A ‘Conversão de São Paulo’ é retratada em fachada de prédio

Artista Andrea  Ravo realizou a pintura que pode ser vista nas proximidades do viaduto Júlio de Mesquita Filho

Luciney Martins /O SÃO PAULO

Caravaggio pintou, entre 1600 e 1601, a cena da Conversão de São Paulo, que é mundialmente conhecida e marcou a história da Arte. O que poucos sabem é que o famoso pintor se inspirou em Moretto da Brescia, Alessandro Bonvicino, mais conhecido como Il Moretto da Brescia, que foi um pintor italiano do Renascimento, ativo na Bréscia e em Veneza.

A obra da Conversão de São Paulo encontra-se na Igreja de Santa Maria presso San Celso, em Milão; e recentemente uma releitura desta foi pintada na fachada de um prédio nas proximidades do viaduto Júlio de Mesquita Filho, na ligação Leste-Oeste de São Paulo, por Andrea Ravo Mattoni. Trata-se do primeiro trabalho de Ravo na capital paulista e o maior, em dimensão, que ele já realizou.

O painel foi idealizado a pedido da Prefeitura de São Paulo, para integrar o projeto municipal “Museu de Arte de Rua”. Por meio do Consulado Geral da Itália em São Paulo, Andrea Ravo foi o artista convidado para fazê-lo.

Durante o lançamento da obra, o cônsul-geral da Itália no Brasil, Filippo La Rosa, lembrou que, “depois da contribuição à arquitetura da cidade no século passado, estamos desejando deixar mais uma marca italiana na paisagem urbana de São Paulo”.

“Esperamos, de verdade, ter começado uma nova fase de maior presença e visibilidade italiana na cidade. A street art é uma ferramenta extraordinária para dar sequência a esse projeto”, continuou La Rosa.

Carla Aparecida Teixeira, 28, mora em São Paulo e, quase todos os dias, utiliza o viaduto Júlio de Mesquita Filho para se deslocar até o trabalho. “A obra tem o poder de transformar um dia ruim em um dia melhor. É impressionante como a obra de arte faz diferença em nossas vidas”, disse à reportagem, destacando que até então não conhecia a obra que foi reproduzida no prédio. “Fiquei imensamente feliz ao descobrir que uma obra tão importante para a arte mundial agora faz parte do meu dia a dia”, afirmou.

CIDADES IRMÃS

Luciney Martins /O SÃO PAULO

Em 2022, as cidades de São Paulo e de Milão comemoram 60 anos de irmandade. O acordo foi assinado em março de 1962, ano em que Gino Cassini, prefeito de Milão, inaugurou na capital lombarda o Largo São Paulo e, em outubro daquele mesmo ano, foi inaugurada em São Paulo a Praça Cidade de Milão, localizada na Vila Nova Conceição.

“Além de homenagear a relação entre as duas cidades, ter pintado um muro de um grande edifício de São Paulo, com uma obra que pode mudar a visão de quem anda de automóvel todos os dias, é oferecer a oportunidade aos paulistanos de admirar a arte antiga reproposta de forma contemporânea e, assim, colocá-los em contato com algo que possivelmente não conheçam”, afirmou Ravo ao O SÃO PAULO.

“Respeito a fé religiosa e tudo aquilo que ela representa, sobretudo na pintura de São Paulo. A fé no confronto entre a história da Arte e a história do homem, nesta obra em especial, é muito significativa, pois se trata de uma invenção. Isso porque, no Novo Testamento não há o relato de que São Paulo tenha caído de um cavalo. Neste caso, foi a Arte que criou a queda, uma cena quase cinematográfica, que dá ainda mais grandiosidade para o momento da conversão de São Paulo”, explicou Ravo. De fato, no livro dos Atos do Apóstolos, Paulo relata que, após ser cercado por uma forte luz, caiu por terra (cf. At 22,6-7), mas não há menção de que estava anteriormente montado em um cavalo.

Segundo o artista, a composição foi escolhida para provocar um choque cultural, mostrando diferenças e semelhanças entre Itália e Brasil. “Temos uma obra que não faz parte somente do Renascimento italiano, mas que é mundialmente representativa”, disse.

Com informações do Consulado da Itália em São Paulo

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