenientes do continente africano.

Francisco exortou ao cuidado com os mais frágeis, chamando todos para que superem “a paralisia do medo e o desinteresse”, e lembrou que na raiz do Cristianismo, do Islamismo e do Judaísmo “temos o acolhimento, o amor pelo estrangeiro em nome de Deus”.

“Nós, crentes, devemos ser modelo de acolhimento recíproco e fraterno. Muitas vezes não são fáceis as relações entre os grupos religiosos, com a traça do extremismo e a peste ideológica do fundamentalismo que corroem a vida real das comunidades”, observou.

ENTENDA O CONTEXTO DA VIAGEM APOSTÓLICA

DA FRANÇA PARA O MUNDO POR UM MOSAICO DE PAZ

Exortando, assim, sentimentos de amor ao próximo e não de ódio, o Papa buscou a referência do pluralismo religioso de Marselha para enaltecer e agradecer o opção pela via do encontro: “obrigado pelo empenho solidário e concreto de vocês na promoção humana e na integração”.

“Vocês são a Marselha do futuro. Continuem sem desanimar para que esta cidade seja um mosaico de esperança para a França, a Europa e o mundo. […] Irmãos, irmãs, enfrentemos, unidos, os problemas, não façamos naufragar a esperança, juntos componhamos um mosaico de paz!”

Ao final do Momento de Recolhimento e após as intenções de oração feitas por associações que trabalham pela causa dos migrantes, o Papa, junto a dois migrantes e aos líderes religiosos, se dirigiu ao monumento dos desaparecidos no mar e ali depositou uma coroa de flores.

ENCONTROS MEDITERRÂNEOS

No sábado, 23, acontecerá o momento central da visita do Papa Francisco a Marselha: a participação na terceira edição dos Encontro Mediterrâneos, iniciada no domingo, 17, reunindo cerca de 70 bispos católicos, representantes de outras religiões e igrejas cristãs, bem como jovens de diferentes confissões, membros de associações e movimentos dos 30 países banhados pelo Mar Mediterrâneo, que participam de mesas-redondas, encontros de reflexão, momentos de oração e de apresentações culturais nos quais compartilham alguns desafios comuns, como os impactos das mudanças climáticas em seus territórios e os números crescentes das migrações forçadas, especialmente a partir do continente africano.

A primeira edição dos Encontros Mediterrâneos ocorreu em 2020 em Bari, na Itália, organizada pela Conferência Episcopal Italiana, que voltou a promovê-los em 2022, em Florença, também na Itália.

PROGRAMAÇÃO DA VIAGEM APOSTÓLICA PARA O SÁBADO, 23
*Conforme o horário de Brasília
4h – Encontro privado com algumas pessoas em situação de necessidade econômica na Casa das Missionárias da Caridade
5h – Sessão conclusiva dos “Encontros Mediterâneos” no “Palais du Pharo”
6h30 – Encontro com o Presidente da República no “Palais du Pharo”
11h15 – Missa no Estádio “Estádio Vélodrome”
13h45 – Cerimônia de despedida no Aeroporto Internacional de Marselha 
15h50 – Chegada ao Aeroporto Internacional de Roma

Com informações de Vatican News

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários