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Comunicação ética e evangelizadora: missão presencial e on-line da Pascom

Arte do cartaz do 4º Encontro Nacional da Pstoral da Comunicação – jul.2014

No mundo digital, em que a velocidade supera a reflexão e as emoções são constantemente exploradas em forma de cliques e compartilhamentos, ser verdadeiro tornou-se um desafio espiritual, ético e pastoral. Em meio à avalanche de informações, narrativas enviesadas e discursos polarizados, comunicar com responsabilidade o Evangelho e ser fiel a ele exige mais do que técnica: requer discernimento, coerência e oração.

A Pastoral da Comunicação (Pascom) é chamada a ser farol neste cenário. A missão de evangelizar nas redes não pode estar dissociada do compromisso com a verdade — verdade que não é apenas factual, mas também relacional, espiritual e transformadora, porque tem rosto e nome: Jesus Cristo.

Para aprofundar essa reflexão, conversamos com Marcus Tullius, mestre em Comunicação Social e coordenador da Pascom Brasil entre 2018 e 2024. Segundo ele, a experiência vivida durante a pandemia foi reveladora dos desafios e oportunidades da comunicação cristã no ambiente digital.

“O maior desafio foi lidar com a velocidade da desinformação. A internet permite que qualquer conteúdo se espalhe rapidamente, mesmo sem verificação. Vimos o quanto é urgente formar agentes preparados espiritual e tecnicamente”, observa.

ESCUTA, PACIÊNCIA E FORMAÇÃO

No ambiente digital, a tentação de reagir de forma impulsiva é constante. Por isso, o primeiro passo para comunicar com verdade não é técnico, mas sim espiritual. Cultivar a paciência antes de compartilhar, rezar a respeito do conteúdo e perguntar-se se aquilo constrói ou fere são atitudes fundamentais. 

“Quem reza, escuta melhor. E quem escuta, comunica melhor”, resume Tullius.

Além da espiritualidade, destaca-se a importância de formação permanente, não só da equipe da Pascom, mas de toda a comunidade. A comunicação pastoral precisa estimular o senso crítico e promover critérios evangélicos para o que se publica ou compartilha.

“A Pascom deve ser uma escola de escuta e consciência. Não pode ser apenas transmissora de eventos. Deve ser ponte entre a realidade da comunidade e a esperança do Evangelho.”, ressalta.

PRÁTICAS ESSENCIAIS 

Tullius destaca que conhecer a realidade da comunidade é o ponto de partida para qualquer comunicação autêntica. “Antes de comunicar, é preciso escutar.” A escuta ativa das pessoas, das dores e das alegrias da comunidade permite uma comunicação enraizada, próxima e verdadeira.

Também é fundamental evitar o sensacionalismo e optar por uma linguagem simples e acessível. “Clareza comunica mais do que impacto”, assegura. A missão da Pascom não é atrair cliques, mas transmitir o Evangelho com fidelidade e honestidade.

A formação espiritual e intelectual da equipe também é essencial. Sugere-se que cada comunidade incentive que os ‘pasconeiros’ se reúnam em pequenos grupos para rezar e estudar juntos. “A espiritualidade sustenta o trabalho diário e dá sentido à missão.”

Também é necessário verificar sempre a veracidade das informações antes de compartilhá-las. Buscar a fonte original, checar com meios confiáveis e recorrer a agências de checagem são atitudes que devem fazer parte da rotina da Pascom.

Por fim, jamais se deve esquecer de que a humildade também comunica. Ter a coragem de dizer “não sei” é mais digno do que repassar algo duvidoso. “A comunicação verdadeira nasce da honestidade. E isso, por si só, já evangeliza.”

Tullius, ao mencionar o curso “Fake news, religião e política”, promovido durante a pandemia e que capacitou mais de 800 agentes, destaca que a formação preventiva é decisiva na luta contra a desinformação.

ENVOLVER OS JOVENS, COMUNICAR COM FÉ E SER FIEL AO EVANGELHO

Tullius também destaca que é preciso incentivar a presença dos jovens na Pascom, criando espaços de diálogo, partindo da escuta e da confiança, para também com eles aprender: “Os jovens já vivem no digital. Cabe a nós oferecer sentido, formação na fé e abertura ao discernimento.”

Ele ressalta, ainda, que o desafio da verdade também envolve o modo como se lida com as diferenças, e que a verdade não pode ser usada como arma. “Ser verdadeiro não é ser agressivo. O diálogo exige escuta e respeito. É preciso desarmar os ânimos com uma linguagem de paz”, diz, citando o Papa Francisco.

Por fim, Tullius pede aos agentes da Pascom que não se deixem conduzir pela lógica dos algoritmos, mas pela fidelidade ao Evangelho: “Você não comunica uma marca ou uma ideia. Você comunica uma Pessoa: Jesus. Que sua comunicação seja canal de verdade, paz e amor”. 

Por Benigno Naveira e Elias Rodrigues

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