130 mil pessoas aguardam por cirurgias na capital paulista

Atendimentos na rede pública foram suspensos em março e retomados recentemente, assim como consultas e exames

Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo

Com o avanço da vacinação e a queda nas internações por COVID-19, a Prefeitura de São Paulo iniciou, recentemente, na rede de Atenção Básica e Especializada do município, a retomada do agendamento de consultas, exames e cirurgias eletivas, isto é, aquelas que não são urgentes.

A marcação tem sido feita, inclusive, de modo presencial nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital paulista.

Esses atendimentos haviam sido suspensos em março, em decorrência do aumento no número de casos por COVID-19. O objetivo foi disponibilizar mais leitos para o tratamento de pacientes infectados pelo vírus.

Os critérios para a retomada foram especificados na portaria nº 286, publicada em 29 de junho, no Diário Oficial da Cidade de São Paulo. A previsão é que ocorra a retomada gradual com 50% da estrutura de atendimento presencial disponível e 50% dos agendamentos atendidos por meio de teleconsultas.

A proposta de retomada

Atualmente, a cidade de São Paulo tem aproximadamente 130 mil pacientes só na fila da cirurgia, número que a Prefeitura afirma ser “dinâmico”, já que “os procedimentos e demandas se alteram diariamente”.

Questionada pela reportagem do O SÃO PAULO sobre qual é o plano para reduzir a fila de espera para os atendimentos na rede pública, sobretudo a demanda de cirurgias eletivas, a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), respondeu que “desde o dia 13 de julho, 13 Hospitais Dia (HDs) passaram a dar apoio e reforçar a execução de cirurgias durante a pandemia da COVID-19. Cinco destes equipamentos funcionarão 24 horas e oito das 7h às 22h, de segunda a sábado”.

O órgão afirmou que “o objetivo é agilizar o tempo médio para a realização dessas cirurgias na cidade de São Paulo, além de exames como colonoscopia, endoscopia digestiva alta e de cabeça e pescoço, entre outros”.

E informou que, a partir de 1º de agosto, “os exames também começam a ser realizados com equipamentos de ponta para qualificar ainda mais o atendimento”.

De janeiro a julho de 2019, foram realizados, por meio dos Hospitais Dia, 8.707 procedimentos. Em 2020, no mesmo período, houve 3.365 cirurgias eletivas nos HDs. Em 2021, até o mês de maio, ocorreram 6.784 cirurgias.

Desafios práticos

Mesmo com essa retomada anunciada, as pessoas têm esperado por uma vaga na rede básica de saúde. É o caso da atendente Mônica Seles, 26, moradora da Parada de Taipas, zona Noroeste.

Mônica conta que a última consulta na UBS próxima à sua casa ocorreu no início de 2020, antes da pandemia. De lá pra cá, ela já tentou agendar consultas inúmeras vezes, mas sem sucesso.

“Há dois meses, comecei a tentar novamente. Tentei marcar clínico geral, porque estou sentindo dor de cabeça com muita frequência, e ginecologista. O que escuto desde o ano passado, porém, é que não estão agendando. Somente se for caso de emergência”, relata.

Há algumas semanas, a atendente conseguiu fazer a coleta do papanicolau (exame ginecológico) por meio do mutirão da saúde que ocorreu em seu bairro, mas ainda não conseguiu agendar uma consulta.

E mesmo entre os pacientes que já conseguiram um agendamento, a espera também é inevitável. É o que compartilha o representante comer cial Rodnei Silveira, 50, que mora no Jardim Arpoador, zona Oeste da capital.

“Aguardei pouco mais de 30 dias para conseguir agendar um exame de retina. O que eu não esperava era que levaria mais três meses para conseguir realizar o procedimento. Meu exame foi agendado para outubro”, discorre Silveira.

Na nota enviada à reportagem, a Prefeitura não respondeu sobre o tempo médio de espera para se conseguir um agendamento em consultas, exames ou cirurgias, mas disse que “os critérios norteadores [para o agendamento] seguirão a ordem de prioridade clínica e cronológica, de acordo com cada caso”.

Retomada na rede privada

Nos hospitais da rede privada, a retomada dos atendimentos que foram impactados por causa da pandemia também vem ocorrendo gradativamente.

“A demanda represada vai se somar à demanda de outras situações atendidas todos os dias pelas instituições, como casos de acidentes, partos, entre outros, além dos tratamentos das sequelas da COVID-19, sendo esta questão o grande desafio daqui por diante”, disse o diretor-presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp), Edson Rogatti.

Ainda segundo Rogatti, nas Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, os casos mais urgentes são avaliados e os pacientes atendidos primeiro. Ele também acredita que a retomada desses agendamentos deve avançar a partir da primeira quinzena de agosto.

Na Santa Casa de São Paulo, segundo o diretor de operações em saúde, o médico Rogério Pecchini, com a queda da internação de pacientes com COVID-19, entre junho e julho, tem sido possível aumentar o número de leitos para internações eletivas, e o atendimento ambulatorial está com as agendas liberadas, sendo que os pacientes oncológicos são prioridade.

A instituição tem seguido um planejamento para ampliar esses atendimentos de forma gradual, conforme a diminuição de leitos exclusivos para o tratamento de COVID-19, abrindo, assim, leitos para os pacientes acometidos por outras doenças. “Temos aumentado gradualmente as agendas eletivas. É importante ressaltar que, durante toda a pandemia, atendemos casos de pacientes com COVID-19 e também os acometidos por outras doenças”, reforçou Pecchini.

No Hospital Santa Catarina, estão sendo adotados “protocolos rigorosos e seguros para o atendimento nas urgências e emergências não relacionadas à COVID-19 e que não deixaram de ser praticados mesmo durante a pandemia”, informa a assessoria de imprensa do hospital.

A instituição compartilhou, ainda, que todos os pacientes internados em sua unidade são testados para COVID-19 e que aqueles que fazem cirurgia eletiva são testados 72 horas antes do procedimento, enquanto os que são admitidos pela urgência são testados já no pronto atendimento.

O hospital acrescentou que as agendas estão abertas para receber os pacientes e que tem feito marcação de exames sugeridos logo após a solicitação médica.

O Santa Catarina pontuou que algumas especialidades já tinham uma demanda maior e que as agendas estão aptas a receber a crescente demanda com o cuidado da saúde e com possibilidade de expansão, caso seja necessário. Além disso, tem trabalhado também com o serviço de telemedicina, com 26 especialidades ambulatoriais.

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