Curso on-line aborda fundamentos teológicos, canônicos e pastorais do sacramento do Matrimônio

Padre Boris Agustín Nef Ulloa, Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção

A Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo abriram na segunda-feira, dia 1º, o curso de extensão cultural sobre o sacramento do Matrimônio.

Realizado totalmente on-line, o curso oferece um aprofundamento teológico, jurídico-canônico e pastoral sobre esse sacramento.

Entre os mais de 500 inscritos, estão sacerdotes, diáconos, seminaristas, religiosos, leigos, membros de movimentos eclesiais, da Pastoral Familiar, de cursos de preparação para noivos e catequistas de jovens e adultos. As próximas aulas acontecerão nos dias 8, 15 e 22.

Ano da Família

Ao fazer a abertura do curso, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Grão-Chanceler das duas instituições de ensino, ressaltou que o curso é realizado no contexto do Ano da Família Amoris laetitia, convocado pelo Papa Francisco e que será aberto no próximo dia 19, Solenidade de São José. Esse ano comemorativo recorda o 5º aniversário da publicação da exortação apostólica pós-sinodal sobre o amor na família.

“Esta é uma feliz iniciativa. Desejo que os participantes tenham o melhor proveito, pois esse curso, na modalida- de on-line, permite ampliar a possibilidade de participação de mais pessoas”, manifestou Dom Odilo.

Fundamentos

A primeira aula foi ministrada pelo Padre Boris Agustín Nef Ulloa, Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Ele abordou os fundamentos antropológico-bíblicos sobre o sacramento do Matrimônio.

Padre Boris tomou como base o mais recente documento da Pontifícia Comissão Bíblica, do Vaticano, inti- tulado “O que é o homem? Um itinerário de Antropologia Bíblica”. Publicado em setembro de 2019, esse texto aprofunda como a Sagrada Escritura apresenta o mistério humano a partir da criação.

O Professor explicou que o livro do Gênesis apresenta o ser humano como o coroamento da criação. O texto bíblico ressalta, ainda, que o homem é criado a partir do pó da terra e recebe o sopro divino da vida, que o distingue das demais criaturas e o faz segundo a imagem e semelhança de Deus.

Em seguida, a narrativa bíblica destaca que Deus, ao ver que Adão não podia ficar sozinho, cria, a partir do lado do homem, uma companheira: Eva. “Adão, ao ver o dom que Deus lhe oferece, a reconhece como ‘carne da minha carne, ossos dos meus ossos’”, afirmou Padre Boris, sublinhando que esse trecho expressa que homem e mulher participam da mesma natureza, ao serem criados “como imagem e segundo a semelhança divina, participam da mesma vocação”.

Homem e mulher

Por outro lado, observou o Biblista, o relato da criação deixa clara a distinção entre o homem e a mulher que se dá não apenas pela diferenciação sexual biológica, mas por características íntimas, próprias de cada um.

Outro aspecto da Antropologia Bíblica enfatizado pelo Professor é a capacidade que Deus dá ao homem e à mulher de gerar a vida, dando, assim, continuidade à ação criadora de Deus.

Padre Boris explicou, ainda, que, ao criar homem e mulher distintos, Deus expressa a harmonia da criação que se dá na ordenação das coisas distintas que, antes da criação, se confundiam no caos da existência. Nesse sentido, quando Deus diz que o homem e a mulher deixarão os pais e se unirão em “uma só carne”, não significa uma fusão entre ambos, aniquilando a identidade particular de cada um, pois isso “atentaria contra a criação de Deus”.

“Esse texto fala da experiência histórica humana do homem e da mulher que, enquanto se amam e se recebem reciprocamente, gerando um núcleo familiar, estabelecem a comunhão divina e expressam o ser de Deus em suas vidas. Este encontro de ambos não invalida a diferenciação. Cada cônjuge continua com a sua identidade e características específicas”, ressaltou.

Vocação do ser humano

O Teólogo, então, afirmou que tais fundamentos bíblicos e antropológicos confirmam que “o espírito e a experiência conjugal é natural e, por isso, precede qualquer norma jurídica, porque seu princípio está na intenção criacional de Deus”.

“Por isso, as culturas precisam encontrar o paradigma do Evangelho que expressa a totalidade da vocação humana”, disse, acrescentando que “o encontro do homem e da mulher é uma resposta à vocação humana, e, por isso, é algo sagrado”.

Graça

Dirigindo-se aos agentes da Pastoral Familiar e àqueles que preparam os noivos para o Matrimônio, Padre Boris reforçou que os jovens que pretendem se casar precisam compreender, num primeiro aspecto, que não é possível viver a plenitude deste sacramento sem a graça de Deus, tampouco se pode contar apenas com as potencialidades de virtudes humanas.

“Não existe Matrimônio sem a graça divina e sem a ação do Espírito de Deus. É esse Espírito que formará no esposo um coração capaz de amar sua esposa como Cristo amou e deu a vida pela Igreja e, de igual modo, formará na esposa um coração capaz de amar o esposo como a Igreja ama Cristo”, afirmou o Teólogo.

Por fim, Padre Boris enfatizou que o Matrimônio é um chamado de Deus e uma resposta a Ele, uma “aliança na graça” que se dá em Cristo, em cuja humanidade se revela a plenitude da vocação do ser humano criado por Deus. “Por isso, o vínculo matrimonial é um serviço à Igreja e à humanidade”, concluiu.

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K
K
1 ano atrás

Obrigado Boris, por te conhecer.