Cardeal Scherer presidiu missa em preparação para o Natal no centro de acolhida do Amparo Maternal, instituição que atende gestantes, mães e seus filhos em situação de vulnerabilidade social

No local onde a alegria de novas vidas resplandece a cada dia, a missa em preparação para o Natal, na tarde da terça-feira, 23, foi em meio a choros e balbucios de bebês nos colos de suas mães no centro de acolhida do Amparo Maternal, na Vila Clementino, instituição de inspiração católica que desde 1939 é referência no acolhimento e assistência a mães, bebês e puérperas em situação de vulnerabilidade social.
A missa foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer. Participaram as acolhidas, os apoiadores, diretores e funcionários da Associação Amparo Maternal. Na assembleia de fiéis também estavam a Irmã Enir Loubet, da Congregação das Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem e ex-diretora do Amparo Maternal; e a vereadora Janaína Paschoal.
Na homilia, o Arcebispo Metropolitano destacou que o verdadeiro sentido do Natal é a celebração do nascimento de Jesus, “um fato extraordinário” para a humanidade, inserido no ministério que envolve a chegada de uma nova vida.
“Toda criança que nasce é sempre um pequenino mistério. Os pais se perguntam: ‘Este menino, esta menina, quem vai ser na vida?’ É claro que vai ser aquilo que aprender, aquilo que for recebendo de educação, de formação dos adultos e do mundo. Cada criança tem um valor único como ser humano”, sublinhou Dom Odilo.

SINAIS EXTRAORDINÁRIOS
Ainda na homilia, o Arcebispo de São Paulo recordou os sinais extraordinários referentes ao nascimento do Menino Jesus, entre os quais a gravidez da Virgem Maria, o anúncio do Anjo de que ela conceberia o Salvador da humanidade, e que aquele Menino era o filho de Deus, “nascido humano como nós, para viver como nós, lado a lado conosco, dando a todas as pessoas um sentido novo da vida, abrindo caminho para que todos pudessem chegar a Deus por meio Dele”.
Nesse sentido, Dom Odilo ressaltou que o poder de Deus esteve com Jesus desde o início, e que “Ele veio para unir a humanidade toda como uma grande família em torno Dele e para revelar que Deus é Pai e quer o bem de todos”.
“O nascimento de Jesus é um sinal extraordinário de Deus à humanidade, sinal de que Deus primeiro nos ama, de que Ele não nos criou para nos jogar fora, e nem criou este mundo para fazer dele um lixo. Este mundo vale, porque Deus o fez e o quis bem. Cada criatura humana vale, porque Deus amou e ama cada pessoa; não quer que ninguém se perca”, sublinhou o Arcebispo.
A RAZÃO DA NOSSA ESPERANÇA
Ao recordar a proximidade do encerramento do Ano Jubilar, que tratou da esperança cristã, Dom Odilo enfatizou: “Nossa esperança em Deus não é inútil e não será desiludida, nem será em vão”. E complementou: “Deus não só enviou o seu Filho para que nascesse entre nós, mas também para que aceitasse todas as nossas cruzes e sofrimentos, e as carregasse sobre seus ombros, morrendo por nós na cruz, sofrendo toda a humilhação. Deus tanto nos amou, que enviou o Seu Filho. Por isso, como diz São Paulo, podemos ter fé e esperar Nele”.

O SIM À VIDA
O Cardeal também frisou que o nascimento de Jesus é um presente que Deus envia à humanidade, e todos devem acolher de coração aberto a Sua Palavra e Sua luz “para que ela brilhe sobre nós, sobre o nosso caminho e nos oriente. Acolher Jesus significa acolher Deus, acolher a esperança. E ter esperança, ter um horizonte de esperança na vida, vale muito”.
Dom Odilo lembrou, ainda, que a vida neste mundo é preciosa, mas o é mais ainda “na vida eterna, feliz no céu”. Assim, exortou que todos acolham “esta vinda do Filho de Deus ao nosso encontro, para que Ele entre em nossa vida, a transforme e a oriente, para que, com Ele, nós também tenhamos futuro, um horizonte aberto, tenhamos esperança”.
Por fim, o Arcebispo enalteceu todo o trabalho realizado no Amparo Maternal, “um trabalho bonito, e que lembra sempre que Maria e José, quando Jesus nasceu, procuraram abrigo lá em Belém, mas todas as portas estavam fechadas. E eles acharam um lugar onde puderam se abrigar, passar a noite, e foi lá que nasceu Jesus”. Dirigindo-se às mulheres acolhidas, destacou: “Aqui vocês encontraram uma porta aberta, de acolhida, de pessoas que querem vocês bem. Agradeçam a Deus por isso, valorizem esta oportunidade”; e ao falar aos diretores e funcionários do Amparo, complementou: “Lembrem-se de que vocês estão acolhendo Maria, José e o Menino Jesus sempre de novo. Que isso motive vocês a continuar o seu trabalho com esperança, com a certeza de que Deus está olhando para isso com muito agrado”.

‘NUNCA RECUSAR NINGUÉM’
Este lema que há 86 anos orienta os trabalhos do Amparo Maternal é vivenciado diariamente no centro de acolhida, atualmente com capacidade para 100 pessoas, entre gestantes, puérperas, mães com seus bebês e demais filhos com idades de 1 a 6 anos.
Em entrevista ao O SÃO PAULO, Lorenna Pirolo, diretora-presidente da Associação Amparo Maternal, recordou que quase todas as mulheres que chegam ao centro de acolhida trazem consigo medos e incertezas pelo contexto em que vivenciam a gestação: “Essa mãe vem com o corpo fragilizado, mas acima de tudo com a alma fragilizada. E a transformação na vida delas que a gente testemunha aqui é verdadeiramente um milagre de Deus. Quando essas mães, essas gestantes, acolhem essa nova vida, essa graça da cocriação que Deus dá para cada uma, isso já é um primeiro passo de coragem e que leva à transformação de sua realidade”.
Lorenna destacou, ainda, que o processo de acolhida de uma mulher nesta situação requer que toda a equipe do Amparo tenha uma atenção especial com cada uma delas, seja na ambientação em que permanecerão com seus filhos, seja no trato da saúde física e mental.
“Quando elas chegam aqui na instituição e começam a participar do plano de trabalho que é realizado, as incertezas se transformam em confiança, em conhecimento, e isso vai clareando o cenário que têm pela frente. É um cuidado que, às vezes, elas nunca tiveram na vida, e essa marca do sofrimento vai sendo substituída por uma vida digna, na máxima do desenvolvimento integral autêntico que São João Paulo II dizia. E assim, essas mulheres vão descobrindo ou redescobrindo a força que há na maternidade”.
“Para elas, o nascimento do filho é a prova viva da misericórdia de Deus e da fidelidade de Seu amor. É Ele dizendo, ‘Eu estou convosco, vamos recomeçar’. Todas poderiam ter sucumbido no meio do desespero, da insegurança do ‘Como vai ser? Onde vou morar? Como vou cuidar da criança?’, mas quando o bebê nasce, ele vem iluminando e ressignificando tudo aquilo que foi vivido. É como se trouxesse a luz que vai afastando a escuridão. E daí essa mãe muda o foco. O olhar não é mais sobre o passado, é sobre a esperança que se inicia com o bebê. Muitas me falam, ‘Lorenna, agora eu enxergo uma nova vida, uma nova chance, meu filho, minha filha, é uma bênção’. E essa bênção dará uma nova força a essas mães para que sigam em frente, busquem um recomeço, uma história melhor. O choro e o sorriso de um bebê são o sim de Deus em suas vidas”.

EM ESTADO DE PERMANENTE ADVENTO
Certa vez, ao visitar o centro de acolhida do Amparo Maternal, Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998, afirmou que “no Amparo é Natal todo dia”. Segundo Lorenna, essa frase – já repetida por Dom Cláudio Hummes (Arcebispo de 1998 a 2006) e por Dom Odilo Scherer – ressoa nos trabalhos do Amparo de duas formas.
“Um significado desta frase hoje é que o Menino Jesus que chega até o mundo, e nós, como Amparo Maternal, temos essa grande missão de ser uma humilde manjedoura, para acolher essa vida na simplicidade e na reverência que toda vida merece em sua dignidade. Portanto, há 86 anos temos este ‘Natal todo dia’ aqui, no sentido da hospitalidade a Maria e José, no abrir as portas para quem não tem onde ficar, como foi com a Sagrada Família, e no abrir-se à generosidade dos reis magos de hoje, que chegam até aqui trazendo doações de enxoval, de alimentos, de recursos financeiros ou seu voluntariado para o atendimento integral a essa vida que chega”.
Por outro lado, Lorenna considera que a frase “no Amparo é Natal todo o dia” desperta uma inquietação permanente, que também ajuda a dar diretriz aos trabalhos: “Essa frase nos leva a viver o Advento o ano inteiro. Todos que estão envolvidos em fazer o Amparo acontecer – parceiros, doadores, funcionários – são convidados a arrumar a casa do coração para receber o Salvador que logo vai passando por nossa porta pedindo apoio”.
“Tentamos sempre ser como a Estrela de Belém, indicando o caminho do Salvador. Nós vamos tentando indicar para mãe o encontro com Cristo, para que dentro de tudo isso descubra a beleza que nós temos, de sermos chamados filhos de Deus”, concluiu Lorenna.
(Colaborou: Emily Ferreira, da Comunicação da Associação Amparo Maternal)
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