Membros das pastorais, movimentos e novas comunidades participaram do encontro arquidiocesano sobre a Campanha que terá como tema ‘Fraternidade e Ecologia Integral’
“Promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” é o objetivo geral da Campanha da Fraternidade de 2025, à luz do tema “Fraternidade e Ecologia Integral”.
Com o objetivo de preparar os agentes de pastorais, movimentos e novas comunidades para bem vivenciar a CF 2025 e difundi-la, a Arquidiocese de São Paulo realizou no sábado, 26, no Centro Pastoral São José, na zona Leste, um encontro conduzido pelo Padre Andrés Gustavo Marengo, Coordenador Arquidiocesano da CF, e com a assessoria de Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial para a Campanha da Fraternidade.
‘DEUS VIU QUE TUDO ERA MUITO BOM’
A abertura da atividade ocorreu com um momento orante, durante o qual foi recordado o Cântico das Criaturas, escrito por São Francisco de Assis em 1225; apresentado o hino e a oração da CF 2025; e feita a leitura do capítulo 1 do livro de Gênesis, que relata a Criação, com destaque para a passagem “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), lema escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a Campanha.
Ao comentar a leitura bíblica, Padre Andrés destacou que Deus criou o homem e a mulher para que zelassem por toda a Criação, mas o pecado os levou ao caos, o qual só será superado se a humanidade voltar a ter comunhão com Deus. “Temos de responder a este chamado de Deus para ir organizando as coisas e não sermos pregadores do fatalismo, mas sim ter este olhar de que ‘Deus viu que tudo era muito bom’”, comentou.
ECOLOGIA INTEGRAL
Na sequência, Dom Rogério apresentou alguns dos pontos centrais do texto-base. Inicialmente, ele lembrou que esta será a nona vez que a CF aborda um tema relacionado à ecologia, a qual pode ser entendida em três dimensões: a da ciência (todas as criaturas que habitam o planeta se relacionam), a das práticas (pessoas e grupos se reúnem para deter a destruição da Terra) e a da nova mentalidade (a relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza).
O Bispo também mencionou os pontos 9 e 10 do texto-base, nos quais se explica que a ecologia integral não deve ser entendida apenas na perspectiva da ecologia verde (o cuidado com as florestas e rios, por exemplo), mas também da ecologia econômica e social.
“Para nós, a ecologia integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, ‘Deus viu que tudo era muito bom’ (Gn1,31)”, consta no ponto 12 do texto-base lido pelo Bispo.
CRISE SOCIOAMBIENTAL
Dom Rogério lembrou, ainda, que o texto-base discute as origens da atual crise socioambiental e no ponto 26 indica como uma das razões o atual modelo de desenvolvimento centrado no extrativismo/exploração dos recursos naturais, tendo entre suas consequências o aquecimento global. Já no ponto 34 é recordado que as mudanças climáticas são uma ameaça à paz; e no número 42 frisa-se que o Papa Francisco, na exortação apostólica Laudate Deum, destaca que as pequenas ações cotidianas são fundamentais para a mudança deste panorama de degradação, levando a uma “conversão ecológica”, abordagem já apresentada por São João Paulo II em 2001 e que vem sendo enfatizada por Francisco, como consta no ponto 58 do texto-base.
‘ILUMINAR/DISCERNIR’ E ‘AGIR/PROPOR’
O Bispo referencial da CF na Arquidiocese também leu o ponto 63 do texto-base – “Iluminados pela fé, buscamos caminhos para superar a ‘complexa crise socioambiental’ (Laudato si’ – LS 139) pela qual passamos” – que sintetiza o que é tratado no segundo capítulo deste subsídio – “Iluminar/Discernir”: um olhar para a ecologia integral a partir da releitura de textos bíblicos; da perspectiva dos Santos Padres da Igreja (séculos I-V); dos ensinamentos do Magistério e da Doutrina Social; e de elementos das ciências e da sabedoria dos povos.
Em relação ao terceiro capítulo “Agir/ Propor”, Dom Rogério comentou que no ponto 132 é indicado que o êxito da ação depende muito do exercício de ouvir e de refletir. Mencionou, ainda, o ponto 135, alusivo a um trecho da Laudate Deum no qual o Papa destaca que as soluções mais eficazes não virão apenas dos esforços individuais, mas das grandes decisões da política nacional e internacional; e o ponto 155, que introduz as propostas concretas de ação nos âmbitos pessoal, comunitário e sociopolítico, as quais são detalhadas entre os pontos 156 e 168 do texto-base.
OS PRÓXIMOS PASSOS
Na parte final do encontro, Padre Andrés motivou os participantes a estudarem o texto-base e as propostas de ação indicadas, para que possam pensar em iniciativas, como momentos formativos de âmbito regional, decanal ou paroquial. Indicou-lhes, ainda, outros subsídios da Campanha como o CF na Escola, CF na Catequese, CF na Universidade, Via Sacra a Via Lucis, Terço da Ecologia Integral, entre outros.
Ao O SÃO PAULO, o Sacerdote disse esperar que os participantes do encontro “sejam multiplicadores do que ouviram para outros agentes, criem espaços de discussão e de estudo. É muito bom a reflexão desta Campanha da Fraternidade, porque ela nos convida a uma conversão ecológica integral. E a cada ano, a CF busca atingir a todos, cada cristão, cada cidadão, e não somente aqueles que têm a ver com o tema. A Campanha busca a transformação do nosso mundo”.
Também Dom Rogério pediu o empenho dos participantes para difundir a Campanha em suas regiões episcopais, decanatos e paróquias, a fim de sensibilizar o maior número de fiéis. “Já neste final do mês de outubro, temos a graça de ter o texto-base e de realizar este encontro de uma Campanha que acontecerá na Quaresma de 2025. No entanto, se já não tomarmos contato com o texto-base, não o estudarmos e não ajudarmos a formar as pessoas, não haverá a Campanha da Fraternidade, acontecerá apenas a coleta”, ressaltou.
“Esta campanha é da Igreja. Temos que insistir em apresentá-la e trabalhar com paciência, lembrando sempre que a CF jamais deve ser razão para nos dividir”, prosseguiu o Bispo, que ao longo do encontro também alertou: “Entre nós não pode haver confusão. Se para nós a Campanha da Fraternidade virar ideologia, chegaremos àquilo que o Papa Francisco afirmou: querem transformar a Igreja em uma ONG. Entre nós não pode jamais haver isso. Temos vários grupos, mas a mesma espiritualidade, e queremos todos fazer a mesma Campanha”, insistiu.
Padre Andrés recomenda que a abordagem da temática não seja impositiva, mas de busca de diálogo: “Se formos conversar já querendo brigar ou se defender, não vamos dialogar. O diálogo se dá quando eu me surpreendo com a proposta do outro. Portanto, busquemos apresentar a Campanha de forma que surpreenda os demais. Vistamo-nos de Jesus Cristo, do Evangelho e da Campanha da Fraternidade e vamos em frente”.
Conheça o Caderno Laudato si’ – por uma ecologia integral
Bimestralmente, o jornal O SÃO PAULO publica o Caderno Laudato Si’ – por uma Ecologia Integral, com temáticas sobre as questões ambientais e de sustentabilidade à luz da Doutrina Social da Igreja e do magistério do Papa Francisco.