Caminho pós-sinodal: ‘O Espírito Santo há de nos assistir nos próximos passos’

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Foram quase seis anos de caminhada entre a convocação e a conclusão do 1º sínodo arquidiocesano de São Paulo. No sábado, 25, às 15h, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidirá a celebração de seu encerramento, na Catedral da Sé. Na ocasião, será publicada uma Carta Pastoral do Arcebispo Metropolitano, com diretrizes e orientações pastorais emanadas do processo de escuta e discernimento.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Dom Odilo avaliou os trabalhos do sínodo, apresentou destaques daquilo que foi visto e ouvido sobre a realidade pastoral e evangelizadora na cidade, assim como do processo de implementação das propostas sinodais.

O SÃO PAULO – Qual avaliação geral o senhor faz do caminho sinodal percorrido pela Arquidiocese nos últimos seis anos?

Cardeal Odilo Pedro Scherer – O sínodo não nasceu pronto, mas foi um caminho feito juntos, dia após dia. Tínhamos umas ideias e algumas convicções iniciais; contamos com a colaboração de muitas pessoas na organização do sínodo, em cada etapa, e com uma boa participação do povo, do clero e religiosos. A adesão não foi total, mas bastante satisfatória. Estou convencido de que a decisão de realizar este sínodo arquidiocesano foi acertada.

Quando o senhor convocou o sínodo, destacou esse processo como “olhar-se no espelho” e “ouvir o que o Espírito tem a dizer para a Igreja que está em São Paulo”. O que destaca do que se viu e ouviu sobre a realidade da Arquidiocese?

Penso que o sínodo foi esse “olhar-se no espelho”; procuramos ver e ouvir como estão as coisas na concretude da vida eclesial e pastoral. Essa tomada de consciência é importante para que se possam tomar decisões e atitudes eficazes para dar novo impulso à vida eclesial e à missão evangelizadora. Um grande momento desse “olhar-se no espelho” foi o levantamento promovido em 2018 sobre a situação religiosa e pastoral de toda a Arquidiocese; foi isso que também aconteceu com o levantamento das situações objetivas de nossas paróquias. Tudo isso, não por mera curiosidade, mas para promovermos um discernimento sobre o que o Espírito Santo diz à Igreja em São Paulo, quer pela voz do povo e das circunstâncias, quer pela Palavra de Deus e da Igreja.

Como se dará o processo para implementar as diretrizes e propostas emanadas dessa escuta e discernimento sinodais?

A assembleia sinodal arquidiocesana elaborou uma série de propostas pastorais para promover a “comunhão, conversão e renovação missionária” em nossa Arquidiocese. São questões que, mais especificamente, interpelam iniciativas pastorais e organizações eclesiais específicas. Mas, na conclusão do sínodo, também será publicada uma Carta Pastoral do Arcebispo, com orientações gerais para a implementação do sínodo. Isso tudo requer que o sínodo, por meio das orientações e propostas elaboradas, seja agora devolvido às comunidades e organizações eclesiais em todos os níveis da Arquidiocese. Será muito importante que haja uma “apropriação” das propostas e orientações sinodais nas paróquias, envolvendo o povo e as expressões da vida eclesial, que estão na base da Igreja.

Tendo em mãos a Carta Pastoral e as propostas elaboradas pela assembleia arquidiocesana do sínodo, o que devem fazer a partir de agora as paróquias, comunidades e pastorais da Arquidiocese?

Antes de tudo, é importante que tudo se torne conhecido, que se reflita e pergunte, o que tudo isso tem a ver com as respectivas comunidades e organizações pastorais. Como São Paulo, continuemos a nos perguntar: “Senhor, o que devemos fazer?” Precisamos de muita oração e docilidade ao Espírito Santo, pois sem isso todo o trabalho pode ficar sem fruto. Nosso sínodo é uma proposta de “conversão e renovação missionária”, coisas muito necessárias na Igreja atualmente.

O senhor percebe que as pessoas envolvidas nesse processo despertaram a consciência para uma Igreja mais sinodal na sua maneira de ser e atuar?

 Sim, quem participou do processo sinodal já percebeu a orientação sinodal. Algo disso também já se percebe nas comunidades. Mas temos um longo caminho a fazer e precisamos trabalhar com paciência e lucidez para mudar certa cultura, segundo a qual a Igreja é uma instituição clerical. Geralmente, a Igreja é identificada com o clero e o povo é visto ou se compreende como “assistido pela Igreja” e como se dela não fizesse parte. Uma Igreja mais sinodal é caracterizada pela consciência de que todos os batizados são verdadeiramente membros da Igreja, a pleno título e, pela graça de Deus, participam da sua vida e missão, do seu patrimônio espiritual e da sua grande esperança. E cada membro da Igreja tem dons e carismas, com os quais contribui para a vida e a missão da Igreja. Na Igreja, o clero tem uma missão de grande importância, mas isso não coloca os clérigos acima dos demais batizados; eles estão a serviço do povo de Deus e de Jesus Cristo. A base comum na Igreja é a graça de sermos membros do Povo de Deus, do Corpo de Cristo, da família de Deus. E isso tem início no Batismo. Quando isso for mais assimilado pelo povo dos batizados, muita coisa mudará na “comunhão, participação e missão” da Igreja.

Há algum núcleo central nas propostas e orientações sinodais que mereça atenção especial?

O núcleo central do sínodo está no seu tema: “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária”. Isso é o que mais precisa ficar em evidência o tempo todo: promover e viver a comunhão eclesial; aceitar os apelos à conversão pessoal e pastoral, para a renovação da vida eclesial e da ação evangelizadora. E que nossa Igreja se torne mais missionária, pois sem isso ela se torna um organismo envelhecido e sem vitalidade. Tudo, nas orientações e propostas sinodais, gira em torno desses elementos, presentes no tema do sínodo.

Como viver essa etapa de implementação das reflexões do sínodo arquidiocesano em sintonia com a continuidade do caminho sinodal universal? Esses caminhos se integram?

 Nosso sínodo arquidiocesano iniciou três anos antes da convocação do Sínodo universal pelo Papa Francisco. Foi com alegria que constatamos que estávamos em sintonia com o Sínodo universal, quer no tema, quer na metodologia. Agora, encerrado o nosso sínodo, estaremos acompanhando as próximas etapas do Sínodo universal e, depois, acolheremos as orientações que vierem do Papa, na exortação pós-sinodal. Estaremos em “comunhão sinodal” com toda a Igreja. As Igrejas particulares, mundo afora, têm suas situações próprias e assimilarão as orientações do Sínodo universal para suas realidades particulares. Certamente, muitas dioceses estarão iniciando processos semelhantes ao que nós já realizamos em São Paulo.

Qual o sentimento do senhor, como Arcebispo, ao ver a conclusão deste sínodo e os frutos que já podem ser vistos?

 É um sentimento gratidão a Deus e a todos os colaboradores; sensação de etapa vencida, que se abre a novas e exigentes etapas pela frente. Até aqui chegamos, com a graça de Deus. O Espírito Santo há de nos assistir nos próximos passos.

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