A festa litúrgica de Maria Madalena foi instituída em 3 de junho de 2016 pelo Papa Francisco, durante o Jubileu da Misericórdia. Eis uma parte do Decreto: “Esta decisão insere-se no contexto eclesial atual, que exige uma reflexão mais profunda sobre a dignidade da mulher, a nova Evangelização e a grandeza do mistério da Misericórdia divina”.
«No primeiro dia, que se seguia ao sábado, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã cedo, quando ainda estava escuro. Viu a pedra removida do sepulcro. Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: “Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram!”. Entretanto, Maria se conservava do lado de fora perto do sepulcro e chorava. Chorando, inclinou-se para olhar dentro do sepulcro. Viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. E eles lhe perguntaram: “Mulher, por que choras?”. Ela respondeu: “Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram”. Ditas essas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não o reconheceu. Perguntou-lhe Jesus: “Mulher, por que choras? Quem procuras?”. Supondo que fosse o jardineiro, respondeu-lhe: “Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar”. Disse-lhe Jesus: “Maria!” Voltando-se ela exclamou em hebraico: “Rabôni!” – que significa Mestre! -. Disse-lhe Jesus: “Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai aos meus irmãos e dize-lhes: subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que tinha visto o Senhor e lhes contou o que ele lhe tinha falado». (Jo 20,1-2.11-18).
Maria Madalena para São João Paulo II
São João Paulo II dedicou grande atenção, não só à importância das mulheres na sua missão peculiar de servir a Cristo e a Igreja, mas também, com especial ênfase, à função particular de Maria Madalena como primeira testemunha por ver o Ressuscitado e primeira mensageira por anunciar a ressurreição do Senhor aos apóstolos (cf. Mulieris dignitatem, 16). Esta importância continua ainda hoje na Igreja – demonstrado pelo atual compromisso de uma nova evangelização – que acolhe, sem nenhuma distinção, homens e mulheres, de qualquer raça, povo, língua e nação (cf. Ap 5, 9), para anunciar-lhes a Boa Nova do Evangelho de Jesus Cristo, acompanhá-los na sua peregrinação terrena e oferecer-lhes as maravilhas da salvação de Deus. Santa Maria Madalena é um exemplo de verdadeira e autêntica evangelizadora, isto é, de uma evangelista que anuncia a alegre mensagem central da Páscoa (cf. coleta de 22 de julho e novo prefácio).
Maria Madalena para o Papa Francisco
O Santo Padre Francisco tomou a decisão de instituir a festa litúrgica de Santa Maria Madalena, precisamente, no contexto do Jubileu da Misericórdia para destacar a atualidade desta mulher, que mostrou seu grande amor a Cristo e que foi tão amada por Cristo… A tradição eclesial no Ocidente, sobretudo depois de São Gregório Magno, identifica esta pessoa com Maria de Mágdala, a mulher que derramou perfume nos pés do Senhor, na casa de Simão, o fariseu, e com a irmã de Lázaro e Marta. Esta interpretação continuou e influenciou os autores eclesiásticos do Ocidente, na arte cristã e nos textos litúrgicos relativos à Santa…
Maria Madalena, primeira testemunha da Ressurreição
Sabe-se que Maria Madalena fazia parte do grupo dos discípulos de Jesus, o seguiu até ao pé da cruz e no jardim onde se situava o sepulcro: ela foi a primeira, segundo São Gregório, “testis divinae misericordiae”. O Evangelho de João diz que Maria Madalena chorou quando não encontrou o corpo do Senhor (cf. Jo 20,11), mas Jesus teve misericórdia dela, fazendo-se conhecer como o Mestre e transformando suas lágrimas em alegria pascal.
Por um lado, Madalena teve a honra de ser a “prima testis” da ressurreição do Senhor, a primeira a ver o túmulo vazio e a primeira ao ouvir a verdade sobre a sua ressurreição. Cristo teve misericórdia e uma consideração especial por esta mulher, que demonstrou seu amor por Ele, o procurou no jardim, com angústia e sofrimento, com “lacrimas humilitatis“, como diz Santo Anselmo em sua oração…
Além do mais, foi precisamente no jardim da ressurreição que o Senhor disse a Maria Madalena: “Noli me tangere“. Trata-se de um convite dirigido não só a Maria, mas também a toda a Igreja, para fazer uma experiência de fé, que ultrapassa toda e qualquer apropriação materialista e compreensão humana do mistério divino. Tal convite tem um significado eclesial e uma boa lição para todos os discípulos de Jesus: não buscar seguranças humanas e títulos mundanos, mas a fé em Cristo, Vivo e Ressuscitado.
Maria Madalena, a primeira apóstola
Além de ter sido testemunha ocular de Cristo Ressuscitado, Madalena foi também a primeira a dar testemunho da sua ressurreição aos apóstolos, cumprindo, assim, o mandato do Senhor: “Vai aos meus irmãos e dize-lhes… Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos: “Eu vi o Senhor!”… e o que ele lhe havia dito” (Jo 20,17-18). Desta forma, ela se tornou, como dissemos acima, uma evangelista, ou seja, uma mensageira que anuncia a Boa Nova da ressurreição do Senhor; ou como diziam Rabano Mauro e São Tomás de Aquino “apostolorum apostola“, porque anuncia aos apóstolos o que eles, por sua vez, deviam anunciar ao mundo inteiro. O Doutor Angélico tem razão ao utilizar este termo e aplicá-lo a Maria Madalena: ela é a testemunha de Cristo Ressuscitado e anuncia a mensagem da ressurreição do Senhor, como os outros apóstolos.
Fonte: Vatican News