Teve início na segunda-feira, 10, e prossegue até sexta-feira-feira, 14, em Guarulhos (SP), a Semana Nacional de Atualização para Formadores, promovida pela Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB), organismo que articula e integra os seminários e demais casas e institutos, buscando, à luz dos documentos da Igreja, critérios e diretrizes comuns para a formação dos futuros presbíteros, respeitando as especificidades formativas de cada instituição e dos regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Criada em 2 de julho de 1978, a OSIB é vinculada à Comissão Nacional do Ministério Ordenado e da Vida Consagrada da CNBB. Este é um dos três encontros nacionais que ocorrem anualmente. O outro acontece em março, voltado para diretores espirituais que atuam nos seminários e institutos; e há um em setembro, destinado a psicólogos que colaboram nessas casas de formação.
“Com estes encontros nacionais e com diversas atividades regionais, a OSIB tem colocado em prática o Documento 110 da CNBB – Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil –, levando em consideração o processo formativo e a gradualidade nas etapas de formação”, explicou ao O SÃO PAULO o Padre Vagner João Pacheco de Moraes, Reitor do Seminário da Diocese de Osasco (SP) e Presidente Nacional da OSIB.
Além do Documento 110 da CNBB, a OSIB tem seus marcos doutrinal e referencial extraídos dos decretos Optatam totius (sobre a formação sacerdotal), Presbyterorum ordinis (sobre o ministério e a vida dos presbíteros) e Perfectae caritatis (sobre a conveniente renovação da vida religiosa), da exortação apostólica Pastores Dabo Vobis (sobre a formação dos sacerdotes), de São João Paulo II; e da nova Ratio Fundamentalis (O Dom da Vocação Presbiteral), publicada em 2016 pelo Dicastério para o Clero.
A SEMANA DE ATUALIZAÇÃO
A missa de abertura do encontro, na Catedral Nossa Senhora da Conceição, em Guarulhos, foi presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar de São Paulo e Presidente da Comissão do Ministério Ordenado e a Vida Consagrada da CNBB, tendo como concelebrantes Dom José Albuquerque de Araújo, Bispo Auxiliar de Parintins (AM) e Referencial da OSIB, e o Padre Vagner João Pacheco de Moraes.
Na noite da terça-feira, 11, o Cardeal Scherer, Arcebispo de São Paulo, também presidiu missa com os participantes. No mesmo dia, foi lida a mensagem do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, que destacou que o cuidado com a formação presbiteral é fundamental na caminhada eclesial, e esta é uma preocupação da Igreja.
Padre Vagner João explicou que a Comissão tem um planejamento quadrienal temático sobre a formação presbiteral. Em 2022, foi trabalhada a dimensão humano-afetiva, e em 2023, para maior aprofundamento desta abordagem, a Semana Nacional de Atualização tem como tema “A formação humano-afetiva como meta para uma sexualidade integral”.
O Presidente da OSIB lembrou que a Semana Nacional de Atualização busca “zelar e fortalecer a comunhão no processo formativo, em atenção à proposta da Igreja de vivenciarmos a sinodalidade, inclusive com os formadores”.
FORMAÇÃO HUMANO-AFETIVA E A SEXUALIDADE INTEGRAL
O assessor deste ano é o Padre Deolino Pedro Baldissera, SDS, mestre em Psicologia Clínica, doutor em Ciências da Religião e formador do Grupo de Apoio do Serviço de Escuta de São Paulo.
À reportagem, ele explicou que sua exposição aborda quatro eixos que interagem nas pessoas: “Eu corpo” (referente ao desenvolvimento da corporeidade e sua relação com o funcionamento da anatomia cerebral), “Eu psíquico” (que envolve a complexidade da vida emocional, racional e relacional com os diferentes mecanismos, entre os quais a sexualidade), “Eu espiritual” (que trata da dimensão espiritual que dá sentido à sexualidade e afetividade e as integra em um projeto de vida) e “Eu relações” (que é como cada um se relaciona com os outros e o ambiente).
Padre Deolino detalhou que a afetividade e a sexualidade são aspectos essenciais da vida humana, mas que podem ocorrer conflitos que impedem sua plena maturidade: “Sabemos que a exposição exacerbada da sexualidade nos meios de comunicação a tornam apenas objeto de prazer e, com frequência, beirando à vulgaridade; deslocando seu sentido mais profundo e reduzindo-a ao sexo biológico, ignorando a beleza da sexualidade como dádiva de Deus. Ele nos fez pessoas sexuadas. Em nosso corpo se manifesta a força criativa e comunicativa da sexualidade e afetividade. Integrá-las no projeto de vida que cada um escolhe para viver é fundamental para se ter uma vida verdadeira humana”.
O assessor ressaltou que a sexualidade e a afetividade devem ser integradas ao projeto de vida dos sacerdotes, “o que supõe doação de si no seguimento de Cristo em vista da missão que recebe da Igreja, que implica o celibato, o qual não é renúncia da sexualidade; trata-se de um modo próprio de vivê-la. Tratar deste assunto com quem trabalha na formação dos futuros presbíteros é sempre atual. Aliás, a própria Igreja nas ‘Diretrizes da formação para presbíteros no Brasil’ (Documento 110 da CNBB), entre outros aspectos, aponta esse como relevante, merecedor de cuidados espe- ciais no processo formativo”.
3º ANO VOCACIONAL DO BRASIL
O evento também ocorre em sintonia com o 3º Ano Vocacional do Brasil, cujo lema é “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33).
“Como arder o coração dos nossos seminaristas? No Documento de Aparecida, encontramos uma recomendação do Papa Bento XVI que retrata que tudo começa a partir da experiência de um encontro: diante de alguém que chama e que impacta a nossa vida. É a partir deste encontro que surge o cha- mado vocacional e do qual vive a vocação. Devemos, assim, proporcionar aos nossos seminaristas, por meio das dimensões do processo formativo, uma espiritualidade madura, a partir de um acompanhamento personalizado de cada candidato, como nos recorda a nossa Ratio Fundamentalis”, concluiu Padre Vagner João.