Em parceria com congregação religiosa, Caritas Arquidiocesana oferece capacitação profissional para refugiados

A congolesa Yasmin Sharon Muland, 33, segura sorridente uma toalha que acabara de aprender a dobrar daquela maneira bonita que normalmente se encontra em hotéis.

Fotos: Caritas Arquidiocesana de São Paulo

Participante do curso de Camareira promovido pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP), em parceria com as Irmãs de São José de Chambéry, o Centro de Educação São José e a escola Divalli Serviços e Treinamentos, nos dias 31 de agosto e 1º de setembro, ela espera que a formação lhe abra portas para que possa encontrar um emprego no Brasil.

“Estou muito feliz com esse curso porque é a área onde eu quero trabalhar. Eu fiz um curso de hotelaria de um ano em meu país. Aqui no Brasil, eu cheguei a trabalhar um ano como ajudante geral, mas atualmente eu só faço bicos”, diz Yasmin, que mora na zona leste de São Paulo com os filhos e o marido.

Vivendo há cinco anos e meio aqui, Yasmin, mãe de dois filhos pequenos, saiu da República Democrática do Congo devido aos constantes e violentos conflitos no país e à situação econômica que faz dessa nação uma das mais pobres do mundo. De 1998 até 2003, o país enfrentou uma longa guerra civil, que custou muito dinheiro e milhares de vidas.

Além da congolesa, o curso contou com as participações de pessoas em situação de refúgio da Venezuela, Angola e, também, Nigéria.

Todos chegam ao Brasil buscando a oportunidade de ter uma vida melhor e mais segura, mas, chegando aqui, enfrentam muitas dificuldades para validar seus diplomas e se integrarem no mercado de trabalho brasileiro.

EM PARCERIA

Desde 2016, a CASP mantém parceria com as Irmãs de São José de Chambéry e com o Centro de Educação São José para apoiar as pessoas em situação de refúgio e migrantes a conseguirem uma oportunidade de trabalho.

O contato com as Irmãs de São José de Chambéry nasceu por iniciativa do Núcleo Regional Santana da Caritas Arquidiocesana.

“A CASP tem parcerias importantes, como com o Ministério da Justiça, dentro do Projeto Labores, para promover a capacitação e ações para apoiar nossos irmãos e irmãs em situação de refúgio a conseguirem trabalho. Parcerias desse tipo ajudam a Caritas Arquidiocesana de São Paulo a construir uma sociedade mais fraterna e apoiar esses irmãos e irmãs a terem as ferramentas para que possam construir uma vida melhor para eles e suas famílias aqui”, diz o diretor da CASP, o Diácono Márcio José Ribeiro.


Pacto Global

A coordenadora de cursos do Centro São José, Patrícia Vavrik, explica que a parceria com a CASP e as Irmãs de São José de Chambéry se insere dentro do Pacto Global sobre Refugiados, firmado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em dezembro de 2018, após dois anos de negociações envolvendo vários entes, com o objetivo de permitir que comunidades anfitriãs possam ter condições de contribuir para que pessoas em situação de refúgio possam ter uma vida produtiva.


O curso de Camareira, segundo ela, surgiu de modo a possibilitar que essas pessoas tenham mais facilidade para entrar no mercado de trabalho brasileiro, uma vez que há, sim, algumas barreiras importantes.

“Antes, nós oferecíamos curso de atendimento na área do varejo, mas a língua era uma barreira. Por meio de uma parceria com o Sefras [Ação Social Franciscana], nos pediram um curso na área de limpeza e, com essa iniciativa, tivemos uma inserção de 80% dessas pessoas no mercado de trabalho”, conta.

Essa foi a segunda edição do curso de Camareira. Na primeira, três alunas conseguiram colocação em um grande hospital de São Paulo. “Nossa perspectiva é de que esse curso traga uma boa inserção”, diz.

Normalmente, pessoas em situação de refúgio são bastante qualificadas, mas, como dito, muitos têm dificuldade de validarem seus diplomas no Brasil.

A maioria também fala outras línguas, como Yasmin, que é fluente em francês e inglês, além do português, o que traz vantagens na hora de conseguir uma vaga de trabalho.

“O refugiado não está aqui para tomar espaço de ninguém, mas para dividir espaço”, frisa Patrícia.


FILHOS DE ESCRAVOS

Irmã Maria Sizilio, diretora de obras do Centro de Educação São José, diz que acolher refugiados e migrantes faz parte da história da congregação da qual faz parte.

“Quando chegaram ao Brasil, vindas da França [entre 1858 a 1910, vieram cerca de 200 para o Brasil, com idades entre 20 e 30 anos], as Irmãs de São José de Chambéry fundaram escolas para mulheres e filhos de escravos. Ou seja, o trabalho com a população negra e em situação de vulnerabilidade está inserida dentro da nossa missão”, conta Irmã Maria.

As obras da congregação são financiadas pelo Fundo Missionário Global.

(Texto: comunicação da Caritas Arquidiocesena de São Paulo)

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