Fiéis da Arquidiocese rogam à Mãe Aparecida: ‘Maria, vem conosco caminhar’

123ª Romaria Arquidiocesana à Aparecida leva mais 10 mil pessoas das paróquias de São Paulo ao Santuário Nacional

‘Hoje, lembramos que nossa Mãe sempre está conosco. Onde estão os irmãos de Jesus, a Mãe também está, e isso expressamos de modo especial com esta Romaria’, afirma Dom Odilo na homilia
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Apesar de a fé ser a prova das coisas que não se veem (cf. Hb 11,1), no domingo, 5, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, era possível enxergá-la concretamente: joelhos ao chão no trajeto ao encontro do altar; Terços entrelaçados nos dedos numa coreografia sincronizada com as contas; mãos erguidas ao alto em sinal de prontidão para acolher graças divinas; velas que superavam em tamanho os fiéis ajoelhados.

Piedade e devoção foram os “ornamentos” que os fiéis da Arquidiocese de São Paulo levaram consigo na 123ª Romaria Arquidiocesana a Aparecida. Mais de 10 mil pessoas saíram de suas comunidades em São Paulo e se colocaram a caminho da “Capital Mariana”, percurso que a maioria fez em conjunto – em mais de 220 ônibus que partiram de diversas paróquias da Arquidiocese – e em sintonia com o lema desta edição da Romaria: “Maria, vem conosco caminhar”.

Além dos milhares de fiéis, mais de 70 padres e diáconos da Arquidiocese alinharam-se no presbitério na missa das 10h. Os sete bispos auxiliares dividiram o altar com o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, que no começo da celebração acolheu a todos com alegria na Casa da Mãe: “Hoje, sobretudo, lembramos que nossa Mãe sempre está conosco. Onde estão os irmãos de Jesus, a Mãe também está, e isso nós expressamos de modo especial com esta Romaria”.

UM SÓ POVO

As bandeiras coloridas que se agitavam ao alto em cada aclamação representavam as regiões episcopais da Arquidiocese. E mais diversificadas do que o cenário multicor eram as mãos que as sustentavam.

Lourdes Roque, 92, da Região Belém, se emocionou ao ouvir o salmo cantado por Gustavo Abdalla, 8, da Região Sé: “É tão lindo ver as crianças servindo a Deus”.

Já Aparecida Robles Mendes, da Região Ipiranga, que recebeu este nome em homenagem à Padroeira do Brasil, disse que a maior beleza da Romaria é a unidade: “Eu já participei de várias paróquias, e acabo encontrando aqui pessoas que foram muito importantes na minha vida e que, pela distância, havia perdido o contato. Este é um verdadeiro lugar de encontro para mim”.

Os termômetros marcavam 32,8°C do lado de fora do Santuário, mas no ambiente interno, azulado pelos vitrais, o que se sentia era o frescor da acolhida: “Sempre é bom voltar à Casa da Mãe, pois a mãe lembra aconchego, amor, carinho, refúgio. Nos momentos de apuros, nós chamamos pela mãe, e não é diferente conosco na vida cristã. Jesus nos deu Maria por Mãe para que nós pudéssemos olhar para ela e recorrer em todas as nossas necessidades, já tendo a certeza de que antes de tudo é ela quem olha por nós”, disse o Arcebispo na homilia.

Uma acolhida reconfortante que é percebida a cada ida à Casa da Mãe por Maria Lúcia dos Santos Rodrigues, da Paróquia Nossa Senhora da Expectação, da Região Brasilândia: “Há mais de 40 anos eu venho a romarias. Meu marido e eu viemos juntos pela última vez em 2019. Ele, mesmo já muito doente e sem conseguir andar direito, quando entramos no templo, se levantou da cadeira de rodas e caminhou até o altar. Para mim, foi um milagre de despedida, porque ele faleceu logo depois. Eu continuo vindo, agora com minha família paroquial, e recebo um conforto muito grande cada vez que entro aqui”.

Gratidão a Deus e à Virgem Maria era um sentimento também para os “romeiros de primeira viagem”, como Islanny Maria dos Santos Barros, da Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, da Região Ipiranga: “Eu nunca tinha vindo e estou muito emocionada. Trouxe minha filha de 3 anos porque quero que ela tenha a oportunidade que eu não tive, de viver essa emoção desde pequena”.

´SOMOS UMA IGREJA A CAMINHO’

A origem da palavra “romaria”, segundo o Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, vem da expressão “viagem à Roma”. Embora nesta ocasião o destino não tenha sido a cidade italiana, o caminhar também foi e do encontro das ovelhas ao redil: a Igreja.

Na homilia, Dom Odilo lembrou que a Arquidiocese de São Paulo tem buscado colocar em prática as percepções e propostas do 1º sínodo arquidiocesano (2017-2023), fazendo-o também em sintonia com o Sínodo universal, sobre a Igreja sinodal, com o propósito de um caminhar conjunto da Igreja como a grande família de Deus, com cada pessoa assumindo sua parte, participando do grande tesouro da fé.

“O Sínodo nos diz: ‘Somos uma Igreja a caminho’. Portanto, não chegamos ainda e por isso não podemos estar parados. Caminhamos, somos um povo caminheiro, peregrinos, e devemos estar atentos a todos aqueles que precisam de apoio, de amparo, de socorro, estando interessados uns pelos outros; um povo missionário, que proclama ao mundo o Evangelho”, ressaltou o Cardeal Scherer. “Queremos colocar no coração de nossa Mãe, Nossa Senhora Aparecida, este nosso caminhar como Arquidiocese de São Paulo”, complementou.

A Romaria Arquidiocesana a Aparecida acontece tradicionalmente no primeiro domingo de maio, desta vez no 6° Domingo da Páscoa, em que no Evangelho proclamado (Jo 15,9-17), Jesus, antes de sua Paixão, recomenda aos discípulos que vivam verdadeiramente o amor a Deus e ao próximo. “Na Casa da Mãe, recordamos o ‘testamento’ que Jesus nos deixou neste Evangelho. Será que a mensagem de Nossa Senhora Aparecida é diferente disso? Ela continua nos dizendo o que disse nas Bodas de Caná: ‘Faça o que Jesus vos disser’, e o que Ele diz é Amai-vos uns aos outros’”, destacou Dom Odilo.

TRAJETÓRIA HISTÓRICA

Em 1717 quando foi encontrada a imagem da Padroeira do Brasil, todo o estado de São Paulo pertencia à então Diocese do Rio de Janeiro. Com a criação da Diocese de São Paulo, em 1745, que depois foi elevada a Arquidiocese, em 1908, Aparecida passou a fazer parte de seu território. Somente em 1958 foi criada, pelo Papa Pio XII, a Arquidiocese de Aparecida, tendo como primeiro Arcebispo o Cardeal Carlos Carmelo de Vasconce-los Motta, até então Arcebispo de São Paulo.

Dom Duarte Leopoldo e Silva, em 1908, obteve do Papa Pio X a concessão do título Basílica Menor para a primeira igreja construída em 1745, em Aparecida, popularmente conhecida como Basílica Velha. Na ocasião, Dom Duarte também celebrou a dedicação do templo. Até a chegada dos primeiros missionários Redentoristas a Aparecida, em 1894, o atendimento pastoral e espiritual da Basílica ficou aos cuidados do clero da Diocese de São Paulo.

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