De suas casas, famílias celebram o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo

O SÃO PAULO apresenta relatos de como os fiéis vivenciaram a Semana Santa sem a ida presencial às celebrações nos templos

Fabiana Pereira, os filhos e o esposo ornamentaram ambiente para acompanhar a Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa

Diante do aumento do número de casos, internações e mortes por COVID-19 em São Paulo, a Arquidiocese suspendeu temporariamente, no início de março, as celebrações com a participação presencial de fiéis, visando à prevenção do contágio com o coronavírus.

As medidas restritivas nas igrejas foram reforçadas na carta do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, em 21 de março, e por ele reafirmadas no programa “Diálogos de Fé”, no Domingo de Páscoa, 4.

Durante a Semana Santa deste ano, assim como ocorreu em 2020, os fiéis não puderam ir aos templos para participar das celebrações da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. No entanto, de suas casas, eles acompanharam as transmissões on-line.

Família de Deli Júnior manteve-se unida em oração na Semana Santa

Foi assim na casa do analista de RH Deli Júnior, 34, que acompanhou as celebrações na companhia do filho Yuri, de 9 anos, e da esposa Mayra, grávida há 4 meses. “Colocamos um ramo na porta do apartamento, assistimos às missas on-line e rezamos o Santo Terço”, conta o morador do bairro de Pirituba, na zona Noroeste.

“A Páscoa é o momento mais importante para nós, no qual Cristo vence a morte e ressuscita para nos abrir o céu. É triste não estar comungando o corpo de Cristo, mas somos esperançosos no amor de Deus por nós”, complementou o paroquiano da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, na Região Brasilândia.

‘Só Ele pode nos dar as mãos’

Também moradora de Pirituba, a professora Rosângela de Oliveira Silva, 48, acompanhou on-line as celebrações da Semana Santa, ao lado do esposo, dos dois filhos – Vinicius e Carolina – e dos três netos.

Espaço para oração na casa de Rosângela de Oliveira

Ela começou a se preparar para a Páscoa com um retiro quaresmal. “A experiência com Deus é sempre maravilhosa. Nesta caminhada de 40 dias com a igreja, refletimos o quanto Ele nos ama, cuida de tudo com carinho e que em certos momentos só Ele pode nos dar as mãos”, pontua Rosângela.

Foi um momento ainda mais especial para ela e o filho, que estão em isolamento social mais rígido, após terem sido infectados com o coronavírus. “A Semana Santa nos fortaleceu para suportar este momento e nos fez dar mais valor à vida, entender o sofrimento do próximo como se fosse nosso e que a cruz não é vazia. Cristo morreu para nos dar a vida eterna”, reforça a professora.

Paroquiana da Paróquia São Luís Gonzaga, também na Região Brasilândia, ela destaca que um dos instantes mais marcantes das transmissões ocorreu na celebração da Sexta-feira Santa, quando foi apresentada uma cruz revestida de fotos de parentes dos fiéis que morreram vítimas da COVID-19. Uma das fotos era de seu tio, morto aos 80 anos. “Essa cruz foi uma linda homenagem [aos nossos entes]. O sofrimento de cada um que fez sua Páscoa, assim como Jesus, nosso Salvador.”

De pais para filhos

A secretária Vanessa Pito, 41, e o engenheiro civil Christian Pito, 44, são pais de Luiza, 9 anos, e Catarina, 6. O casal atua na Paróquia Santa Teresinha, na Região Santana, como ministros extraordinários da Sagrada Comunhão, coordena a Pastoral Familiar paroquial e os dois são membros da Pastoral da Comunicação.

Como no ano passado, a família fez orações diárias e acompanhou as transmissões on-line de toda a Semana Santa. “Separamos ramos de oliveira e palmeiras para colocar no portão e na porta de casa, inclusive, durante a celebração”, relata Vanessa.

Na Sexta-feira Santa jejuaram, como detalha a secretária: “As crianças fizeram uma refeição mais leve e iniciamos nossa preparação às 13h45 com um momento de oração com Cristo. Faríamos essa vigília se estivéssemos na igreja com os grupos de jovens e da Pastoral Familiar. Às 15h, participamos da Paixão do Senhor”.

No Sábado Santo, eles participaram presencialmente da Vigília Pascal, auxiliando na Liturgia e na transmissão on-line. “Proclamei duas leituras e o Christian auxiliou na transmissão pelo YouTube. As meninas ficaram em casa com meus pais, com quem assistiram à missa”, detalha Vanessa.

No Domingo de Páscoa, o casal e os filhos, em casa, acenderam o círio pascal familiar.  “Fazemos questão que nossas filhas estejam sempre conosco durante as missas e nos momentos de louvar e agradecer o sacrifício de amor de Jesus para conosco”, afirmou a mãe.

Perto apesar de longe

A professora de Educação Infantil Fabiana Pereira, 41, participa regularmente de duas paróquias, ambas na Região Santana: a Santa Teresinha, com atuação na Pastoral Familiar e no Encontro de Jovens; e a Santa Luzia, na Pastoral de Eventos.

Ela está sempre na companhia dos filhos, Davi, 8, e Felipe, 5, e do esposo, Marcelo, que é ministro extraordinário da Sagrada Comunhão e auxilia no ministério de música das duas paróquias, atividades que realizou presencialmente nesta Semana Santa.

“Sinto muito, inclusive pelas crianças, por não podermos participar com ele [Marcelo]. Assistimos às missas on-line, mas não estar lá e não receber a Eucaristia dói muito. Dói ver o templo vazio”, desabafa Fabiana.

“Mesmo em casa, colocamos nosso ramo na porta, simbolizando a entrada de Jesus em Jerusalém, e montamos um altar da Santa Ceia. No Sábado Santo, acendemos o mini círio que ganhamos, quando o padre, durante a Vigília Pascal, acendeu o Círio Pascal na igreja”, relata a professora.

A família também se reuniu por chamada de vídeo com amigos das duas paróquias na Quinta-feira Santa. “Cantamos, rezamos, lemos a Bíblia e houve até testemunhos de fé”, prossegue Fabiana. “Temos de manter nossa fé viva e buscar animar nossos irmãos, porque não tem sido fácil para ninguém. Precisamos procurar estar perto, mesmo estando longe. Que a renovação aconteça todos os dias em nossas vidas”, finaliza.

guest
1 Comentário
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários
Pri
Pri
3 anos atrás

Bela reportagem Ira com a mesma sensibilidade de sempre!