Educadores além das salas de aula e das telas: mestres na escola e na vida

(Crédito: Centro de Mídias da Educação de São Paulo)

Durante a atual pandemia, escolas públicas e particulares tiveram a rotina drasticamente modificada, com aulas on-line e adequação a novas condições de crianças, adolescentes e jovens. Para alguns, as mudanças, embora difíceis, vieram acompanhadas por meios e formas novas de ensinar e aprender, mas, para outros, dificuldades como a falta de espaços e equipamentos, tornaram a tarefa de estudar em casa muito difícil e, em alguns casos, quase impossível.

A falta que o contato humano faz!

Laura Amorim, 27, é educadora da Educação Infantil de uma escola particular na Zona Leste de São Paulo. Ela acompanha crianças entre 2 e 3 anos de idade e diz que se viu frente a um desafio enorme quando a escola propôs aulas on-line.

“Primeiro, tentamos fazer as aulas em vídeos gravados que podiam ser assistidos em qualquer momento, mas percebemos que não funcionava muito bem. Decidimos, então, fazer aulas on-line em tempo real. De acordo com as horas/aula que deveríamos dar, determinamos 4 horas/aula por dia”, explicou a educadora.

O desinteresse total das crianças quando as atividades foram propostas foi, aos poucos, transformando-se em novas formas de interação entre educadores e alunos.

“Preparávamos e dávamos as aulas sem as crianças, que podiam acessar o conteúdo posteriormente. Foi muito difícil pensar em formas que não considerassem o contato, o vínculo afetivo. São crianças que ainda usam fraldas, por exemplo, e, na nossa rotina, temos atividades como higiene pessoal, refeições e o contato que faz parte do processo de aprendizagem nesta fase”, disse Laura, que realiza por dia quatro períodos com 40 minutos cada.


Das 16 crianças que acompanha, em média, quatro participam das atividades virtuais e Laura tem recebido um bom retorno, seja dos pais, seja das próprias crianças. “Eu compreendo a situação, pois, como mãe de uma criança de 4 anos, preocupo-me com o tempo que minha filha fica em frente da tela e como isso tem modificado o comportamento dela. Temos que pensar formas de transformar tudo isso em uma experiência positiva”, disse.

Sempre disponível!

Felipe Paulo Carneiro é professor de História na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Paulo Carneiro, que fica dentro de uma comunidade no Parque Vila Maria, zona Nordeste da capital.

“É um local de alta vulnerabilidade social, em que muitas famílias trabalham com serviços gerais ou em transportadoras e uma minoria tem acesso a celulares smartphones ou internet que comporte o acesso às aulas de forma eficiente”, explicou o educador.

(Crédito: Prefeitura de Várzea Paulista)

Devido à dificuldade de acesso à internet, Felipe e outros professores decidiram compartilhar seus contatos pessoais e colocarem-se à disposição dos alunos nos horários em que eles pudessem.

“Quando eles pegam os celulares dos pais ou de algum parente nos procuram. Estão muito ansiosos pelo retorno às aulas, até mesmo pelo acesso à alimentação, que a escola proporciona. Além de professores, acabamos fazendo papel de facilitadores e apoiadores emocionais e para isso não há um horário determinado. Às vezes, os jovens nos procuram à noite, aos fins de semana e precisamos estar disponíveis para acolher. Acolher e conversar com eles, neste momento, é uma forma de educar”, afirmou o educador.

O professor precisa ‘calçar os sapatos’dos alunos e das famílias

Para Janaina Santos Silva Soggia, professora de Língua Portuguesa e Literatura de uma grande escola de São Paulo, a principal dificuldade durante as aulas on-line foi a familiaridade com as novas ferramentas, no caso da escola o Microsoft Teams, além de repensar as estratégias pedagógicas para transmitir conhecimento, engajar os alunos e organizar as aulas diante de um cenário e suporte completamente novos.

(crédito: Prefeitura de Santo Antônio de Posse)

“Foram necessárias incontáveis reuniões, testes e alinhamentos da equipe pedagógica e diretiva para acertarmos essas arestas. Depois, chegou a hora de “enfrentar o medo” do novo. Parecia haver retornado 13 anos no tempo, quando ministrei minha primeira aula”, disse Janaina.

Professora do 6º e 7º anos do Ensino Fundamental II e da 3ª série do Ensino Médio, a educadora afirma que a participação tem sido bem efetiva por grande parte dos alunos.

“O desafio é instigá-los a fazer parte do processo, ainda que com suas dificuldades. É importante dizer que, nesse momento, a palavra de ordem é a empatia. O professor precisa “calçar os sapatos” dos alunos e das famílias. Não sabemos os dilemas que cada um passa em seu lar. Devemos transformar a nossa aula nesse lugar de troca, humor, respiro e, acima de tudo, aprendizado. E é isso que temos feito”, explicou Janaina que disse também estar trabalhando o dobro do que anteriormente.

O Whatsapp de Janaina está on-line quase que full time para que ela possa responder aos alunos, seja por e-mail e até mesmo redes sociais, responder à equipe diretiva, preparar slides, programar as aulas.

“É muito trabalho, mas tem sido gratificante, pois nossa escola se manteve viva. Estamos trabalhando e as coisas estão fluindo. Estamos construindo uma nova escola. E isso é um caminho sem volta. Ainda bem! Pois, a meu ver, a escola é um organismo vivo e dinâmico. Essa crise mundial mostrou que o único caminho é estabelecer a união efetiva entre a escola e a família. Todos devemos atuar juntos no processo de formação dos nossos alunos. Dá trabalho. É desafiador. Mas vale a pena, ah! vale! Dá sentido a tudo”, continuou.

Além da rotina na escola, Janaina se predispôs a ajudar famílias nesse processo e muitas pessoas tem lhe procurado. “São mães, colegas de área, alunos, ex-alunos. Temos construído uma cadeia de cooperação. Não ministrei aulas especificamente a esses alunos ‘extras’, mas colaborei dando dicas, compartilhando práticas”, disse a educadora.

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