População ucraniana conta com a caridade cristã em meio à guerra

Caritas Ukraine

Bombas, toque de recolher, mortes e sensação permanente de insegurança. Há uma semana, desde o início da invasão da Ucrânia pelas tropas militares da Rússia, a população local convive com essa realidade. Ao menos 836 mil pessoas, segundo dados do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), já haviam deixado o território ucraniano até a manhã da quarta-feira, 2, número que, segundo a própria ONU, pode chegar a 4 milhões de refugiados de guerra nas próximas semanas.

Para os que ficam ou para os que partiram para países vizinhos, como a Polônia e a Hungria, por exemplo, a Igreja ‘estende a mão’, garantindo-lhes abrigo, alimentação e a proximidade pastoral diante das feridas, visíveis e invisíveis, decorrentes da guerra, que já vitimou militares e civis.

PROXIMIDADE

Em recente entrevista ao Vatican News, Dom Visvaldas Kulbokas, Núncio Apostólico na Ucrânia, relatou o clima de tensão na capital do país, Kiev. “A cidade está completamente paralisada pela ação de guerra. Além dos mísseis que passam e das pessoas que se escondem o melhor que podem nos porões e estações de metrô, a pergunta que me vem à cabeça é: o que os doentes estão fazendo?”, relatou o Prelado, revelando preocupação

também com os traumas que a guerra trará às crianças. “Estamos nos andares inferiores [da sede da Nunciatura], prontos para nos refugiarmos no porão, caso vejamos uma necessidade imediata. Mas rezamos: rezamos por nós mesmos, pelos outros, rezamos pela paz, rezamos pela conversão de todos”, assegurou.

Na terça-feira, dia 1º, uma bomba atingiu a cúria da Igreja Católica na cidade de Kharkiv. Dentro de uma cripta estavam 40 pessoas refugiadas, a maioria mulheres e crianças. Nenhuma se feriu. Na mesma cidade, há uma casa das Irmãs Missionárias da Caridade. À Agência Fides elas relataram o medo com os sons de disparos permanentes. Mesmo com a opção de ir para a Polônia, permanecem na Ucrânia para prestar assistência aos que mais precisam.

Em Lviv, o Padre Egifio Montanari, orionita, contou que sirenes de alerta não paravam de soar nos primeiros dias de ataque, mas os sacerdotes não pensam em deixar a região: “Nós ficamos aqui, não podemos abandonar a casa e, sobretudo, nossas crianças com deficiência, porque elas só têm a nós”.

ACOLHIDOS NA POLÔNIA

De carro, de trem ou mesmo a pé, muitos são os ucranianos que chegam à Polônia em busca de refúgio. Na última semana, a Cáritas polonesa lançou a campanha “Ajuda para a Ucrânia”, com vistas a arrecadar recursos para a com- pra de alimentos, itens de higiene e outros produtos mais urgentes. Além disso, 100 mil euros já foram enviados para a Cáritas Ucrânia da Igreja Greco-Católica e Caritas-SPES da Igreja Católica.

Padre Marcin Iżycki, Diretor da Cáritas da Polônia, disse que cobertores, sacos de dormir e colchões são as maiores necessidades dos ucranianos que vivem nas áreas afetadas pelos bombardeios. Paróquias na fronteira com a Ucrânia estão sendo orientadas a acolher os refugiados.

Em nota publicada na sexta-feira, 25 de fevereiro, o conselho permanente da Conferência Episcopal Polonesa repudiou a invasão russa à Ucrânia e pediu que os poloneses “adotem uma atitude cristã em relação aos refugiados que chegam ao nosso país” e que estes sejam recebidos como irmãos da Ucrânia “em casas, albergues, casas de retiros diocesanos e paróquias, e todos os lugares onde possa ser prestada ajuda às pessoas necessitadas”.

AJUDA EMERGENCIAL DA ACN

Na última semana, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) já se prontificou a ajudar os 4.879 sacerdotes e religiosos e 1.350 religiosas na Ucrânia, para permitir que continuem seus programas pastorais e de assistência aos que mais precisam. Além disso, fornecerá ajuda emergencial para os quatro exarcados greco-católicos e as duas dioceses latinas no Leste da Ucrânia.

“Principalmente agora, a ACN deve garantir a presença de padres e religiosas com seu povo, nas paróquias, com os refugiados, nos orfanatos e lares para mães solteiras e idosos que enfrentarão o desafio de sobreviver em um clima de custos crescentes como resultado da guerra”, disse Thomas Heine-Geldern, presidente executivo da ACN Internacional.

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