‘A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo’

Ressaltou o Cardeal Scherer na Missa da Ceia do Senhor que ele presidiu na Catedral da Sé, na noite da Quinta-feira Santra, com o rito do lava-pés

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Na abertura do Tríduo Pascal, no início da noite chuvosa da Quinta-feira Santa, 28, na Catedral da Sé, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu a Missa da Ceia do Senhor.

No começo da missa, Dom Odilo recordou que o Tríduo Pascal é o centro da Semana Santa, e que nesta missa vespertina da Quinta-feira Santa se recorda de modo especial a instituição da Eucaristia, do sacerdócio e do mandamento do amor que Jesus dá aos discípulos. Além disso, com o gesto do lava-pés, Jesus dá o exemplo de humildade aos discípulos para que fizessem o mesmo a partir de então. O Arcebispo destacou, ainda, que toda missa é uma ação de graças a Deus e nela também se reafirma a adesão a Jesus Cristo.   

NÚCLEO CENTRAL DA NOSSA FÉ

Na homilia, Dom Odilo recordou que assim como os demais judeus, Jesus celebrava a ceia pascal judaica, para festejar a grande ação misericordiosa de Deus que levou à libertação do povo escravizado no Egito.

Cristo, porém, deu um novo significado àquela celebração. “Quando tomou o pão, como era costume na ceia pascal judaica, Jesus o partiu, foi entregando aos que estavam com Ele à mesa e disse: ‘Este é o meu corpo, entregue por vocês’. Essa entrega significa a morte, a morte de cruz, em que Ele se entrega pela libertação, salvação do povo”, disse o Arcebispo, lembrando, ainda, que o Senhor fez o mesmo com o vinho, como sinal de seu sangue que seria derramado por todos: “O sangue da nova e eterna aliança, libertadora e misericordiosa com o povo, um gesto Daquele que se entrega por amor a toda a humanidade até às últimas consequências, e ordena que seus discípulos façam o mesmo”. 

“‘Fazei isto em memória de mim’. As palavras de Jesus remontam a origem da celebração da Eucaristia. Não significa apenas ‘repetir’ os gestos e as palavras da Última Ceia, mas fazer isto como entrega, serviço e amor mútuo. Eis o verdadeiro sentido da Eucaristia”, recordou o Arcebispo. “Aqui tem origem a celebração da Eucaristia, que para nós, cristãos, é o memorial da Páscoa de Cristo, da passagem de Cristo deste mundo para o Pai, de sua Morte e Ressurreição para a glória de Deus. Esse é o núcleo central da nossa fé”, explicou.

 “O gesto que Cristo fez na ceia, Ele fez ao longo de sua vida. Jesus entregou sua vida pelo serviço, deixou-se carregar, suportou a dor e nos deu o exemplo do serviço”, prosseguiu o Arcebispo.

Dom Odilo também lembrou que os fiéis devem valorizar a participação na missa, “de modo especial a missa dominical, em que fazemos memória da Sua Ressurreição, celebrando a esperança”.

LAVAR OS PÉS: O EXEMPLO DE CRISTO SERVIDOR

Ainda na homilia, Dom Odilo explicou o rito de lavar os pés dos irmãos: “É um gesto simbólico e significa a atitude de colocar-se a serviço uns dos outros, na condição de servidores, uma atitude de fraternidade e cuidado. ‘Dei-vos o exemplo: fazei isto em memória de mim’”, disse, lembrando, ainda, que nesta atitude está o ensinamento de que aquele que quer ser o primeiro deve se colocar sempre a serviço, pois o próprio Cristo não veio para ser servido, mas para servir.

O Arcebispo recordou que na Missa da Ceia do Senhor que presidiu nesta Quinta-feira Santa, o Papa Francisco lavou os pés de 12 detentas em um presídio de Roma. “Esse gesto é um sinal de que o serviço é prestado independente da nossa situação humana. Nosso servir é um agir de coração sincero”, mencionou, salientando que este ano teriam os pés lavados na Catedral da Sé os representantes de várias pastorais e organismos da Arquidiocese ligados à fraternidade e ação social, bem como os atendidos por estas iniciativas.

“Tenhamos força e coragem de servir, de colocar-se a serviço dos irmãos que sofrem”, exortou.

Após a homilia, Dom Odilo realizou o rito do lava-pés. Tiveram os pés lavados:

  • Lorenna Pirolo, 36, diretora-presidente do Amparo Maternal, acompanhada de sua filha de 4 meses, Helena Rosa Pirolo;
  • Maria Julia Felipe Carneiro de Sousa, 6, criança atendida pela Pastoral do Menor;
  • Olívia Luiz de Sousa Lima, coordenadora da Pastoral do Menor da Região Brasilândia;
  • Monica de Cassia Vieira Lopes, coordenadora da Pastoral Fé e Política;
  • Jaqueline Manuel dos Santos, integrante da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP);
  • Josefa Maria da Silva, leiga Consagrada da Orgo Virgium;
  • Vanderlei Postigo, professor de comunicação social da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação;
  • Thamiris Morgado, catequista e agente de pastoral voluntária na Casa do Migrante;
  • o casal Ahmad Ali Ajamhajimo e Atich Esmaeilnazari, originários do Irã, recém-chegados no Brasil, atendidos pela Pastoral do Migrantes;
  • Nerge Dorlus, originário do Haiti, e Nsaku Teresa Luveda Ndonda, de Angola, ambos recém-chegados ao Brasil e que foram acolhidos na Casa do Migrante.

Para Josefa Maria da Silva, 69, este simbólico “representa a atitude de colocar-se a serviço e cuidado uns para com os outros, como irmãos”. Há 14 anos, ela dedica a vida à evangelização, por meio de sua consagração.

Monica de Cassia Vieira Lopes, 60, falou, emocionada, que a exemplo de Cristo, que lavou os pés dos seus discípulos, todos são convidados “a colocar-se a serviço do irmão, promovendo a amizade, a fraternidade e a caridade social. Servir a Cristo na pessoa do irmão, servir e promover a política do bem comum é o centro da minha fé”.

Nerge Dorlus chegou do Haiti há 2 meses: “Estar aqui é um exemplo de fé e resgate da dignidade. Esse é um gesto concreto de amor, de acolhida e fraternidade”, comentou.

Nsaku Teresa Luveda Ndonda é natural de Luanda, Angola. “Cheguei ao Brasil há um mês. Aprendi a fé com minha família. Este gesto do lava-pés é um momento para viver a fé. Cristo em sua humildade se abaixa e lava os pés de seus discípulos e da humanidade. Ele se abaixa para nos amar”, afirmou.

SILÊNCIO E ORAÇÃO

Antes do término da missa, o Arcebispo recordou a todos que a Sexta-feira Santa é dia de silêncio, oração, jejum e abstinência de carne.

Ao final, o altar foi desnudado e todos os adornos do presbitério retirados. Depois, aconteceu a transladação do Santíssimo para a Capela do Santíssimo da Catedral da Sé, onde aconteceu a vigília e adoração ao Santíssimo, com a presença do Cardeal Scherer, concelebrantes e fiéis.

Na sexta-feira, 29, às 15h, na Catedral da Sé, o Cardeal Scherer presidirá a Ação Litúrgica da Paixão do Senhor, celebração que acontecerá neste mesmo horário em todas as paróquias da Arquidiocese de São Paulo.

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