Mostra comemorativa reúne obras emblemáticas, tecnologia interativa e projeto de inclusão sensorial para públicos diversos

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO
Em meio ao ritmo frenético da Avenida Tiradentes em seu horário mais intenso, o Mosteiro da Luz ofereceu, na noite da quinta-feira, 17, um refúgio atemporal a quem cruzou seus portões. Em poucos passos, o cenário urbano ficava para trás e dava lugar a um ambiente de quietude, beleza e convidativo à contemplação.
Foi nesse clima que se inaugurou a exposição “MAS 55 Anos: Dentro e Fora dos Muros”, em comemoração às mais de cinco décadas de atuação do Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS-SP), nas dependências do Mosteiro da Luz.
O nome da mostra faz referência à proposta curatorial, dividida em dois núcleos complementares: o “dentro”, localizado na sede do Museu, apresenta um recorte institucional que revisita os caminhos trilhados desde 1970, ano em que o MAS foi oficialmente ali instalado; e o “fora dos muros”, na Sala MAS, espaço expositivo na estação Tiradentes do Metrô, conectando o acervo do Museu à vida cotidiana da cidade.

CURADORIA E AMBIENTAÇÃO
Na sala reservada para a mostra, o visitante é conduzido por um caminho com véus em formato circular, pendendo do teto ao chão, desenhando curvas suaves no espaço.
“Como a sala tem entrada e saída únicas, buscamos criar uma sensação de fluidez. As peças selecionadas estão bem espaçadas, dispostas de forma a conduzir o visitante a se mover junto com elas”, explica, ao O SÃO PAULO, Luciana Barbosa, uma das três curadoras da exposição.
O discreto ranger do assoalho de madeira de ipê “denuncia” o caminhar desacelerado dos visitantes, encantados e sem pressa em cada etapa do trajeto. As paredes brancas de taipa tornam o cenário ideal para a exposição.

“O edifício já é um grande símbolo da arte e arquitetura de São Paulo, pois o Mosteiro da Luz é uma das últimas construções em taipa remanescentes da cidade e, também, uma das últimas chácaras conventuais ainda ativas, já que mantém a presença da Ordem das Irmãs Concepcionistas” explica Luciana.
Essa dimensão histórica e espiritual se reflete também nas obras escolhidas para a exposição. Estão entre os destaques a cruz de Cláudio Pastro, doada pelo artista; uma imagem de Nossa Senhora das Dores, de Aleijadinho; uma imagem de São Jorge, em tamanho real e com postura de cavaleiro, que já foi levada a diversas procissões e colocada em cima de um cavalo de verdade; e a venerada imagem de Nossa Senhora da Luz, pertencente às Irmãs Concepcionistas.
“Quisemos trazer um pouco de cada tipologia do acervo para contar a história da instituição. Cada obra tem uma legenda expandida, que não fala apenas da peça em si, mas de como ela chegou ao Museu, seu percurso ao longo destes 55 anos, se participou de exposições importantes e se foi doada”, detalha Luciana. Ela assina a curadoria com Luiz Fernando de Souza e Yasmine Machado Lima.

LINHA DO TEMPO E GALERIA INTERATIVA
A exposição apresenta uma linha do tempo que indica os marcos da trajetória do Museu, incluindo nomes de referência para a preservação da arte sacra no Brasil, entre os quais Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro Arcebispo de São Paulo. “No início do século XX, ele criou o Museu da Cúria e reuniu boa parte dos objetos que hoje integram o acervo da instituição. Por isso, o início da Igreja Católica em São Paulo é tão importante para a história da arte sacra”, completa a curadora.
O percurso, que retrata séculos de história da arte sacra no Brasil, é inesperadamente atravessado por um traço contemporâneo. Uma tela interativa convida o visitante a explorar digitalmente as principais exposições realizadas pelo MAS nestes 55 anos.
“As pessoas podem navegar por essas exposições, clicando para saber mais sobre cada uma delas, vendo imagens e lendo as explicações de cada mostra”, afirma Luciana.

‘VER E SENTIR’
Outro destaque da mostra é o Projeto “Ver e Sentir”, que apresenta réplicas fiéis de algumas das principais obras do acervo, produzidas por escaneamento 3D e impressas em plástico ABS. As peças são, depois, pintadas e texturizadas manualmente para reproduzir com precisão os detalhes das originais.
“A pintura é tão fiel que, mesmo colocando uma réplica ao lado da peça original, é difícil saber qual é qual”, assegura Luciana Barbosa.
A iniciativa tem caráter itinerante, levando essas réplicas a cidades e espaços nos quais o acesso à arte é limitado. Além disso, promove inclusão e acessibilidade. As réplicas podem ser tocadas por pessoas com deficiência visual total ou parcial, com o apoio de legendas em Braile e audiodescrição.
“Esse projeto fez tanto sucesso que estamos imprimindo mais 30 peças. Inclusive, quem vier ao Museu até o fim do ano poderá ver os artistas produzindo essas réplicas ao vivo, além de conversar com eles em uma das salas expositivas que preparamos”, diz a curadora.

UMA CELEBRAÇÃO RETOMADA
A exposição, inicialmente pensada em 2019 para comemorar os 50 anos do Museu, teve a estreia modificada por causa da pandemia. Agora, repensada e ampliada, celebra os 55 anos do MAS como um reencontro simbólico entre o público e a arte.
Entre as autoridades que participaram da cerimônia de abertura esteve Virgílio Carvalho, diretor técnico da Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo. “A réplica da imagem amputada de São Paulo foi uma surpresa, porque é realmente idêntica, e isso oferece uma atração que vai além da contemplação das peças. Parabéns ao Museu de Arte Sacra”, elogiou.
Henry Castelli Silva e Letícia Rocha Ferreira, representantes da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo; Mário Mazzilli, diretor da Fundação Museu do Ipiranga, e alguns assessores parlamentares estiveram no evento, assim como os que frequentam o Museu assiduamente. “É sempre muito prazeroso vir aqui, principalmente nesta data tão especial dos 55 anos”, avalia Mara Maia.

UM LEGADO VIVO
“Não há qualquer exagero em considerar o MAS o Museu mais expressivo do Brasil dentro da temática que lhe cabe tutelar. A imensidão do seu acervo, que percorre 500 anos da história da nossa fé, somada às suas atividades culturais, acadêmicas e sociais, demonstra a grandiosidade desta instituição”, afirma Ary Casagrande Filho, presidente do Conselho Consultivo do MAS-SP. “Que venham mais décadas e décadas de preservação e divulgação da cultura do nosso povo”, complementa.
A exposição “MAS 55 Anos: Dentro e Fora dos Muros” pode ser visitada até 9 de novembro na sede do Museu (Avenida Tiradentes, 676, Mosteiro da Luz) e até 14 de setembro na Sala MAS da estação Tiradentes do Metrô. Saiba mais detalhes pelo site https://museuartesacra.org.br