Paróquia Bom Jesus é referência histórica e evangelizadora no bairro do Brás

Matriz paroquial de Bom Jesus do Brás (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

No domingo, 27, um grupo de 31 jovens e adultos recebeu o sacramento da Confirmação (Crisma) na Paróquia Bom Jesus do Brás, bairro da região central da capital paulista. Uma celebração comum para a maioria das paróquias católicas, porém, naquela comunidade, teve um sentido especial, pois é resultado do esforço conjunto para revitalizar a ação evangelizadora em um dos bairros mais tradicionais e, ao mesmo tempo, mais desafiadores da cidade.

O presidente da celebração, Dom Carlos Lema Garcia, ressaltou essa realidade. “Nas primeiras vezes em que vim celebrar a Crisma aqui, os crismandos preenchiam, no máximo, os primeiros bancos da igreja. Aos poucos, esse número tem aumentado. Isso mostra que a comunidade esta realizando a sua missão”, afirmou o Bispo Auxiliar de São Paulo e Vigário Episcopal para a Região Sé. 

O bairro

A história do bairro do Brás se identifica com a da Paróquia. Em 1765, a atual avenida Rangel Pestana, onde está localizada a matriz paroquial, era chamada de “Caminho da Penha”. O nome do bairro é atribuído ao português José Brás, que, em 1769, ergueu uma capela em honra a Bom Jesus de Matosinhos, devoção popular de Portugal e presente no Brasil colonial.

Mais tarde, em 1803, a capela foi substituída por uma igreja e, em 8 de junho de 1818, Dom João VI, rei de Portugal, decretou a criação da “Freguesia do Brás”, dedicada a Bom Jesus. Em 1896, começou a ser construída uma nova matriz paroquial, inaugurada em 1º de janeiro de 1903. 

Dom Carlos lema administra o sacramento da Crisma (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Transformação

Nos últimos anos, o Brás tem passado por transformações próprias dos grandes centros urbanos. “Por muitas décadas, este bairro se caracterizou pelo comércio… Esse foi um grande desafio, porque a participação de fiéis na Paróquia era muito pequena. Porém, por mais comercial que o Brás seja, há pessoas que residem aqui. Então, começamos a ir à procura dessa população”, relatou Monsenhor Sergio Tani, Pároco há seis anos.

Mais recentemente, houve uma expansão imobiliária na região, com a construção de novos edifícios residenciais, que atraíram, especialmente, jovens famílias que optaram por morar no Brás por ser um bairro central e de fácil acesso aos meios de transporte.

Por isso, tem aumentado a frequência de casais jovens, incluindo uma quantidade significativa de pessoas que estão se reaproximando ou procurando a vida eclesial pela primeira vez. Alguns desses receberam a Crisma no domingo. “Não se trata apenas de uma catequese para a Crisma, mas para a iniciação à vida cristã desses adultos”, explicou o Monsenhor Sergio.

Migrantes

Outra realidade marcante no bairro é a presença de imigrantes latino-americanos. Por isso, há um trabalho pastoral voltado para essa comunidade, especialmente a peruana, que participa mensalmente de uma missa em espanhol na Paróquia.

“Embora os peruanos sejam a maioria, há também a participação de bolivianos, colombianos, chilenos e argentinos. Isso está se intensificando, de maneira que, em alguns meses, temos celebrado duas missas em espanhol para darmos conta desses fiéis”, afirmou o Sacerdote, lembrando que nos dias 15 e 16 de julho será celebrada a festa de Virgen del Carmen de Pisac, padroeira dos peruanos.

Monsenhor Sergio Tani, pároco há 6 anos (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Pastorais

A Bom Jesus do Brás também conta com dois grupos de oração, de reza do Rosário e está refundando o Apostolado da Oração. Há também a Pastoral do Batismo e do Matrimônio, voltadas a esses sacramentos.  Há, ainda, uma presença ativa da Comunidade Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria.  

Para o Pároco, foi fundamental para o crescimento da participação dos fiéis o aumento da celebração dos sacramentos. “Quando as pessoas recebem Catequese, é natural que elas tomem mais consciência sobre o valor dos sacramentos e os procurem com mais frequência”, enfatizou o Monsenhor Sergio. 

Caridade

O Brás também é marcado pelos desafios sociais, com uma numerosa população em situação de rua e de famílias carentes. Para essa dimensão a Paróquia possui a Pastoral da Caridade, confiada à intercessão de Santa Teresa de Calcutá, que atende mensalmente quase 200 famílias.

Esse trabalho é realizado pelos leigos da Legião de Maria e pelas Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade (Orionitas), congregação que possui uma casa no bairro. Além da distribuição das cestas básicas, há o acompanhamento pastoral das famílias cadastradas.

Irmã Rufina da Luz Pinheiro, 46, é uma das orionitas que atuam na comunidade. Natural de Cabo Verde, ela ajuda no atendimento aos pobres, auxilia nas liturgias e faz visitas aos enfermos. “Desde que chegamos, percebemos uma comunidade viva. Penso que a acolhida tem sido fundamental para atrair mais fiéis à Paróquia”, afirmou a Religiosa.

Patrimônio 

Também é um desafio pastoral para essa comunidade paroquial a manutenção da igreja matriz, inaugurada em 1903. Com o passar dos anos, o templo sofreu muitos danos estruturais que exigem um minucioso restauro.

Desde que assumiu o pastoreio da Paróquia, Monsenhor Sergio priorizou os reparos emergenciais na estrutura arquitetônica da igreja. Para isso, a comunidade contou com o apoio de benfeitores e voluntários. 

Imagem do Senhor Bom Jesus, no altar-mor daigreja (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

No entanto, o Pároco sublinhou que, “antes do restauro físico do templo, foi priorizado o restauro da Igreja povo de Deus”. Nesse sentido, as primeiras reformas foram realizadas nos anexos da igreja, como a ampliação de salas para Catequese e espaços para encontros, de modo a favorecer as atividades pastorais e evangelizadoras. Outra obra que está sendo concluída é referente às exigências de segurança do Corpo de Bombeiros.

“O próximo passo é iniciar o processo de restauro da Igreja e, para isso, precisaremos da ajuda da comunidade e de todos aqueles que puderem colaborar”, destacou o Pároco. 

Igreja viva

O engenheiro Hermes Santana Neves, 36, é um desses jovens que se mudaram recentemente para o bairro.  Há quase dois anos, ele participa da Paróquia Bom Jesus e, atualmente, colabora no canto litúrgico das celebrações. 

Assim como outros casais da comunidade, Neves também se empenha no apostolado com os vizinhos. Para isso, ele considera os meios digitais uma grande ajuda. “Nós procuramos divulgar nos grupos de WhatsApp do condomínio as atividades da Paróquia, como missas, inscrições para Catequese, entre outras. Isso atinge centenas de pessoas. Muitas delas procuram a Paróquia após esse contato digital”, destacou.

Para Neves, a Bom Jesus do Brás não é apenas um monumento histórico da cidade, mas uma referência espiritual da presença viva da Igreja no bairro. “As igrejas católicas são essenciais para a vida da população de um bairro, pois a ajudam a crescer como comunidade”, disse.

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Milton Martins
Milton Martins
7 meses atrás

Em 1907 meus avos se uniram em matrimonio nesta igreja.
Em 1935 meus pais efetuaram o seu casamento nesta mesma igreja.
Em 1964 fui eu que casei nesta igreja.
Em 2014 nas bodas de ouro, lá que recasamos.
Espero voltar em 2024 para repetir os sessenta anos de feliz união.
Milton e Wilma.