No domingo, 13, as ruas de Santana, Zona Norte de São Paulo, ressoaram o clamor de uma multidão de vozes em defesa da vida do nascituro e suas mães, durante a 7ª edição da Marcha pela Vida, que teve início às 13h com a celebração da missa no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora da Salette, seguida da caminhada até a Praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira (FEB), onde aconteceu o encerramento com a oração do Terço por participantes de grupos engajados no movimento pró-vida.
Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial da Comissão Arquidiocesana de Defesa da Vida (CADV), presidiu a celebração. “Nós caminhamos pelas ruas para mostrar à nossa cidade a importância da família e para celebrar a dignidade da vida humana. Quando se fala de uma criança como um peso, devemos reagir reforçando o amor de Deus por cada ser humano”, enfatizou na homilia.
Sem tempo ruim para defender a vida
Nem mesmo a forte tempestade que havia caído recentemente sobre a capital paulista, nem as nuvens escuras que ameaçavam uma nova chuva, foram capazes de intimidar os fiéis. Determinados, eles formaram um verdadeiro exército pacífico, marchando em defesa do direito irrevogável à vida. E se no alto o cinza predominava, o que se via no itinerário da Marcha era um mar de pessoas, tonalizadas de azul e branco das camisas, bandeiras e bexigas.
À frente da Marcha, enfileiraram-se as mães da Associação Amparo Maternal, muitas das quais um dia consideraram a possibilidade do aborto, mas mudaram de ideia após receberem suporte da instituição. O gesto de irem à frente empurrando os carrinhos com seus bebês, foi uma declaração pública da decisão que tomaram de deixar a vida avançar.
Entre essas mães estava Deise Lourenço de Barros, 38, que viveu um relacionamento abusivo, no qual enfrentava violência e cárcere privado. Saindo de casa no 8º mês de gestação e sem ter lugar para ficar, ela chegou ao Amparo Maternal. “Eu não me sentia capaz de cuidar do meu filho e teria dado ele para adoção se não tivesse conhecido o Amparo”. Hoje, Deise cuida do filho, trabalha e pretende iniciar uma faculdade no próximo ano. “Eu recuperei minha vida e não teria conseguido isso sozinha”.
Origem e organização da Marcha
A Marcha pela Vida tem suas raízes no movimento americano “March for Life”, que começou em 1974 como resposta à decisão judicial que legalizou o aborto nos Estados Unidos. Desde então, a mobilização se espalhou pelo mundo, chegando ao Brasil em 2018, com o mesmo objetivo: defender o direito à vida, desde a concepção até a morte natural.
No Brasil, a Marcha é organizada por membros de diversos grupos comprometidos com essa causa, como a Comissão Regional de Defesa da Vida (CRDV) do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Comissão Arquidiocesana de Defesa da Vida (CADV) de São Paulo, a Comissão Diocesana em Defesa da Vida (CDDV) de Osasco, a Comunidade Frater Kerigma e a Comunidade Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria.
Embora a luta contra o aborto seja central no movimento, como explica a coordenadora Elaine Cancian, a defesa da vida abrange muitas outras frentes. “Nós acolhemos o idoso, as crianças em situação de vulnerabilidade, indicamos tratamento para os jovens em situação de dependência química, mas a causa do nascituro e das mães desamparadas acaba sendo nosso maior foco. Ainda não existe uma pastoral específica para esses casos, como a Pastoral do Menor, da Juventude, da Pessoa Idosa. Então, esse é o nosso maior desafio”, esclareceu Elaine.
Os mais pequeninos
Padre Orlando de Moura, da Paróquia São João Batista, de Peruíbe (SP), foi à Marcha com um grupo de membros das “Mães que Oram pelos Filhos”. O Sacerdote compartilhou uma prática pessoal na busca pela conversão daqueles que não valorizam a vida: “Eu sempre peço a oração das crianças para a conversão das pessoas. A Palavra diz que ‘o perfeito louvor nos é dado pelos lábios dos mais pequeninos’. Elas são as principais vítimas, mas também são as melhores intercessoras”.
O valor da participação das crianças na Marcha também foi destacado pelo casal Acácio e Cristiane Marcelino, da Comunidade Católica Instrumento de Deus. Eles levaram seus quatro filhos, entre 2 e 9 anos, para participar. “Nós temos que implantar no coração das crianças os valores da família. Sempre procuramos levar nossos filhos para participarem de tudo e poderem entender a importância da vida”, disse Cristiane.
Incutir os conceitos pró-vida na mente da pequena Maria de Fátima, de 4 anos, foram a inspiração da professora Nilza Albano, para uma ideia criativa e bem concreta dessa missão. “Nas redes sociais, o ‘cabelo maluco’ está na moda. Pensei em algo diferente e criei o ‘cabelo santo’ na minha filha”, explicou Nilza, destacando os adereços que incluíam uma representação de um bebê de 12 semanas e uma faixa com a inscrição “Vida Sim!”.
‘Não existe vida indesejada’
Os grupos pró-vida enfatizam que há alternativas para preservar tanto a vida do bebê quanto a saúde da mãe, e, assim, evitar que se faça um aborto.
“Eu sempre digo que não existe gravidez indesejada. Pode haver uma gravidez não planejada, mas toda vida é desejada por Deus, e é aí que está seu maior valor”, afirmou Elaine Cancian.
Na página do Instagram da Marcha Pela Vida (@marchapelavida) é possível acompanhar outros detalhes da iniciativa. A 8ª edição da Marcha já está agendada para 28 de setembro de 2025.