A Igreja, todos os anos, no primeiro domingo de agosto, mês dedicado às vocações, comemora e relembra a vocação sacerdotal. A razão da escolha dessa data é a proximidade com a memória litúrgica de São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars, patrono dos padres, no dia 4 de agosto.
O objetivo da comemoração da vocação sacerdotal é manifestar a sua grandeza e importância para a Igreja de Cristo, tomando como principal modelo Santo Cura d’Ars, que viveu em completude os desígnios de Deus para os sacerdotes, principalmente os diocesanos. Contemplando o seu exemplo luminoso, os padres se sentem incentivados a se entregar mais generosamente a Deus, e os jovens podem se sentir chamados à mesma vocação.
Outro sacerdote comemorado no mês de agosto, também considerado como modelo de santidade, é Santo Afonso Maria de Ligório, cuja memória litúrgica ocorre no dia 1o. O empenho que dedicou ao sacramento da Confissão, assim como o Cura d’Ars, fez com que adquirisse grande reconhecimento por parte da Igreja.
São João Maria Vianney (1786-1859)
A figura de São João Maria Vianney foi tomada diversas vezes pelo Magistério da Igreja como exemplo marcante para todos os sacerdotes. São Pio X, que o beatificou, o fez padroeiro de todos os padres da França. Pio XI, que o canonizou, estendeu a proteção do Santo a todos os padres do mundo. São João XXIII escreveu a encíclica Sacerdotii nostri primordia, em que se baseia na vida do Santo para explicitar a riqueza da vocação ao sacerdócio.
São João Maria Vianney nasceu poucos anos antes da Revolução Francesa, numa pequena cidade no interior daquele país. Sua vida, desde o início, foi marcada pelo sacrifício. Quando criança e adolescente, a dificuldade de viver a fé na França era grande: havia poucos sacerdotes, pois a maioria tinha aderido à revolução ou fugido de lá. As celebrações ocorriam nas casas, de maneira escondida. A experiência do jovem João o levou a ter um grande apreço pelo sacerdócio, pois a dificuldade de encontrar um padre para celebrar missa ou ouvir confissões fazia os fiéis se alegrarem quando um deles podia atendê-los.
Chamado ao sacerdócio, o Santo teve muitas adversidades para superar. Tinha dificuldade de aprender o latim e o francês, já que sua língua materna era um dialeto. Entretanto, após muito esforço, foi ordenado. Depois de poucos anos como padre, São João Maria Vianney foi mandado à pequena aldeia de Ars, na qual viviam apenas 250 pessoas.
Fazia anos que um padre não visitava Ars. Por esse motivo, a população não mais vivia a fé católica. São João XXIII, em sua encíclica, salienta o amor do Santo Cura d’Ars ao rebanho a ele confiado. Impunha-se constantes mortificações e rezava a todo instante, rogando a Deus pela população daquele pequeno vilarejo. Dedicava-se à pregação e à catequese. A preparação de seus sermões, muitas vezes, lhe custava noites de sono.
São João Maria Vianney, entretanto, tornou-se conhecido como o “incansável apóstolo do confessionário”. As atas de sua canonização afirmam que “em média, cada dia, passava 15 horas no confessionário. Este labor cotidiano começava de madrugada e só acabava à noite”. Atendia, por ano, cerca de 80 mil peregrinos que iam à cidade para se confessar com ele.
São João Maria Vianney é um luminoso exemplo de sacerdócio plenamente vivido, de dedicação integral aos fiéis, à Igreja e a Deus.
Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787)
Santo Afonso Maria de Ligório também se tornou conhecido por sua grande dedicação ao confessionário. Sua experiência ao ministrar esse sacramento, aliado à sua grande erudição, fez dele o autor de uma obra monumental de Teologia Moral, que justificou o título de Doutor da Igreja que lhe foi concedido pelo Papa Pio IX, em 1871.
Afonso, de uma nobre família de Nápoles, Itália, era um advogado de grande reputação. Desiludido com a profissão depois de perder uma causa, Santo Afonso renuncia aos seus títulos de nobreza para se tornar sacerdote.
Ordenado, Santo Afonso funda a Congregação Redentorista ao perceber a necessidade dos mais pobres de receber formação religiosa. Suas pregações eruditas, mas simples e claras, atraíam milhares de pessoas.
No confessionário, Santo Afonso possuía qualidades muito semelhantes às que viria a ter o Santo Cura d’Ars. Era muito cordial e espontâneo; se algum penitente apresentasse vergonha ou receio de se confessar, Afonso demonstrava uma grande ternura de um pai amoroso. Costumava dizer ao penitente: “Ei, coragem; vai fazer agora uma excelente confissão, diga-me tudo com liberdade, não te envergonhes de nada. Nem sequer importa que não tenha feito o exame (de consciência) a fundo; basta que respondas ao que vou perguntar. Agradece a Deus porque te esperou até esse instante: a partir de agora terás que mudar de vida. Alegra-te, portanto, pois certamente Deus te perdoa se tens boa intenção. Esperou-te precisamente para te perdoar! Diga-me, então, o que tens na alma”.
Afonso não reprovava seus penitentes nem fazia nenhum gesto de escândalo, independentemente do que ouvisse. Quando se tornou Bispo de Santa Ágata dos Godos, esmerou-se para que o clero de sua diocese tivesse, também como ele, não apenas uma formação teológica exemplar, mas uma solicitude pastoral, centrada no confessionário.
Tanto São João Maria Vianney quanto Santo Afonso Maria de Ligório se tornaram, por sua dedicação ao sacerdócio, principalmente ao sacramento da Confissão, aquilo a que todos os sacerdotes são chamados a ser: exemplos de santidade e canais vivos da graça e da misericórdia de Deus.