Núncio Apostólico ressalta o papel das faculdades de Teologia e de Direito Canônico para confirmar a fé e a comunhão da Igreja

Luciney Martins/O SÃO PAULO

A Arquidiocese de São Paulo recebeu a visita do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, na sexta-feira, 22. O representante do Papa Francisco presidiu a missa sole- ne em ação de graças pelos 75 anos de criação da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pelos 10 anos de criação da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo. Em seguida, realizou a aula inaugural do ano acadêmico das duas instituições.

A Eucaristia celebrada na igreja matriz da Paróquia Imaculada Conceição, anexa ao campus Ipiranga da PUC-SP, foi concelebrada pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo; por Dom Moacir Silva, Vice-Presidente do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); por bispos auxiliares da Arquidiocese e diversos bispos das dioceses que compõem a Província Eclesiástica de São Paulo.

Também participaram da liturgia os diretores, professores, alunos e colaboradores das duas instituições eclesiásticas de ensino superior da Arquidiocese.

Ao falar com os jornalistas sobre o aniversário das duas faculdades, o Núncio destacou que a celebração foi ocasião de ressaltar o papel das instituições para a transmissão do conhecimento em vista da evangelização, segundo a sabedoria de Cristo e por meio do magistério da Igreja. Ele destacou, ainda, que a celebração jubilar das instituições de ensino acontece durante o ano preparatório para o Jubileu de 2025, quando toda a Igreja é convidada pelo Papa Francisco à oração. “Essas são oportunidades para confirmarmos as raízes da fé que professamos, na comunhão da Igreja, unidos ao Papa, aos bispos, sacerdotes, religiosas e todo o povo”, afirmou.

SINODALIDADE E NOMEAÇÃO DOS BISPOS

A aula inaugural de Dom Giambattista teve como tema “A sinodalidade e a nomeação dos bispos na Igreja Latina”, enfatizando como se dá, sobretudo após o Concílio Vaticano II, o processo de discernimento para a eleição e nomeação dos sucessores dos apóstolos.

Na Igreja Católica de rito latino, os bispos são nomeados livremente pelo Papa entre os sacerdotes do clero de uma diocese ou de um instituto de vida consagrada, após um processo de consultas secretas feitas entre bispos, padres e fiéis leigos por meio da Nunciatura Apostólica, que as envia ao Dicastério para os Bispos, organismo da Cúria Romana que apresenta os nomes dos indicados com o parecer das consultas ao Santo Padre para que ele possa decidir sobre sua nomeação.

O Núncio Apostólico comunica a nomeação ao eleito por meio de carta, com cópia ao Metropolita da região onde ele mora. Após o aceite do eleito, é marcada a ordenação e posse na respectiva função. Em seguida, a nomeação é publicada pela Santa Sé pelos meios de comunicação oficiais. Até a publicação da nomeação, a eleição do novo bispo deve ser mantida em segredo pontifício.

POVO DE DEUS

Dom Giambattista explicou que o Código de Direito Canônico exige que os bispos de uma região ou província eclesiástica enviem à Santa Sé, pelo menos a cada três anos, uma lista de eclesiásticos que consideram candidatos ao episcopado. Após o Concílio Vaticano II, houve várias tentativas para que padres e fiéis participassem coletivamente das informações que eram oferecidas à Santa Sé para designações episcopais. Em 1972, a Santa Sé publicou normas a esse respeito, prevendo a consulta do clero e dos leigos no processo de nomeação dos bispos.

Além da indicação dos nomes dos candidatos ao episcopado, a Santa Sé solicita um relatório completo e detalhado sobre o estado da diocese que necessita de um novo bispo, com seus desafios, prioridades e necessidades. “O conhecimento da situação da diocese deve orientar as pessoas consulta- das para a indicação de possíveis candidatos que devem ser considerados eclesiásticos capazes de assumir com sucesso e serem capazes de desenvolver os principais desafios missionários e evangelizadores da diocese”, acrescentou o Núncio.

“Portanto, a Consulta não se limita à esfera estritamente dentro da diocese, mas envolve bispos da província [eclesiástica], da CNBB, dos bispos originários da diocese e bispos eméritos com certa filiação àquela porção do povo de Deus. Dessa forma, obtém-se um espectro muito amplo de considerações, opiniões, avaliações sobre as características, prioridades e necessidades da diocese, não isoladamente, mas vistas no contexto mais amplo da comunhão da Igreja local com as igrejas locais vizinhas e com o caminho da Igreja no país”, salientou o representante pontifício.

Dom Giambattista frisou que a responsabilidade geral dos fiéis pela realização dos fins eclesiais é também testada e forjada pelas conotações jurídicas do procedimento de nomeações episcopais, em que se afirma o chamado à responsabilidade de cada um dos membros da Igreja e da “posição pública” dos fiéis.

Para concluir, o Núncio ressaltou a necessidade de reconhecer a própria beleza do ministério episcopal, um ministério que deve ser “uma boa obra”, como diz a Primeira Carta de São Paulo a Timóteo, e ao qual também é possível aspirar, desde que, no entanto, “não se esqueça a razão essencial da exortação do Apóstolo, que foi e continua a ser a disponibilidade para o martírio e, portanto, a atenção a um testemunho verdadeiramente radical na Ressurreição de Cristo”.

AGRADECIMENTO E HOMENAGEM

Ao agradecer ao Núncio Apostólico pela conferência, Dom Odilo enfatizou que a nomeação dos bispos é objeto de muitas especulações, em geral, fruto da falta de conhecimento dos procedimentos internos da Igreja, mas que, na verdade, é um “processo sinodal” de escuta e amplo discernimento realizado em diversos níveis e com muita seriedade. O Arcebispo sublinhou, ainda, que a reflexão foi uma grande contribuição para os alunos e professores das duas faculdades, por ser de grande interesse teológico e canônico.

Na conclusão do evento, Dom Giambattista Diquattro foi homenageado com a Medalha São Paulo Apóstolo, entregue, em nome da Arquidiocese, pelo Diretor da Faculdade de Teologia, Padre Boris Agustín Nef Ulloa, e pelo Diretor da Faculdade de Direito Canônico, Padre Everton Fernandes Moraes, como agradecimento pela visita e reconhecimento da contribuição acadêmica do Núncio à Igreja em São Paulo.

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