Na Praça da Sé, 1,5 mil pessoas em situação de vulnerabilidade participaram da celebração promovida pela Aliança de Misericórdia

Jaqueline e Francis dos Santos são pais do Lucas, 2 anos de idade, e do Kauã, de 2 meses. O casal está desempregado e mora em um cômodo em Pirituba, na zona Noroeste da capital paulista. “Andamos pelas ruas da cidade em busca de ajuda. Era meio-dia, e passando aqui na Praça da Sé, soubemos da ação e decidimos esperar. Eu não pensava que, nas condições em que estamos, teríamos como comemorar o Natal, mas, felizmente, graças a esta ceia, o nosso Natal não passará em branco”, contou Francis.
A família esteve entre os participantes do Natal dos Pobres, iniciativa promovida pela comunidade Aliança de Misericórdia, na Praça da Sé, com a participação de 300 voluntários, entre leigos, consagrados e sacerdotes, beneficiando 1,5 mil pessoas em situação de rua com a ceia natalina, ofertada no domingo, 17, após a a missa, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, na Catedral da Sé.
Jaqueline, com o pequeno no colo e com lágrimas nos olhos disse: “Como é bom sentar à mesa com a família para a refeição. Está difícil nossa situação, mas, durante a oração do Cardeal, pedi para Deus que Ele nos dê um trabalho, para garantir nossa dignidade”, afirmou.

UM DIA DE ATIVIDADES
No cardápio do Natal dos Pobres teve arroz, feijão, salada de macarrão, frango assado e farofa. E ainda refrigerante e sorvete como sobremesa. No final, cada um ainda recebeu um panetone, um bolo no pote e um kit de higiene pessoal.
O Natal dos Pobres aconteceu no encerramento da 23ª edição da ação missionária Thalita Kum, promovida pela Aliança de Misericórdia nas ruas e praças do centro da capital paulista, anunciando a alegria do nascimento de Jesus por meio de músicas, danças, teatro e pregações.
Ao longo do dia, foi realizada também na Praça da Sé a ação “Bom Samaritano”, na qual voluntários atenderam as pessoas em situação de vulnerabilidade social, ofertando-lhes roupa, corte de cabelo, manicure, assistência médica, entre outros serviços.

ALEGRIA E ESPERANÇA
Na homilia da missa, Dom Odilo elogiou a iniciativa de anunciar com palavrasobras concretas a Boa Nova do Natal aos pobres, àqueles que estão nas ruas, sem esperança e abandonados.
“Que Deus abençoe todos vocês que realizaram esta missão pelas ruas da cidade. No Domingo da Alegria, que bom encontrar irmãos que ajudam, que estendem a mão, que promovem os sinais que refletimos da liturgia de hoje: a alegria e a esperança, a quem está nas ruas, nas drogas e em em outras situações de sofrimento”, manifestou o Cardeal.
Após a missa, Dom Odilo foi até a praça para saudar os participantes e abençoá-los.

CELEBRAR COM DIGNIDADE
Mary Ferreira Machado, 55, consagrada celibatária da Aliança de Misericórdia e uma das coordenadoras do evento, explicou ao O SÃO PAULO que foram preparadas 1,5 mil refeições e disponibilizados lugares para 1,5 mil pessoas sentarem-se à mesa.
“Nosso desejo é não só levar o alimento, mas ser presença com eles. O Natal dos Pobres nos ensina isto: fazer a diferença na vida daqueles que mais precisam”, disse a consagrada. “Pensamos em tudo com muito carinho, cuidado. Mas, acima de tudo, contemplamos a ação de Deus nos detalhes, é Ele quem conduz e prepara o melhor para estes irmãos. Nosso sentimento é de muita gratidão”, complementou.
Mary enfatizou que o Natal dos Pobres acontece graças à generosidade e doação dos itens da ceia, pela parceria com instituições públicas e empresas que colaboram na montagem da estrutura, e pela união de carismas, pois além da Aliança de Misericórdia colaboram na ação membros da Toca de Assis e a Fraternidade O Caminho.
“A alegria de servir é o que nos movetodos os anos nesta ação natalina e em todos os dias, nas tantas ações concretas que realizamos para os irmãos à margem”, finalizou, mencionando que foram assados 400kg de frango para serem servidos.

SERVIR COM AMOR
Padre João Henrique Porcu, um dos fundadores da Aliança de Misericórdia, enfatizou que a ação do Natal dos Pobres não consiste apenas em oferecer um prato de comida, e sim proporcionar uma experiência mais profunda do Natal com a celebração eucarística e a ceia.
“Nossa missão é saciar a fome da Palavra, proclamando o anúncio da chegada de Jesus que vem e a fome de pão. Queremos proporcionar o mínimo de dignidade para poderem se sentar à mesa, serem servidos por missionários, religiosos e leigos, uma experiência de servir os mais pobres com respeito e amor”, afirmou.
“Somos abraçados por Deus todos os dias. Nossa missão é chegar a todos com amor e alegria no serviço que humaniza”, finalizou.
Rafaela Giorgi Manente, 14, é voluntária na ação há quatro anos: “O que me motiva a estar aqui é a alegria de servir. Meus pais são atuantes sociais e poder ajudar neste dia é acolher o próprio Cristo presente entre nós”.
Entre os contemplados com a iniciativa esteve Clecia Gildenaide, 22. Ela chegou a São Paulo há quatro anos vinda de Mossoró (RN). Após ficar desempregada, perdeu a moradia e hoje está em situação de rua. “Vim na esperança de melhores condições de vida e olha onde estou: na rua. Esse prato de comida é minha única refeição hoje. Eu acredito que dias melhores virão. Estou procurando emprego. Que ceia saborosa! O Natal resgata a alegria e a esperança de um amanhã melhor”, afirmou.