Papa em Ur: hostilidade, extremismo e violência ‘são traições da religião’

Papa Francisco participa de encontro inter-religioso na planície de Ur (Foto: Vatican Media)

O Papa Francisco visitou a cidade Ur, no Iraque, na manhã deste sábado, 6, segundo dia de sua viagem apostólica ao País do Oriente Médio.

No local onde, segundo os textos bíblicos, nasceu Abraão, patriarca das três grandes religiões monoteístas, o Santo Padre participou de um encontro inter-religioso que reuniu judeus, cristãos, muçulmanos e representantes de outras religiões.

Depois de ouvir cantos, e o testemunho de homens e mulheres, o Pontífice pronunciou um discurso que remeteu ao diálogo narrado no Livro do Gênesis, quando Deus pediu a Abraão que levantasse os olhos para o céu e contasse as estrelas.

“Erguemos os olhos ao Céu para nos elevarmos das torpezas da vaidade; servimos a Deus, para sair da escravidão do próprio eu, porque Deus nos impele a amar. Esta é a verdadeira religiosidade: adorar a Deus e amar o próximo.”

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‘O Céu não se cansou da terra’

O Pontífice continuou ressaltando que hostilidade, extremismo e violência não nascem de um ânimo religioso, pois são “traições da religião”. “E nós, crentes, não podemos ficar calados, quando o terrorismo abusa da religião. Antes, cabe a nós dissipar com clareza os mal-entendidos. Não permitamos que a luz do Céu seja ocultada pelas nuvens do ódio!”, afirmou.

O Santo Padre rezou por todas as vítimas do terrorismo, citando mais uma vez – como fez no discurso às autoridades – a comunidade yazidi, outra minoria religiosa perseguida no País.

“O Céu não se cansou da terra: Deus ama cada povo, cada uma das suas filhas e cada um dos seus filhos! Nunca nos cansemos de olhar para o céu, de olhar para estas estrelas”, destacou.

Encontro inter-religioso aconteceu próximo às ruínas da casa de Abraão (Reprodução de Vatican Media)

Sonho de Deus

Francisco apontou, ainda, que o caminho para a paz começa na renúncia a ter inimigos. “Quem tem a coragem de olhar as estrelas, quem acredita em Deus, não tem inimigos para combater”, disse, acrescentando que Deus não pode ser contra ninguém, mas por todos.

“Cabe a nós instar fortemente os responsáveis das nações para que a proliferação crescente de armas ceda o lugar à distribuição de alimentos para todos”, continuou o Papa, enfatizando que a vida humana vale pelo que é e não pelo que tem.

“Nós, irmãos e irmãs de diversas religiões, encontramo-nos aqui, em casa, e a partir daqui, juntos, queremos empenhar-nos para que se realize o sonho de Deus: que a família humana se torne hospitaleira e acolhedora para com todos os seus filhos; que, olhando o mesmo céu, caminhe em paz sobre a mesma terra”, concluiu o Pontífice.

Oração dos filhos de Abraão

No fim do encontro inter-religioso realizado ao lado das ruínas consideradas a casa de Abraão, foi pronunciada uma prece intitulada “Oração dos filhos de Abraão”. Leia a seguir:

Deus Todo-Poderoso, nosso Criador, que amais a família humana e tudo o que as vossas mãos fizeram, nós, filhos e filhas de Abraão pertencentes ao Judaísmo, ao Cristianismo e ao Islão, juntamente com os demais crentes e todas as pessoas de boa vontade, agradecemo-Vos por nos terdes dado como pai comum na fé Abraão, filho insigne desta nobre e amada terra.

Agradecemo-Vos pelo seu exemplo de homem de fé que Vos obedeceu completamente, deixando a sua família, a sua tribo e a sua pátria a fim de ir para uma terra que não conhecia.

Agradecemo-Vos também pelo exemplo de coragem, resiliência e força de ânimo, generosidade e hospitalidade que nos deu o nosso pai comum na fé.

Agradecemo-Vos particularmente pela sua fé heroica, demonstrada na disponibilidade em sacrificar o próprio filho para obedecer à vossa ordem. Sabemos que era uma prova muito difícil, da qual todavia saiu vitorioso, porque confiou sem reservas em Vós, que sois misericordioso e sempre abris novas possibilidades para recomeçar.

Agradecemo-Vos porque, abençoando o nosso pai Abraão, fizestes dele uma bênção para todos os povos.

Pedimo-Vos, Deus do nosso pai Abraão e nosso Deus, que nos concedais uma fé forte, operosa no bem, uma fé que abra os nossos corações a Vós e a todos os nossos irmãos e irmãs; e uma esperança irreprimível, capaz de em tudo vislumbrar a fidelidade das vossas promessas.

Fazei de cada um de nós uma testemunha do vosso cuidado amoroso por todos, especialmente os refugiados e os deslocados, as viúvas e os órfãos, os pobres e os doentes.

Abri os nossos corações ao perdão recíproco, tornando-nos instrumentos de reconciliação, construtores duma sociedade mais justa e fraterna.

Acolhei na vossa morada de paz e luz todos os defuntos, de modo particular as vítimas da violência e das guerras.

Assisti as autoridades civis na busca e localização das pessoas sequestradas e na proteção especial das mulheres e crianças.

Ajudai-nos a cuidar da terra, a casa comum que, na vossa bondade e generosidade, destes a todos nós.

Sustentai as nossas mãos na reconstrução deste país e dai-nos a força necessária para ajudar, aqueles que tiveram de deixar as suas casas e terras, a regressar em segurança e com dignidade, e a começar uma vida nova, serena e próspera. Amém.

(Fonte: Vatican News)

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