Na manhã da sábado, 2 (início da madrugada no horário de Brasília), o Papa Francisco proferiu seu primeiro discurso na viagem apostólica que realiza à Mongólia, país centro-asiático até a segunda-feira, 4. O Pontífice falou às autoridades, membros da sociedade civil e o do corpo diplomático, na sala “Ikh Mongol” do Palácio de Estado em Ulan Bator, capital do país.

Francisco foi saudado pelo presidente mongol, Ukhnaagiin Khürelsükh, que destacou ser esta uma visita histórica, recordou os laços de proximidade da Mongólia com o Cristianismo e o restabelecimento das relações diplomáticas do país com a Santa Sé há 30 anos, quando foi instaurado um regime democrático na Mongólia, que por sete décadas viveu sob a influência do comunismo soviético. O presidente lembrou ainda que a nação compartilha das preocupações ambientais que o Pontífice recorrentemente tem externado.
PROXIMIDADE
Ao iniciar seu discurso, o Papa se disse feliz em visitar um povo que conhece bem o significado e o valor do caminho, como se vê em suas moradas tradicionais, as tendas circulares, em cujos tetos há amplas aberturas circulares para que se veja o céu.
O Papa se apresentou como um peregrino de amizade: “Chego até junto de vós nas pontas dos pés e com o coração feliz, desejoso de me enriquecer humanamente na vossa presença”.
Ele recordou que embora seja recente a retomada das relações diplomáticas da Mongólia com a Santa Sé, já em 1246, houve o primeiro contato do Frei Giovanni di Pian del Carpine, enviado do Papa Inocêncio IV, com o Grã-Khan.
MEIO AMBIENTE, DEMOCRACIA E PAZ
Fazendo menções às paisagens naturais do país, ele recordou que a sabedoria dos mongóis, ao longo dos séculos, conciliou a sobrevivência do povo com o equilíbrio do ecossistema e isso “tem muito a ensinar a quem hoje quer fechar-se a uma míope procura de interesses particulares”.
O Papa destacou que para os cristãos, a Criação representa o fruto de benevolência de Deus, e que também os mongóis contrastam os efeitos da degradação humana “com uma cultura feita de cuidado e previdência, que se reflete em políticas de ecologia responsável”.
Francisco enalteceu a tradição do povo mongol que desde a antiguidade até o presente soube preservar as suas raízes, “abrindo-se especialmente nas últimas décadas aos grandes desafios globais do progresso e da democracia. De fato, com sua extensa rede de relações diplomáticas, a sua adesão ativa às nações unidas, o seu empenho pelo direito humano e a paz, a Mongólia de hoje desempenha um papel significativo no coração do grande continente asiático e no cenário internacional”.
O Papa enalteceu a postura da Mongólia em deter a proliferação nuclear e apresentar e se apresentar ao mundo como um país sem armas nucleares. “A Mongólia não é só uma nação democrática que realiza uma política externa pacífica, mas também pretende desempenhar um papel importante em prol da paz mundial”, disse, destacando também que a pena de morte não mais aparece nas leis do país.
“Queira os céus que neste planeta devastado por demasiados conflitos, se voltem a criar hoje, no respeito das leis internacionais as condições daquele que foi outrora a paz mongólica, ou seja, a ausência de conflitos”, disse, pedindo que passem as nuvens escuras da guerra, varridas pela firme vontade de uma fraternidade universal, “na qual as tensões se resolvam com base no encontro e no diálogo, e a todos sejam garantidos os direitos fundamentais”.
O PAPEL DAS RELIGIÕES
Elevar os olhos ao céu – ressaltou o Papa – significa permanecer numa atitude de dócil abertura aos ensinamentos religiosos. “É estupendo que a Mongólia seja um símbolo de liberdade religiosa”.
Francisco alertou sobre o perigo do espírito consumista “que hoje, além de criar tantas injustiças leva a um individualismo que ignora os outros e as boas tradições recebidas. Ao contrário, as religiões quando apelam ao seu patrimônio espiritual originário e não se deixam corromper por desvios sectários são, para todos os efeitos, suportes fiáveis para a construção de sociedades sãs e prósperas, onde os crentes se esforçam, para que a convivência civil e as diretrizes políticas estejam sempre mais ao serviço do bem-comum, constituindo também uma barreira ao perigoso verme da corrupção”.
O Santo Padre apontou que historicamente a Mongólia sempre teve uma atitude respeitosa e conciliadora com as múltiplas tradições sagradas, e assim o faz atualmente com a garantia da liberdade religiosa na atual constituição do país, que superou a filosofia ateia “que pensava ser seu dever extirpar o sentido religioso, por considerá-lo um entrave ao desenvolvimento”.
A CONTRIBUIÇÃO CATÓLICA
O Papa lembrou que a pequena comunidade católica no país – há cerca de 1,5 mil batizados católicos mongóis – deseja contribuir para o desenvolvimento da Mongólia em espirito de fraternidade com todo o povo.
“Eu me alegro que a comunidade católica, apesar de pequena e modesta, participe com entusiasmo e empenho no caminho do crescimento do país, difundindo a cultura da solidariedade, do respeito por todos e do diálogo inter-religioso, também trabalhando pela justiça, a paz e a harmonia social”, afirmou desejando que as legislações locais sempre permitam que os católicos possam dar à Mongólia seu contributo humano e espiritual.
O Papa observou que as negociações em curso entre a Mongólia e a Santa Sé representam um canal importante para a obtenção das condições essenciais para o desenvolvimento das atividades ordinárias da Igreja Católica, não só no que se refere ao culto, mas em também para atuação nos setores da saúde, assistência social e promoção cultural.
“A Igreja Católica, instituição antiga e presente em quase todos os países, é testemunha de uma nobre e fecunda tradição espiritual que contribuiu para o desenvolvimento de nações inteiras em muitos campos da convivência humana”, ressaltou o Papa, afirmando estar certo que os católicos mongóis estarão prontos a dar a própria contribuição para a construção de uma sociedade próspera e segura, em diálogo com todos os componentes “que habitam esta grande terra beijada pelo céu”.
(Texto produzido a partir da transmissão ao vivo de Vatican Media)