Dom Odilo dedica altar e igreja matriz da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus

Templo localizado na Região Episcopal Brasilândia teve restauro iniciado em 2018

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Após passar por uma verdadeira reconstrução, a igreja matriz da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, no Jardim Sydney, na zona Noroeste, foi dedicada, bem como seu novo altar, na noite do domingo, 9, em missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. 

“Que esta casa de oração, casa de Deus no meio das nossas casas, seja sinal da fé que nós temos”, expressou Dom Odilo no começo da missa, que teve entre os concelebrantes Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, e o Padre Francisco Antônio Rangel de Barros, Pároco. 

A RECONSTRUÇÃO 

Como muitas das comunidades católicas da cidade de São Paulo, a Santa Teresinha do Menino Jesus começou pela união de fé das famílias do bairro, na década de 1960. Inicialmente, era vinculada à Paróquia Nossa Senhora do Retiro, também na Região Episcopal Brasilândia. 

Com o decorrer dos anos, a igreja foi ganhando novas estruturas, construídas em mutirão e com grande envolvimento dos fiéis para a obtenção de recursos. Em 7 de outubro de 1995, Dom Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo Metropolitano, erigiu a Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus em solene celebração. 

Ao longo das décadas, a falta de um único projeto de construção deixou marcas na estrutura, tornando urgente a realização de uma reforma no templo. 

“A nossa igreja meio que estava caindo aos pedaços. Sempre que chovia molhava muito por dentro. Foram feitos ‘puxadinhos’ ao longo dos 40 anos. A fiação elétrica estava precária, havia risco de incêndio a qualquer momento”, recordou à reportagem Claudio dos Santos, 51, ministro extraordinário da Sagrada Comunhão e membro do conselho administrativo. 

“Quando começou a reforma, vimos que seria mais complicado. Precisaríamos de novas paredes, pois as antigas não suportariam, foi praticamente tudo reconstruído”, contou Jesus Donizete Furtado, 60, um dos paroquianos mais antigos, também ministro extraordinário da Sagrada Comunhão. 

“Inicialmente, a nossa ideia era de mexer para aproveitar melhor os espaços. Percebemos, porém, que a estrutura não comportaria uma reforma. Assim, tivemos de destruir quase tudo”, recordou o Padre Rangel. Pároco desde 2011, ele afirma que toda a comunidade se envolveu no processo de reconstrução, seja com doações individuais, seja ajudando a vender carnês e participando de eventos em prol da reforma. Também foram conseguidas doações de itens de iluminação e marmoria, e os padres montfortinos, que foram pioneiros naquela comunidade paroquial, também enviaram contribuições financeiras. 

O projeto de restauro foi apresentado em 2017 e iniciado em 2018. Por alguns meses, as missas e atividades pastorais ocorreram na Escola Municipal de Ensino Fundamental Renato Antonio Checcia, localizada no bairro, mas já em 2019 gradualmente as ações retornaram para a igreja. Em 2020, a pandemia de COVID-19 impediu a reinauguração solene do templo, bem como os festejos dos 25 anos da Paróquia. 

SIMPLICIDADE E BELEZA 

A reconstrução da igreja, com capacidade para cerca de 250 pessoas sentadas, contou com o trabalho da arquiteta Milena Pereira. “Eu quis fazer uma arquitetura que fosse bela, funcional e, principalmente, desejei mostrar que a arquitetura bela não necessariamente tem a ver com luxo”, disse. 

A arquiteta contou que se baseou na arquitetura gótica e de igrejas da Idade Média, que tinham arcos característicos. O teto do novo templo é em formato de arco. “Busquei resgatar essa ideia do arco em relação ao céu. As igrejas antigas eram mais escuras, fechadas, mas aqui temos uma igreja muito clara, a luz vem do céu, que nos é dada por Deus”, comentou, explicando, ainda, que o crucifixo suspenso pelo teto e não fixado na parede busca evidenciar o principal símbolo cristão.

Milena afirmou, ainda, ter se preocupado com uma arquitetura sustentável, que além da luminosidade natural torna o ambiente interior sempre agradável: “Quis resgatar a essência do simples na construção da igreja, pensando em um lugar acolhedor, como Santa Teresinha que nos acolhe e ilumina”. 

‘QUEREMOS QUE DEUS ESTEJA NO MEIO DE NÓS’ 

Dom Odilo, na homilia, afirmou que, embora Deus não precise de uma casa, os templos são necessários para que as pessoas deem visibilidade à fé que têm no Senhor. 

“O templo é testemunho da nossa fé, testemunho de que Nele cremos, de que queremos que Deus esteja no meio de nós, por isso lhe fazemos uma casa para que nela o encontremos especialmente e manifestemos, de muitas maneiras, a nossa fé, adoração e louvor, ouçamos a sua Palavra e acolhamos as suas bênçãos e as suas graças, e, como família de Deus, venhamos aqui para encontrar o Pai”, detalhou o Arcebispo. 

Dom Odilo ressaltou que a Igreja tem em Jesus Cristo seu sólido fundamento e lembrou que cada pessoa é “templo vivo de Deus”, razão pela qual a dignidade humana sempre precisa ser respeitada, e cada batizado deve viver a santidade, em conformidade com os sacramentos.

O Arcebispo disse ainda que a igreja é a casa da Palavra de Deus, de onde ela sempre deve ressoar com abundância e encontrar ouvidos e corações abertos. Também mencionou que as pessoas vão ao templo para louvar a Deus, adorar, agradecer, suplicar, aprender sempre mais a partilhar e se reunir como comunidade na celebração da Eucaristia. 

Outra dimensão é a missionariedade: “Daqui somos enviados para nossas casas, nossos trabalhos, para ser uma igreja missionária, que sempre parte em mis- são, para que testemunhemos ao mundo o que aprendemos de Jesus e aquilo que a Igreja nos ensina.” 

RITOS 

A liturgia de dedicação começou logo após a saudação inicial do Arcebispo. Ele abençoou a água e a aspergiu sobre os fiéis, em sinal de penitência e em memória do Batismo, e nas paredes da igreja e no novo altar, para purificá-los. 

Depois do momento do Glória, o Lecionário foi depositado sobre o ambão, de onde são proclamadas as leituras da Palavra de Deus durante as celebrações litúrgicas. 

Após a homilia e a profissão de fé, aconteceu a Ladainha de Todos os Santos

Na sequência, foram depositadas sob o altar as relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus, Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, São José de Anchieta, Santa Paulina, Beatos Manuel e Adílio (também mártires), Beata Madre Assunta Marchetti, Beato Padre Francisco de Paula Víctor, Beato Padre Donizetti Tavares de Lima e São Justino (mártir). Esta última relíquia pertencia ao Cardeal Cláudio Hummes, falecido em julho deste ano, bem como uma outra relíquia de Santa Teresinha, que será mantida para veneração dos fiéis em épocas especiais, como na festa da padroeira. 

Depois, ocorreu o momento central do rito: a prece de dedicação, em que se roga ao Senhor: “Dignai-vos inundar esta igreja e este altar com a santidade celeste; que sejam lugar santo e mesa perenemente preparada para o sacrifício de Cristo”, lê-se em um trecho da prece. 

Na sequência, o Arcebispo ungiu o altar com o óleo do Santo Crisma, tornando, assim, o altar símbolo de Cristo, o ungido por excelência; e também ungiu as 12 cruzes nas paredes

Posteriormente, houve a incensação do altar e da igreja, com a queima do incenso sobre o altar, simbolizando o sacrifício de Cristo, que aí se perpetua em seu mistério, subindo a Deus em odor de suavidade; em seguida, também foi incensado o povo, templo vivo de Deus, e as paredes da igreja

A etapa seguinte foi o revestimento do altar, indicando-o como lugar do sacrifício eucarístico e mesa do Senhor, em torno do qual o sacerdote e os fiéis celebram o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. 

Por fim, o Arcebispo acendeu as velas nas laterais do altar, e diáconos fizeram o mesmo com as velas sobre as 12 cruzes nas paredes. A iluminação do altar e da igreja lembra que Cristo é “luz para a revelação dos povos” e que, com sua luz, resplandece a Igreja e toda a família humana. 

ESPERANÇA DE NOVO VIGOR PASTORAL 

Ao final da missa, Padre Rangel agradeceu a todos que se empenharam para a reforma do templo e pediu que os fiéis se mantivessem engajados: “A construção continua acontecendo na vida de cada um e do bairro. O templo dá este ar de novidade, de acolhimento, mas nós temos de fazer a diferença, se entendemos que somos pedras vivas deste templo”. 

À reportagem o Pároco disse que hoje estão bem estruturados na Paróquia a Renovação Carismática Católica (RCC), o grupo de oração, Catequese, Encontro de Casais com Cristo (ECC) e grupo de cerimoniários, acólitos e coroinhas, e que já ocorreram missões de porta em porta em anos anteriores. 

Uma preocupação tem sido a de tornar Santa Teresinha mais conhecida, inclusive entre os paroquianos. “Fomos construindo essa devoção a partir da espiritualidade de Santa Teresinha: fazer com amor as pequenas coisas, conquistar a santidade no dia a dia, procurar melhorar a cada oportunidade. Tem sido algo bom, que harmonizou mais a Paróquia. Procuramos trabalhar nas nossas novenas e nos nossos encontros do Conselho Pastoral Paroquial a espiritualidade dela”, detalhou Padre Rangel. 

Questionado sobre o que deseja ver aprimorado na Paróquia agora que a igreja matriz e seu altar foram dedicados, o Sacerdote disse esperar que os fiéis tenham maior conhecimento de que a igreja é “um templo onde nós, cristãos católicos, nos reunimos para celebrar a Eucaristia, para bendizer a Deus. O templo não é somente um barracão com aquilo que é próprio da Igreja, mas, também, um lugar dedicado, abençoado e oferecido para que Deus habite e faça acontecer a sua vontade na vida das pessoas”. 

Donizete Furtado acredita que este novo momento deve ser marcado por uma maior missionariedade: “Devemos ouvir o apelo do sínodo arquidiocesano, da Igreja em saída missionária. Temos um templo muito bonito agora, mas a igreja precisa ir até o povo, buscar mais pessoas”. 

“Hoje é um dia de grande emoção para nós que vimos o que era a igreja antes, que vimos a demolição, e agora recebemos essa dedicação. É uma emoção ímpar. Não fazemos nada por nós mesmos. Se conseguimos, foi contando com a ajuda Dele, que nos orienta para chegar longe, além do que poderíamos imaginar”, comentou Claudio dos Santos. 

Não menos emocionado estava o também paroquiano José Augustinho da Silva, que atua na empresa que realizou a reforma da igreja. Ao ler uma mensagem no começo da missa, ele lembrou que a reconstrução da igreja foi a expressão da fé dos paroquianos, “um testemunho no tempo atual e uma herança desta fé para a posteridade”. 

Antes da bênção final, o Arcebispo recordou que a cada ano, em 9 de outubro, deve ser celebrado o aniversário de dedicação da Igreja Santa Teresinha do Menino Jesus. E não há como esquecer, já que na entrada principal foi inaugurada uma placa comemorativa da data. 

“Que este templo seja alegria para vocês e que possam ser templos vivos de Deus, edificados como pedras vivas, todos os dias”, exortou o Arcebispo. 

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