Cardeal Scherer: A Eucaristia é um bem da Igreja e deve ser celebrada com dignidade

(Foto: Luciney Martins/ O SÃO PAULO)

Na Quinta-feira Santa, 14, a Igreja Católica faz memória da instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Essa data é marcada pela Missa da Ceia do Senhor, celebração que abre o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

Na Catedral da Sé, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidirá essa celebração a partir das 18h, com transmissão pela rádio 9 de Julho e pelas mídias digitais da Arquidiocese.

Instituída por Jesus Cristo na Última Ceia, a Eucaristia perpetua o sacrifício da cruz na Igreja ao longo dos séculos. Quando este sacramento é celebrado, o acontecimento central de salvação se faz realmente presente e “realiza-se também a obra da nossa redenção”, como expressou São João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia (2003).

A Igreja Católica reafirma sua fé no sacramento da Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã, e testemunha publicamente sua convicção da presença real de Jesus Cristo nas espécies do pão e do vinho consagrados na missa.

RESSURREIÇÃO

O santo sacrifício eucarístico torna presente não só o mistério da Paixão e Morte de Jesus, mas também o mistério da sua Ressurreição. Por estar vivo e ressuscitado é que Cristo pode se tornar “pão da vida” (Jo 6,35.48). Tal verdade de fé era proclamada pelos padres e doutores dos primórdios da Igreja. Santo Ambrósio lembrava aos cristãos recém-batizados: “Se hoje Cristo é teu, Ele ressuscita para ti cada dia”.

Nesse sentido, é Cristo que se oferece a si mesmo em cada missa celebrada, sendo o sacerdote o ministro que age in persona Christi (na pessoa de Cristo). Sobre isso, São Paulo VI, na encíclica Mysterium fidei (1965), destaca que “toda a missa, ainda que celebrada privadamente por um sacerdote, não é ação privada, mas ação de Cristo e da Igreja”, em cujo sacrifício “aplica à salvação do mundo inteiro a única e infinita eficácia redentora do Sacrifício da Cruz”.

Dignidade e respeito

Durante a Missa do Crisma, na manhã da quinta-feira, na Catedral da Sé, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, ressaltou aos padres da Arquidiocese a dignidade e o zelo com que sacramento da Eucaristia deve ser celebrado e valorizado nas comunidades.

“A Eucaristia não é um bem privado, mas da Igreja. Nesse sentido, devemos observar rigorosamente aquilo que a Igreja, no seu magistério, prescreve para a celebração”, afirmou o Cardeal, acrescentando que há espaço para a “criatividade justa e louvável”, desde que não ultrapassem os limites do que prescrevem as normas litúrgicas.

“Nós não somos atores de um teatro ou espetáculo, nós celebramos in persona Christi”, acrescentou o Arcebispo, recordando que, como tal, é o primeiro responsável pela liturgia na Arquidiocese e, por isso, tem a missão de exortar o clero e os demais fiéis a esse respeito.

Comunhão

Dom Odilo também lembrou a importância de receber devidamente a comunhão eucarística, com fé e respeito, segundo as formar previstas pela liturgia.

O ápice da participação na Eucaristia é a comunhão. É o próprio Jesus que convida: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53).

O principal fruto da comunhão eucarística é a união íntima com Cristo Jesus. “De fato, o Senhor diz: ‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele’ (Jo 6,56). A vida em Cristo tem o seu fundamento no banquete eucarístico: ‘Assim como o Pai, que vive, me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também o que comer a minha carne viverá por Mim’ (Jo 6,57)”, recorda o Catecismo da Igreja Católica, que enfatiza, ainda, que a comunhão da carne de Cristo Ressuscitado conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo.

A Comunhão também afasta o fiel do pecado, sendo, portanto, “sustendo e remédio” no processo de conversão. “É por isso que a Eucaristia não pode nos unir a Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo, dos pecados cometidos, e nos preservar dos pecados futuros”, reforça o Catecismo.

PREPARAÇÃO

Para receber o Corpo e o Sangue de Cristo, é necessária a devida preparação. Nesse sentido, a Igreja exorta os que tiverem consciência de um pecado grave a receberem o sacramento da Reconciliação antes de se aproximarem da Sagrada Comunhão, com o fim de evitar um sacrilégio e usufruir das graças infinitas de tão admirável dom.

Os que recebem a Eucaristia ficam mais estreitamente unidos a Cristo, que une todos os fiéis em um só corpo: a Igreja. Santo Tomás de Aquino afirmou que “o efeito típico da Eucaristia é a transformação do homem em Cristo”. Já São Leão Magno destacou: “A participação do Corpo e Sangue de Cristo não faz outra coisa senão nos transformar no alimento que tomamos”.

VIDA ETERNA

Na homilia do XX Congresso Eucarístico Nacional da Itália, em 1983, São João Paulo II afirmou:

“Na Eucaristia, vem inscrito o que de mais profundo tem a vida de cada homem: a vida do pai, da mãe, da criança e do ancião, do rapaz e da jovem, do professor e do estudante, do agricultor e do operário, do homem culto e do homem simples, da religiosa e do sacerdote. De cada um, sem exceção. Eis, a vida do homem vem inscrita, mediante a Eucaristia, no mistério do Deus vivo. Neste mistério — como no eterno Livro da Vida — o homem ultrapassa os limites da contemporaneidade, encaminhando-se para a esperança da vida eterna. Eis, a Igreja do Verbo Encarnado faz nascer, mediante a Eucaristia, os habitantes da eterna Jerusalém”.

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