‘Deus o acolha, lhe dê a recompensa da vida dedicada à Igreja, ao Evangelho e à humanidade’, afirmou durante missa na Catedral da Sé
Ao meio dia do sábado, 31 de dezembro, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu missa na Catedral da Sé, em sufrágio do Papa emérito Bento XVI, que morreu neste dia, aos 95 anos de idade, no Vaticano.
Dom Odilo, ao iniciar a homilia, rogou para que Deus acolha Bento XVI e “lhe dê a recompensa da vida dedicada à Igreja, ao Evangelho e à humanidade”.
“Bento XVI deixou um sinal importante na Igreja como homem sereno, inteligente, atento ao interlocutor, sempre olhando olho no olho, com muita atenção, interessado em ouvir, extremamente gentil e fino no trato com as pessoas. Estas são algumas das memórias que tenho dos momentos de proximidade com o Papa Bento XVI, situações que retratam um homem de Igreja muito diferente de um perfil muitas vezes descrito com certo amargor, como um homem ‘autoritário’ ou ‘duro’, não foi assim que o conheci”, recordou o Arcebispo de São Paulo.
O PAPA EM SÃO PAULO
O Arcebispo de São Paulo também fez memória da viagem apostólica do Papa Bento XVI ao Brasil, em maio de 2007, ocasião de momentos marcantes como o encontro com os jovens no estádio do Pacaembu – “ele ficou muito impressionado com as manifestações dos jovens, espontaneidade e da acolhida do povo brasileiro” –; o encontro com os bispo do Brasil na Catedral da Sé.
Dom Odilo recordou que nos dois últimos dias da viagem apostólica de Bento XVI, o Pontífice encontrou-se com religiosos, vocacionados e com o clero na Basílica do Santuário Nacional de Aparecida, foi à sede da Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá (SP), onde falou com pessoas em recuperação de dependência química; e, por fim, celebrou a abertura da Conferencia Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, no dia 13 de maio de 2007, em Aparecida.
RECORDAÇÕES DA JMJ MADRID 2011
Dom Odilo relatou uma passagem marcante em que testemunhou o carinho do Papa Bento XVI com os jovens durante a Jornada Mundial da Juventude em Madrid no ano de 2011.
“Um grande temporal, muito forte, se formou durante a fala do Papa; o vento muito forte balançava até a estrutura do palco onde ele e os bispos estavam. E mais de um milhão de jovens estava ali, numa esplanada, para ouvir o Papa, apanhando toda aquela chuva. Alguns seguranças chegaram a sugerir que o Papa se retirasse para um lugar mais seguro, pois a estrutura toda balançava, mas Bento XVI quis permanecer próximo dos jovens naquela situação. No final da celebração, ele se aproximou deles e de maneira muito paternal desejou que pudessem repousar ao menos um pouquinho naquela noite, porque todos passavam a noite ao relento, na chuva e molhados. Na manhã seguinte, já debaixo de muito sol, ele, a a primeira palavra dirigida aos jovens foi: ‘Como vocês passaram a noite? Puderam dormir um pouco?’. Achei isso de uma sensibilidade muito grande, que emocionou e cativou o coração dos jovens”, recordou.
UM SERVIDOR DA IGREJA
O Arcebispo de São Paulo também lembrou que tanto quando estava à frente da “barca de Pedro” quanto depois, como Papa emérito, Bento XVI sempre rezou pelo bem da Igreja e foi “uma pessoa de grande fé, lucidez e profundidade teológica e doutrinal. Ele deixa um legado importante para a Igreja e será certamente recordado como um dos grandes papas teólogos, tanto pelo que escreveu e falou quando já era Sumo Pontífice quanto pelo que escreveu antes de ser Papa”, enfatizou.
Dom Odilo também enalteceu o empenho de Bento XVI em ajudar a Igreja a se voltar para a sua essência de fé e missão: “Ele estava sempre muito preocupado com a superficialidade da fé e a perda da fé, com os valores não cristãos que penetravam dentro da Igreja, preocupado com as referências cristãs, dos países católicos, ou de maioria cristãs pelo menos, a perda dos valores éticos que defendem a vida. Bento XVI também será lembrado como o Papa que estimulou o clero a buscar a autenticidade na vivência de sua vocação e toda a Igreja, na revalorização de sua fé e no esforço renovado para transmiti-la aos outros”.
Ao longo de seu pontificado, Bento XVI também se manifestou sobre fatos relevantes e contribuição com o diálogo para o mundo da cultura, a teologia, a filosofia, a busca da verdade e do bem. “Como teólogo e humanista, tem largos horizontes e teve sua palavra geralmente acolhida com respeito e consideração; estimulou o mundo a pensar e a ir além das superficialidades de uma cultura consumista e imediatista. Sua encíclica social – Caritas in Veritate – é uma contribuição importante para o discernimento sério sobre as questões que atualmente afligem a humanidade, em todos os sentidos, sobretudo no sentido econômico, político e social. Estimulou muito, também, o diálogo entre as religiões e as culturas. Teve sempre a preocupação pela justiça, da paz e da solidariedade entre os povos”, enfatizou.
RENÚNCIA: EXEMPLO DE HUMILDADE E DESAPEGO
Ao falar da renúncia de Bento XVI ao pontificado, em fevereiro de 2013, Dom Odilo destacou que com este gesto o Pontífice “nos deu um grande exemplo de humildade, desapego e coragem e, ao mesmo tempo, de fé e generosidade, ao colocar em evidência que o bem e a missão da Igreja devem ocupar o primeiro lugar nas preocupações de todos aqueles que são chamados e constituídos no serviço do Rebanho do Senhor. Também indicou qual é a verdadeira natureza do ministério do Papa, dos bispos e de todos os sacerdotes: somos todos servidores do Povo de Deus em nome de Jesus Cristo e por encargo seu. É Ele o verdadeiro e único Senhor e Pastor da Igreja, que cuida dela e quer o seu bem mais do que ninguém outro!”.
Dom Odilo também rememorou a despedida de Bento XVI com os membros do Colégio Cardinalício, em 28 de fevereiro de 2013, ocasião em que o Pontífice enfatizou que “a Igreja não é simplesmente um projeto humano, feito e montado num escritório, para ser levado à aplicação prática, com estratégias humanas: ela é uma realidade viva; é obra do Espírito Santo, que a renova, faz florescer e produzir frutos. Bento XVI orientou a todos na Igreja para que permanentemente se abrissem à ação do Espírito”.
GRATIDÃO AO PAPA
Dom Odilo externou seu sentimento de gratidão e admiração pelo Papa Bento XVI: “Pessoalmente, cultivei pelo Papa Bento XVI um sincero sentimento de admiração e de gratidão pelo bem que fez à Igreja nos quase oito anos de pontificado, mesmo em meio a tantos sofrimentos e até incompreensões. Também sou grato por ter me chamado a integrar o Colégio Cardinalício em 2007 e a colaborar em diversos organismos da Santa Sé”.
Recordou, ainda, que o povo brasileiro é grato a Bento XVI por ter visitado o País em maio de 2007 e escolhido o Rio de Janeiro como sede da Jornada Mundial da Juventude de 2013.
“Que Bento XVI descanse de suas fadigas e sofrimentos e viva em paz na casa do Pai, na luz eterna, que procurou e propagou com todas as suas energias durante a sua missão neste mundo”, disse o Arcebispo ao concluir a homilia.
Após a missa, Dom Odilo atendeu os jornalistas em coletiva de imprensa e indicou que irá ao Vaticano para participar do funeral do Papa emérito. O corpo de Bento XVI estará na Basílica de São Pedro para a despedida dos fiéis a partir da segunda-feira, 2. A conclusão do funeral será na quinta-feira, 5, às 5h30 (horário de Brasília), na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.
(Colaborou: Fernando Arthur)