‘Formiguinhas’ em ação: crianças transformam espaços de escolas públicas de SP em miniflorestas

Já são 19 miniflorestas de 150m2 a 1,5 mil m2 quadrados; 427 de 5 m2 ; cerca de 15 mil árvores plantadas e 136 espécies nativas da Mata Atlântica, Cerrado e algumas frutíferas; mais de 5,5 mil alunos já participaram do projeto

Em meio ao concreto da cidade de São Paulo, um movimento de educação ambiental está crescendo nas escolas públicas. Desde 2019, o projeto formigas-de-embaúba aproxima da natureza crianças e jovens com ações concretas de restauração ambiental.

No Centro Educacional Unificado (CEU) Cidade Dutra, na zona Sul, alunos de 8 a 12 anos já plantaram uma minifloresta de 500m2, em uma área aos fundos da unidade educacional que estava abandonada.

Hoje, são mais de 100 árvores nativas da Mata Atlântica, Cerrado e algumas espécies frutíferas plantadas pelos alunos do CEU. O objetivo do projeto é ensinar sustentabilidade na prática e transformar a relação das futuras gerações com o meio ambiente.

APRENDIZADOS FORA DA SALA DE AULA

Idealizado por Rafael Ribeiro e Gabriela Arakaki, o projeto Formigas-de-embaúba tem plantado miniflorestas em escolas públicas da capital paulista, com o intuito de aproximar crianças e jovens da natureza e promover a restauração de ecossistemas.

O plantio das árvores proporciona, além do reflorestamento, a formação de educadores e alunos, despertando, sobretudo nas novas gerações, a urgência sobre a regeneração de ecossistemas e como estes têm relação com a disponibilidade de água, a emergência climática e a produção de alimentos.

Ao O SÃO PAULO, Gabriela Arakaki, 42, educadora ambiental e cofundadora da ONG formigas-de-embaúba, destacou que as miniflorestas seguem os princípios do Método Miyawaki, criado pelo botânico japonês Akira Miyawaki e utilizado para o plantio de florestas urbanas.

“Esse método integra o monitoramento e manutenção do cuidado com o solo e plantio nos primeiros dois e três anos e conta com a participação da comunidade em todas as etapas. Os alunos, a comunidade escolar e as famílias são envolvidos”, disse a cofundadora.

Segundo Gabriela, desde 2021 já foram realizadas mais de 50 turmas de formação de educadores, atendendo à rede pública de ensino: “A formação capacita os professores para que possam criar e realizar projetos de educação ambiental, tendo como tema central o plantio de miniflorestas. A carga total é de 38 horas, em seis encontros. Cada participante recebe um kit com mudas de árvores nativas e sementes de adubação verde para utilizar em seus projetos e o certificado de conclusão”.

Os próprios alunos são quem plantam as mudas. Eles observam a natureza, identificam as mudanças climáticas, aprendem sobre o solo, a umidade, as espécies de plantas e fazem o plantio.

“É uma experiência transformadora para nós do projeto e, sobretudo, para as crianças. São pequenos espaços que, multiplicados, fazem a diferença e potencializam a conscientização para a mudança humana frente ao planeta”, destacou Gabriela.

Em 2023, a entidade foi considerada uma das 12 principais organizações no mundo que trabalham contra a emergência climática pelo Green Changemakers Challenge da Ashoka Global. A ONG é parceira da Organização das Nações Unidas (ONU) para a restauração de ecossistemas.

SUJEITOS DE TRANSFORMAÇÃO

David dos Santos Almeida, 47, chefe do Núcleo de Ação Educacional do CEU Cidade Dutra, enfatizou à reportagem que o projeto da minifloresta deu vida a um espaço de 500 metros que estava ocioso atrás da escola.

“O espaço que antes estava abandonado, agora abriga uma minifloresta com mais de 100 árvores plantadas. Hoje é um espaço arborizado que acolhe as crianças para piqueniques, atividades escolares e, sobretudo, um local que trouxe o verde, a sombra, as borboletas, as flores, os pássaros de volta”, disse.

Segundo Almeida, no projeto os alunos atuam como “sujeitos de transformação positiva, pois não aprendem só que o ser humano destrói a floresta. Eles passam a entender os problemas da destruição do meio ambiente, pensando e potencializando uma solução, por meio do plantio de árvores”.

Almeida ressaltou que é “gratificante ver as crianças falarem com orgulho que o espaço foi plantado por elas; e falam da importância do contato com a natureza e a diferença da qualidade do ar, da umidade quando estão dentro da minifloresta”.

Além da capital paulista, o projeto das miniflorestas está chegando a Itu, a primeira cidade do interior paulista a abraçar a ideia.

EDUCAR PARA CUIDAR

Vera Lúcia Barbosa Itino, professora da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Carlota Pereira Queiroz, falou sobre o impacto do projeto no processo educativo. “Quanto mais cedo o tema for abordado com as crianças, maiores são as chances de despertar a consciência para a preservação. Por isso, a educação para uma vida sustentável deve começar já na pré-escola! A educação ambiental é muito mais do que conscientizar sobre o lixo, a reciclagem e a poluição. É trabalhar situações que possibilitem à comunidade escolar pensar propostas de intervenção na realidade que nos cerca”, falou.

A coordenadora pedagógica da Emei Parque Bologne, Daniela Alves Barbosa Reis, apontou que a conscientização ambiental deve envolver toda a comunidade escolar – professores, alunos e pais: “Pensar na escola sustentável como ‘incubadora de mudanças’ é reconhecer esse espaço como ambiente educador, transformador e multiplicador de práticas sustentáveis, em uma relação na qual todos são protagonistas e capazes; é perceber toda a comunidade educativa como uma verdadeira organização aprendente, o que extrapola os muros da escola”.

CONHEÇA O PROJETO: @formigasdeembauba

BENEFÍCIOS PROPORCIONADOS PELAS MINIFLORESTAS

  • Diminuem as ilhas de calor;
  • Melhoram a qualidade do ar;
  • Reduzem a poluição sonora;
  • Aumentam a infiltração e armazenamento de água no solo;
  • Criam corredores de biodiversidade na cidade;
  • Melhoram a saúde das pessoas;
  • Possibilitam salas de aula ao ar livre, espaços de aprendizagem e conexão com a natureza.
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