O testemunho do Evangelho fecunda e transforma a cidade

A Paróquia é uma instituição eclesial cuja relação com a cidade existe desde a sua origem. Dando continuidade à série sobre o Mês Missionário, O SÃO PAULO destaca a missão das paróquias nos grandes centros urbanos.

Já nos textos bíblicos do apóstolo São Paulo é possível verificar o que pode ser considerada inspiração das primeiras paróquias, quando ele se refere à constituição de pequenas comunidades como Igrejas domésticas, identificadas simplesmente com o termo “casa” ou “domus ecclesiae”.

As primeiras comunidades cristãs se formaram nas cidades por onde os apóstolos e seus sucessores passavam e anunciavam o Evangelho. Essas casas eram o lugar de referência onde os fiéis se reuniam para celebrar e ouvir a Palavra de Deus, receber o Batismo, celebrar a Eucaristia e partilhar os dons que possuíam em comum.

À medida que mais cristãos aderiam à fé e, consequentemente, as comunidades cresciam, novas casas surgiam e, aos poucos, formava-se uma rede de comunidades, as quais, juntas, constituíam a Igreja na cidade, como, por exemplo, “a Igreja de Deus que está em Roma”, como se referiu São Paulo na Carta aos Romanos.

EVOLUÇÃO

A partir do século IV, surgem, nas maiores cidades, comunidades eclesiais urbanas com mais autonomia. Ao mesmo tempo, tais comunidades se expandiam para a zona rural, cada vez mais distantes dos centros.

Essa dilatação da comunidade urbana deu origem à diocese, uma Igreja particular pastoreada por um bispo, na cidade, e constituída de vários conjuntos de outras comunidades mais distantes, as paróquias.

Uma vez que se tornava impossível o bispo se fazer presente nessas paróquias, surge a figura do vigário, que significa “aquele que faz as vezes de”, que, geralmente era auxiliado por um diácono e outros ministros. Esse vigário, após o Concílio Vaticano II, passou a ser chamado de pároco.

 A Paróquia acompanhou as transformações da organização da sociedade em cada época, passando pelo feudalismo, burguesia e o surgimento das metrópoles.

No século XII, quando houve o desenvolvimento das comunidades cristãs em torno dos grandes mosteiros, deu-se maior relevância às paróquias como um centro de propagação da fé e da organização social, com a criação de escolas, orfanatos, instituições de assistência aos peregrinos e pobres, assim como às atividades das várias irmandades. Alguns historiadores consideram esse período o marco do nascimento do que se entende hoje como paróquia.

NOVAS CONFIGURAÇÕES

A instrução pastoral “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja”, publicada em julho pela Congregação para o Clero, com aprovação do Papa Francisco, sublinha que, desde a sua origem, a Paróquia se coloca como resposta a uma exigência precisa: “Aproximar do Evangelho o povo por meio do anúncio da fé e da celebração dos sacramentos”.

“A configuração territorial da Paróquia, todavia, hoje é convidada a se confrontar com uma característica peculiar do mundo contemporâneo, no qual a crescente mobilidade e a cultura digital dilataram os confins da existência”, reforça o documento.

O texto enfatiza, ainda, que, para promover a centralidade da presença missionária da comunidade cristã no mundo, “é importante repensar não só uma nova experiência de paróquia, mas também, nessa, o ministério e a missão dos sacerdotes, que, junto aos fiéis leigos, têm o compromisso de ser ‘sal e luz do mundo’ (cf. Mt 5,13-14), ‘lâmpada no candelabro’ (cf. Mc 4,21), mostrando o rosto de uma comunidade evangelizadora, capaz de uma adequada leitura dos sinais dos tempos, que gera um coerente testemunho de vida evangélica”.

PRESENÇA DE DEUS

Na exortação apostólica Evangelii gaudium (2013), o Papa Francisco refletiu sobre o desafio das culturas urbanas, salientando que é preciso identificar a cidade a partir de um olhar contemplativo, “que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças”.

“A presença de Deus acompanha a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida. Ele vive entre os cidadãos promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo do bem, da verdade, da justiça. Esta presença não precisa ser criada, mas descoberta, desvendada”, acrescentou o Pontífice.

O Santo Padre afirma que o melhor remédio para os vários males urbanos é o Evangelho. “A proclamação do Evangelho será uma base para restabelecer a dignidade da vida humana nestes contextos, porque Jesus quer derramar nas cidades vida em abundância (cf. Jo 10,10)”, disse, reforçando que viver a fundo a realidade humana e se inserir no coração dos desafios como fermento de testemunho, em qualquer cultura e cidade, melhora o cristão e “fecunda” a própria cidade.

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