Os ‘Samurais da Paz’

Com encontros semanais, o projeto sediado na Paróquia Nossa Senhora da Paz estimula a atividade física, a autodefesa, entre outras habilidades

Luciney Martins/O São Paulo

Eduardo da Silveira, 6, espera an­sioso pelas quintas e sextas-feiras, dias em que participa do projeto “Samurais da Paz”, na Paróquia Nossa Senhora da Paz, no Glicério, região central da capital.

“Eu amo participar. Aqui eu apren­do muito”, afirmou, enquanto vestia o quimono. “Comecei a participar no início do ano e não quero mais parar”, disse.

Diomedes Otávio da Silveira Filho, 25, é o pai do Eduardo. Ele contou à re­portagem que o filho sempre foi muito agitado e que o projeto o ajudou, so­bretudo na concentração e no relacio­namento com o próximo. “Conheci o projeto e trouxe meu filho. Foi a melhor coisa que aconteceu em nossa família. Aqui o Eduardo vem desenvolvendo muitas habilidades como a coordena­ção motora, a concentração, o senso de responsabilidade individual e coletiva e progrediu na relação com outras pesso­as. Hoje meu filho espera ansioso pelas aulas de jiu-jítsu”, afirmou o pai.

“Os Samurais da Paz” se reúnem nos dias citados das 19h às 20h30. São 24 crianças, de 6 a 16 anos, que moram na área de abrangência da Paróquia.

ALÉM DO TATAME

O projeto existe desde 2022 e foi idealizado pela leiga voluntária Nadi­la Cacau, 39, com a missão de acolher, resgatar e salvar vidas.

Luciney Martins/O São Paulo

O jiu-jítsu é uma arte marcial que concentra técnicas de luta no chão. O termo jiu-jítsu pode ser traduzido li­teralmente como “arte suave” ou “arte gentil”. Assim, valoriza a técnica, a pre­cisão e a eficiência, permitindo que um lutador possa controlar e finalizar um oponente sem a necessidade de golpes violentos.

Os benefícios da atividade con­templam a dimensão física, mental e emocional. “O jiu-jítsu estabelece uma transformação na vida de crianças e adultos. É uma atividade intensa que melhora a força, a resistência, a flexi­bilidade e a coordenação motora; além de promover a perda de peso e o con­dicionamento cardiovascular. Também desenvolve a concentração, o foco, a disciplina. Os praticantes aprendem a tomar decisões rápidas e a lidar com situações de estresse e liberar as emo­ções”, afirmou Nadila, que pratica o es­porte desde os 24 anos.

O projeto tem como prioridade a vivência não só de técnicas esportivas e de defesa pessoal, mas também da filo­sofia da arte marcial.

Para participar do projeto, as famí­lias precisam ser moradoras do entorno da Paróquia. Entre os requisitos estão a frequência escolar, bom desempenho e bom comportamento. “Queremos que as crianças à nossa volta possam ter no­vas perspectivas de vida, saindo da rua ou da frente dos celulares para apren­der novas habilidades”, falou a idealiza­dora, ressaltando que a lista de espera só cresce.

“Cada um tem sua individualida­de e progride a seu tempo. As crianças chegam tímidas, inseguras e com me­dos dos movimentos e, aos poucos, vão aderindo às técnicas e ganhando auto­confiança. Aprendizados que ultrapas­sam o tatame”, destacou.

AÇÃO E TRANSFORMAÇÃO

Aluska Patrício Costa, 33, atua como coordenadora voluntária do pro­jeto e é mãe da Laura, 11, que participa do “Samurais da Paz”.

“Encantei-me com o projeto e quis somar forças. Vejo os benefícios na vida da minha filha e o progresso das crianças. Isso me enche de orgulho”, falou.

“Aqui, ensinamos as crianças a res­significar suas vidas e o impacto acon­tece também na família. Os pais nos re­latam a transformação na vida de seus filhos. É nítido, também, o progresso, a alegria e o desejo de aprimorar as téc­nicas e para subir de nível, além da evo­lução e mudanças no comportamento, elas aprendem a ser mais empáticas uns com os outros”, assegurou Aluska.

Já Laura relatou aprimoramentos na disciplina e na concentração. “Era muito ansiosa. O jiu-jítsu me ajudou a entender meus sentimentos, a sair da frente do celular e a praticar exercícios e, sobretudo, a me relacionar com ou­tras pessoas”.

DISCIPLINA

Pedro Silvestre Araujo, 11, também contou sobre como o projeto lhe tem sido benéfico. “Eu sentia muitas dores no corpo, pois ficava o dia todo sem me movimentar. Aqui, aprendi a impor­tância da atividade física. Aprender e praticar o jiu-jítsu é uma escola de au­todefesa, disciplina, respeito e cuidado com o próximo”, disse.

Rita de Araujo, 43, mãe do Pedro, confirma os avanços: “Ele era muito desatento, indisciplinado. Hoje é mais comprometido e responsável consigo, com a família e com os amigos”.

Padre Antenor João Della Vecchia, missionário scalabriniano e Pároco, co­mentou sobre o quanto o projeto tem beneficiado os participantes: “Estamos em uma região em que, infelizmente, a violência predomina. E o projeto vem para apontar novos horizontes para es­sas crianças e adolescentes: mostra que é possível sonhar, viver com respeito e caráter, pautando a vida na verdade, na fé e na convivência fraterna”.

Luciney Martins/O São Paulo
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