Futura estação da Linha 6 do Metrô é renomeada após se referenciar a bairro inexistente

Antes chamada de ‘Vila Cardoso’, estação na região da Brasilândia terá o nome de ‘Maristela’; Governo do Estado de São Paulo não atendeu o pedido da comunidade local e da Igreja para que o nome fosse ‘Dom Paulo Arns – Jardim Maristela’

Imagem panorâmica das obras da estação Vila Cardoso (Divulgação/Linha Uni)

Em decreto datado de 15 de junho e publicado na terça-feira, 18, o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, decretou que “a futura Estação Vila Cardoso da Linha 6 – Laranja, da Companhia do Metropolitano de São Paulo – METRÔ, passa a denominar-se Estação Maristela”, conforme se lê no Artigo 1º do decreto 68.607/2024.

Com a decisão, o governo do Estado de São Paulo acaba por não atender a um pedido da comunidade local e da Igreja em São Paulo: o de que a futura estação se chamasse “Dom Paulo Arns – Jardim Maristela”, como foi reportado pelo jornal O SÃO PAULO em março deste ano.

Com previsão de transportar cerca de 630 mil passageiros por dia, a Linha 6-Laranja do Metrô, cujas obras começaram em 2014, deve ser entregue até o ano de 2026, com 15 estações.

UM BAIRRO INEXISTENTE

“Vila Cardoso”, nome que anteriormente se pretendia dar à estação, é um bairro que não existe nesta região da cidade.

“O nosso bairro sempre se chamou Jardim Maristela. Não sei de onde tira­ram Vila Cardoso. Não há razão para a estação ter este nome”, disse na referida reportagem Francisco Azevedo Aguiar Fi­lho, morador do Jardim Maristela.

E POR QUE DA REFERÊNCIA A DOM PAULO?

Quando o projeto da Linha 6-La­ranja foi anunciado em 2008, ainda não se projetava construir o Hospital Mu­nicipal na Brasilândia. Como as obras deste ocorriam em área próxima à da construção da estação Vila Cardoso, foi preciso readequar o projeto e, para isso, mostrou-se necessário demolir al­gumas edificações do Jardim Maristela, entre as quais a Capela Nossa Senhora de Guadalupe, pertencente à Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Região Brasilândia.

A origem da Capela Nossa Senho­ra de Guadalupe está relacionada a um dos legados do pastoreio de Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998: a Operação Periferia, pela qual, de 1972 a 1978, a Arquidiocese adquiriu terrenos para a instalação de comunidades em diferen­tes bairros, uma delas a Nossa Senhora de Guadalupe.

“Seria uma justa homenagem co­locar o nome Dom Paulo Arns nesta estação. A maior parte dos moradores aprova esta proposta, até pelo fato de a comunidade ter sido uma das que co­meçaram por iniciativa de Dom Paulo”, comentou Aguiar Filho à reportagem.

Desde que se tornou público que o nome da estação será, a princípio, Vila Cardoso, o Fórum Pró-Metrô Fregue­sia-Brasilândia, coletivo oriundo do “Fórum de Lutas”, iniciado na década de 1990 pelo Cônego Noé Rodrigues (falecido em 2012), pelo Diácono Bene­dito Camargo, o professor João Ferreira Mota e outras lideranças locais, se mobilizou pela mudança do nome.

“O que queremos, portanto, é uma correção na denomina­ção para ‘Dom Paulo Arns – Jardim Ma­ristela’, para que se reconheça o direito do bairro de ter seu nome usado corre­tamente e para que se faça memória do trabalho de Dom Paulo em nossa região, especialmente no Jardim Maristela, no qual ele construiu a Comunidade Nos­sa Senhora de Guadalupe”, disse na referida reportagem Leandro Silva, membro do Pró-Metrô Freguesia-Brasilândia.

Após o anúncio da mudança de nome, no dia 18, Silva lamentou a decisão do Governo do Estado: “Erram de novo o nome do bairro e ignoram a memória do Cardeal da Esperança”, postou em suas redes sociais.

Após tomarem ciência de todo o his­tórico referente à estação Vila Cardoso, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arce­bispo de São Paulo, e Dom Carlos Silva, OFMCap., Bispo Auxiliar da Arquidio­cese na Região Brasilândia, enviaram, em dezembro de 2023, um ofício ao secretário estadual de Parcerias em In­vestimentos, Rafael Benini, pedindo que a estação seja chamada de “Dom Paulo Arns – Jardim Maristela”.

“O Cardeal da Esperança sempre tra­balhou em defesa da democracia, da paz e da justiça social. Homenageá-lo com seu nome nesta estação é reconhecer a importância de seu trabalho, já eterniza­do no coração de todo o povo, e deixar registrada a sua presença naquele bairro, que assim como Dom Paulo se doou, a comunidade fez o mesmo ao entregar sua igreja para a construção do metrô, cuja linha irá beneficiar mais de 630 mil pessoas por dia”, consta em um dos tre­chos do documento.

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Marco Scussel
Marco Scussel
3 meses atrás

Bispo da esperança? quem? o vermelhíssimo Paulo Arns?