Os 10 anos da Laudato si’ e o legado do Papa Francisco são lembrados em evento arquidiocesano

Com a presença de Dom Odilo, momento celebrativo na Catedral da Sé recorda os 10 anos da Laudato si’ e homenageia o Papa Francisco, dia 17
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Com leituras de trechos da Laudato si’, cânticos sobre o cuidado com a Casa Comum e uma mesa de reflexões, a Comissão Arquidiocesana Testemunho e Serviço da Caridade realizou no sábado, 17, na Catedral da Sé, um momento celebrativo pelos dez anos da encíclica – publicada em maio de 2015 – e em homenagem ao falecido Papa Francisco. 

Na mesa de reflexões estiveram o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo; o Padre Antonio de Lisboa Lustosa Lopes, doutor em Ciências da Religião; e o Cônego Antonio Manzatto, doutor em Teologia. 

“Nós queremos que o conteúdo da encíclica Laudato si’ seja sempre mais conhecido, e pensamos em fazer deste dia também um espaço de formação, além de um momento de homenagem ao Papa Francisco que tanto contribuiu para a questão da Ecologia Integral e ajudou a colocar esse tema na pauta da humanidade”, afirmou, ao O SÃO PAULO, o Cônego José Renato Ferreira, Coordenador da Comissão Arquidiocesana Testemunho e Serviço da Caridade, que mediou o encontro. 

CASA COMUM E SOLIDARIEDADE FRATERNA 

Dom Odilo recordou que a Laudato si’ é o primeiro documento do Magistério da Igreja focado nas questões ambientais e que traz entre seus conceitos fundamentais a ideia da Casa Comum, na qual há lugar para todas as criaturas e ninguém deve ser excluído. 

Também é ponto central da encíclica a solidariedade fraterna e a convivência harmônica. “Nesta Casa Comum, nós nos relacionamos com a natureza que nos circunda – água, ar, terra, plantas –, dela precisamos e temos de cuidar para que continue a dar condições de vida a todos que nela habitam”, prosseguiu. 

Dom Odilo lembrou ainda que na encíclica o Papa Francisco ressalta a busca da justiça para que todos tenham o necessário para viver e a noção de gratidão a Deus por tudo de bom que Ele criou. Recordou, também, que a Laudato si’ questiona a maneira como a humanidade têm explorado o planeta, provocando desequilíbrios econômicos e ambientais que colocam em risco todas as formas de vida, um alerta igualmente feito pela Campanha da Fraternidade deste ano, que trata da “Fraternidade e Ecologia Integral”, com apelos para que se estabeleça uma cultura de cuidado com a criação. 

A INCIDÊNCIA DA ENCÍCLICA 

Cônego Manzatto, por sua vez, apontou que a Laudato si’ iniciou processos para um novo patamar de discussões sobre as questões ambientais, seja no que se refere às políticas socioambientais, seja nas ações concretas na sociedade e na Igreja, seja para o reconhecimento e respeito aos povos originários, ribeirinhos, quilombolas e os migrantes. 

O doutor em Teologia explicou que a Casa Comum apresentada na encíclica “é um conceito integrador que exige em resposta que revisemos nosso jeito de ser, de habitar o mundo para além de nossas prioridades individuais”; e que ao tratar da Ecologia Integral, Francisco destacou que “na natureza, as realidades todas se conectam e as alterações de um dos elos da corrente provocam alterações em todo o sistema”. 

Ainda de acordo com Cônego Manzatto, o Papa não teve medo de apontar que a principal causa da atual crise socioambiental “é o jeito predatório de explorar os recursos naturais”, e que o Pontífice propôs como solução uma mudança nas bases do atual sistema econômico, razão pela qual muitas vezes foi intensamente criticado. 

A ESPIRITUALIDADE DA LAUDATO SI’ 

Padre Antonio de Lisboa explicou que a espiritualidade da encíclica está especialmente expressa no capítulo 6 – “Educação e Espiritualidade Ecológicas”, podendo ser sintetizada nas palavras “Comunhão”, “Encontro” e “Ecologia Integral”. 

A encíclica, de acordo com o Sacerdote, reforça que a origem da fé cristã é o mistério da eterna Comunhão, e que quando a humanidade entende essa primazia é capaz de chegar à responsabilidade geracional. Lembrou, ainda, que a Laudato si’ apresenta o homem como o guardião da Casa Comum; e que tudo está interligado, do modo que qualquer ação humana marcará o mundo positiva ou negativamente. 

“No último capítulo da Laudato si’, somos inseridos nesta realidade: Deus, a humanidade e a natureza formam uma comunhão. A origem é a comunhão divina. A sustentação e a manutenção desta comunhão no tempo, na história, é responsabilidade humana assumida e mostrada como deve ser pelo Verbo de Deus Encarnado. E tudo isso caminha para uma Ecologia Integral, quando tudo será um só Nele que tudo criou”, sintetizou. 

CUIDAR DA CASA COMUM: SINAL DE ESPERANÇA 

A parte final do encontro foi marcada por homenagens ao Papa Francisco e a São Francisco de Assis, conduzidas pelos Franciscanos, incluindo a entrada pelo corredor central da Catedral da Sé de uma grande flâmula com uma pintura da imagem do Santo que há 800 anos, em 1225, compôs o Cântico das Criaturas, louvando a Deus pela criação. 

Houve ainda a apresentação da equipe arquidiocesana da Pastoral da Ecologia Integral, uma breve fala do Padre Cristian Uptmoor, representante da Arquidiocese no fórum municipal de debates em preparação para a conferência do clima da ONU (COP30), que acontecerá em Belém (PA) no fim deste ano; e o lançamento do manual de boas práticas ambientais “Conversão Ecológica na Igreja em São Paulo” (leia mais abaixo). 

Antes da bênção final, Dom Odilo lembrou que na bula de proclamação do Jubileu 2025, o Papa Francisco pediu aos cristãos que deem ao mundo sinais de esperança. “Um desses sinais é cuidar da natureza, cuidar da Terra. Portanto, que saiamos hoje daqui com este propósito, pois cuidando bem da Casa Comum, damos a esperança de vida e futuro a quem virá depois de nós”, concluiu. 

Deixe um comentário