Dom Odilo: Papa não mudou a doutrina da Igreja sobre o Matrimônio e a família

Durante o programa “Diálogos de Fé”, transmitido pela rádio 9 de Julho (AM 1600 kHz) e pelo Facebook, no domingo, 25, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, comentou a repercussão midiática da declaração atribuída ao Papa Francisco em relação à união civil de pessoas do mesmo sexo.

Dom Odilo destacou que, em primeiro lugar, é preciso compreender que o documentário “Francesco”, lançado em Roma no dia 21, reproduz uma série de declarações do Pontífice feitas em diferentes ocasiões e, portanto, não são afirmações novas. Em seguida, o Cardeal ressaltou que o documentário tem o objetivo de transmitir uma ideia específica proposta por seu autor e, por isso, não é um jornalismo objetivo.

“O documentário tem uma linha de pensamento e usa palavras do Papa que foram inseridas para corresponder a essa ideia”, acrescentou o Arcebispo, sublinhando que declarações do Santo Padre foram “cortadas”, “costuradas” e colocadas em um contexto diferente do original, como mostrou um artigo publicado pelo O SÃO PAULO.

Por essa razão, imediatamente após o lançamento do documentário, os noticiários destacaram que o Papa havia aprovado o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, Dom Odilo enfatizou que isso não corresponde aos fatos.

CONTEXTO

“O Papa disse que os homossexuais também têm o direito de ter uma família, não devem ser expulsos da família por sua condição e nem devem ser tratados mal. Isso difere de dizer que eles têm o direito de formar família”, explicou o Cardeal, completando que o Pontífice deixou essa ideia clara em diferentes ocasiões, ao afirmar que tais uniões nunca serão equivalentes a um casamento como a Igreja compreende, entre um homem e uma mulher e que, nesse sentido, o máximo que uma legislação civil poderia estabelecer é uma união com direitos civis, mas nunca compará-las a um casamento. “É essa a posição da Igreja”, recordou.

“Não estou fazendo nenhuma crítica aos homossexuais, mas, simplesmente, esclarecendo o que foi dito no documentário e aquilo que é a palavra do Papa”, esclareceu o Arcebispo, reforçando que, quando se lê uma notícia, é preciso fazer uma hermenêutica, isto é, perguntar-se o que se está querendo dizer realmente, compreendendo o contexto original da afirmação. Dom Odilo lembrou que a distorção de uma declaração é também uma forma de fake news. “O cuidado deve ser sempre o de se perguntar: ‘Onde está escrito? Quando foi dito? Quero ouvir, quero ler e procurar a verdade na sua fonte’. Isso é fundamental. Do contrário, embarcamos na reação imediata, na raiva, nos aplausos, sem saber o que é. Nós precisamos começar a colocar os pés no chão, não reagir sem saber do que se trata”, recomendou.

DOUTRINA PERMANECE

O Cardeal recordou os ouvintes e internautas de que as declarações originais do Papa sobre esse tema também se inserem no contexto das assembleias do Sínodo dos Bispos sobre as famílias, realizadas em 2014 e em 2015, das quais ele participou. “Convido a recordamos a exortação apostólica pós-sinodal Amoris laetitia, que fala sobre o casamento e a família e, também, dos homossexuais em relação à Igreja. No contexto do Sínodo, tudo isso veio e foi debatido. As questões não são novas, nem são palavras novas do Papa. Não houve um pronunciamento novo. Que isso fique bem claro”, disse.

Por fim, o Arcebispo lamentou que o Santo Padre esteja sendo criticado até por católicos que se deixaram levar por manchetes sensacionalistas, que dão a entender que ele rompeu com os ensinamentos da Igreja, quando, na verdade, a doutrina sobre o Matrimônio e a família permanece a mesma. “É preciso ter muita calma!”, concluiu.

(Colaborou: Jenniffer Silva)

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