Arquidiocese de São Paulo prepara agentes para a CF 2025

Membros das pastorais, movimentos e novas comunidades participaram do encontro arquidiocesano sobre a Campanha que terá como tema ‘Fraternidade e Ecologia Integral’

Fernando Arthur

“Promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioam­biental, um processo de conversão in­tegral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” é o objetivo geral da Campanha da Fraternidade de 2025, à luz do tema “Fraternidade e Ecologia Integral”.

Com o objetivo de preparar os agen­tes de pastorais, movimentos e novas comunidades para bem vivenciar a CF 2025 e difundi-la, a Arquidiocese de São Paulo realizou no sábado, 26, no Cen­tro Pastoral São José, na zona Leste, um encontro conduzido pelo Padre Andrés Gustavo Marengo, Coordenador Arqui­diocesano da CF, e com a assessoria de Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial para a Campanha da Fraternidade.

‘DEUS VIU QUE TUDO ERA MUITO BOM’

A abertura da atividade ocorreu com um momento orante, durante o qual foi recordado o Cântico das Criaturas, escrito por São Francisco de Assis em 1225; apresentado o hino e a oração da CF 2025; e feita a leitura do capítulo 1 do livro de Gênesis, que relata a Criação, com destaque para a passagem “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), lema escolhido pela Conferência Nacio­nal dos Bispos do Brasil (CNBB) para a Campanha.

Ao comentar a leitura bíblica, Pa­dre Andrés destacou que Deus criou o homem e a mulher para que zelassem por toda a Criação, mas o pecado os le­vou ao caos, o qual só será superado se a humanidade voltar a ter comunhão com Deus. “Temos de responder a este chamado de Deus para ir organizando as coisas e não sermos pregadores do fatalismo, mas sim ter este olhar de que ‘Deus viu que tudo era muito bom’”, comentou.

ECOLOGIA INTEGRAL

Na sequência, Dom Rogério apresen­tou alguns dos pontos centrais do tex­to-base. Inicialmente, ele lembrou que esta será a nona vez que a CF aborda um tema relacionado à ecologia, a qual pode ser entendida em três dimensões: a da ciência (todas as criaturas que habitam o planeta se relacionam), a das práticas (pessoas e grupos se reúnem para deter a destruição da Terra) e a da nova mentali­dade (a relação de reciprocidade respon­sável entre o ser humano e a natureza).

O Bispo também mencionou os pon­tos 9 e 10 do texto-base, nos quais se explica que a ecologia integral não deve ser entendida apenas na perspectiva da ecologia verde (o cuidado com as flores­tas e rios, por exemplo), mas também da ecologia econômica e social.

“Para nós, a ecologia integral é tam­bém espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos ma­teriais são bons, se orientados para a sal­vação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, ‘Deus viu que tudo era muito bom’ (Gn1,31)”, consta no ponto 12 do texto-base lido pelo Bispo.

CRISE SOCIOAMBIENTAL

Dom Rogério lembrou, ainda, que o texto-base discute as origens da atual crise socioambiental e no ponto 26 indi­ca como uma das razões o atual modelo de desenvolvimento centrado no extrati­vismo/exploração dos recursos naturais, tendo entre suas consequências o aque­cimento global. Já no ponto 34 é recor­dado que as mudanças climáticas são uma ameaça à paz; e no número 42 fri­sa-se que o Papa Francisco, na exortação apostólica Laudate Deum, destaca que as pequenas ações cotidianas são funda­mentais para a mudança deste panorama de degradação, levando a uma “conver­são ecológica”, abordagem já apresentada por São João Paulo II em 2001 e que vem sendo enfatizada por Francisco, como consta no ponto 58 do texto-base.

‘ILUMINAR/DISCERNIR’ E ‘AGIR/PROPOR’

O Bispo referencial da CF na Arqui­diocese também leu o ponto 63 do tex­to-base – “Iluminados pela fé, buscamos caminhos para superar a ‘complexa crise socioambiental’ (Laudato si’ – LS 139) pela qual passamos” – que sintetiza o que é tratado no segundo capítulo des­te subsídio – “Iluminar/Discernir”: um olhar para a ecologia integral a partir da releitura de textos bíblicos; da perspecti­va dos Santos Padres da Igreja (séculos I-V); dos ensinamentos do Magistério e da Doutrina Social; e de elementos das ciências e da sabedoria dos povos.

Em relação ao terceiro capítulo “Agir/ Propor”, Dom Rogério comentou que no ponto 132 é indicado que o êxito da ação depende muito do exercício de ouvir e de refletir. Mencionou, ainda, o ponto 135, alusivo a um trecho da Laudate Deum no qual o Papa destaca que as soluções mais eficazes não virão apenas dos esforços individuais, mas das grandes decisões da política nacional e internacional; e o ponto 155, que introduz as propostas concretas de ação nos âmbitos pessoal, comunitário e sociopolítico, as quais são detalhadas entre os pontos 156 e 168 do texto-base.

OS PRÓXIMOS PASSOS

Na parte final do encontro, Padre Andrés motivou os participantes a es­tudarem o texto-base e as propostas de ação indicadas, para que possam pensar em iniciativas, como momentos formati­vos de âmbito regional, decanal ou paro­quial. Indicou-lhes, ainda, outros subsí­dios da Campanha como o CF na Escola, CF na Catequese, CF na Universidade, Via Sacra a Via Lucis, Terço da Ecologia Integral, entre outros.

Ao O SÃO PAULO, o Sacerdote disse esperar que os participantes do encontro “sejam multiplicadores do que ouviram para outros agentes, criem espaços de discussão e de estudo. É muito bom a re­flexão desta Campanha da Fraternidade, porque ela nos convida a uma conversão ecológica integral. E a cada ano, a CF busca atingir a todos, cada cristão, cada cidadão, e não somente aqueles que têm a ver com o tema. A Campanha busca a transformação do nosso mundo”.

Também Dom Rogério pediu o em­penho dos participantes para difundir a Campanha em suas regiões episcopais, decanatos e paróquias, a fim de sensibili­zar o maior número de fiéis. “Já neste fi­nal do mês de outubro, temos a graça de ter o texto-base e de realizar este encon­tro de uma Campanha que acontecerá na Quaresma de 2025. No entanto, se já não tomarmos contato com o texto-base, não o estudarmos e não ajudarmos a for­mar as pessoas, não haverá a Campanha da Fraternidade, acontecerá apenas a co­leta”, ressaltou.

“Esta campanha é da Igreja. Temos que insistir em apresentá-la e trabalhar com paciência, lembrando sempre que a CF jamais deve ser razão para nos di­vidir”, prosseguiu o Bispo, que ao longo do encontro também alertou: “Entre nós não pode haver confusão. Se para nós a Campanha da Fraternidade virar ide­ologia, chegaremos àquilo que o Papa Francisco afirmou: querem transformar a Igreja em uma ONG. Entre nós não pode jamais haver isso. Temos vários grupos, mas a mesma espiritualidade, e queremos todos fazer a mesma Campa­nha”, insistiu.

Padre Andrés recomenda que a abordagem da temática não seja im­positiva, mas de busca de diálogo: “Se formos conversar já querendo brigar ou se defender, não vamos dialogar. O diálogo se dá quando eu me surpreen­do com a proposta do outro. Portanto, busquemos apresentar a Campanha de forma que surpreenda os demais. Vis­tamo-nos de Jesus Cristo, do Evangelho e da Campanha da Fraternidade e va­mos em frente”.

Conheça o Caderno Laudato si’ – por uma ecologia integral

Bimestralmente, o jornal O SÃO PAULO publica o Caderno Laudato Si’ – por uma Ecologia Integral, com temáticas sobre as questões ambientais e de sustentabilidade à luz da Doutrina Social da Igreja e do magistério do Papa Francisco.

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