Pequenas ações que fazem a diferença no cuidado com a casa comum

Iniciativas de paróquias e ONGs buscam minimizar os efeitos danosos ao meio ambiente do descarte de resíduos eletroeletrônicos e de óleo de cozinha usado

Paroquia Nossa Senhora do Rosário – Apucarana

Descartar incorretamente o lixo provoca poluição e contaminação do meio ambiente. De igual modo, o descarte indevido do óleo de cozinha provoca sérios danos ao planeta. Segundo dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), 1 litro de óleo pode contaminar até 25 mil litros de água potável.

Em relação ao lixo eletrônico, o Brasil está em 5º lugar no ranking mundial e em 1º no cenário latino-americano de produção de resíduos eletrônicos, como indicam dados de 2019 do relatório The Global E-Waste Monitor, realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com outros órgãos internacionais.

AÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO

Pensando nesse impacto e motivada pelo apelo do Papa Francisco para o cuidado com a casa comum, expresso na encíclica Laudato si’, a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, de Apucarana (PR), criou a Pastoral do Meio Ambiente e tem promovido campanhas para recolher e dar destino correto ao óleo de cozinha usado e aos resíduos eletroeletrônicos.

Amauri Henrique Rosina, coordenador paroquial da Pastoral e animador Laudato si’ do Movimento Católico Global pelo Clima, salienta a necessidade de atividades voltadas à conscientização ambiental e responsabilidade social.

“Os voluntários da Pastoral percorrem os bairros da cidade para arrecadar o óleo de cozinha e itens eletrônicos que seriam descartados no lixo comum. Deus nos confiou para cuidar da sua criação. Essas ações são um convite para que a comunidade reflita e se conscientize dos atos cometidos contra a natureza”, alertou, destacando, ainda, que as pessoas tinham muito óleo guardado em suas residências e não sabiam o que fazer com ele, e que os itens eletrônicos eram descartados de forma errada ou acumulados em casa.

Em 2020, a Pastoral recolheu mais de 1,2 mil litros de óleo de cozinha, evitando, assim, a contaminação de mais de 1 bilhão de litros de água. O óleo recolhido é encaminhado a uma empresa autorizada que faz a filtragem do produto e o direciona a uma fábrica de sabão na cidade.

“Com a coleta do resíduo de cozinha, entregamos mudas de árvores no âmbito do projeto ‘Quer um ar limpo? Plante uma árvore’, além da instalação de 16 placas de orientação para não descartar lixo em lugares impróprios”, mencionou Rosina.

Os voluntários da Pastoral, com o apoio da Cooperativa dos Catadores de Apucarana (Cocap), recolhem produtos elétricos e eletrônicos de pequeno e médio porte que estão quebrados ou sem utilidade: TVs de tubo, máquinas de lavar, fogões e peças de celulares e computadores, e os encaminham a empresas específicas, “contribuindo para diminuir os danos ao planeta, uma vez que esses itens contêm materiais como plástico, vidro e metal, que podem ser reciclados e, se jogados na natureza, poluem e levam anos para se decomporem”, disse.

De acordo com o Padre Laércio José de Lara, Pároco, “os voluntários estão mobilizados na conversão ecológica, juntamente com um embasamento teológico. Os projetos realizados buscam unir atividades ao meio ambiente com a espiritualidade”, afirma, detalhando que realizam algumas ações com finalidades mais ecológicas – coleta de óleo de fritura, de eletrônicos, distribuição de mudas de árvores – e outras voltadas à espiritualidade – missa de São Francisco de Assis, com bênção de alimentos para animais; missa do Dia Mundial da Água, realizada em uma nascente no bairro; e a Trilha Ecorreligiosa de Nossa Senhora de Fátima.

MOEDA SUSTENTÁVEL

O coletivo Dedo Verde é uma organização que atua na educação e serviços ambientais, na zona Sul da capital paulista, e desde 2012 já coletou 25 mil litros de óleo de cozinha usado e produziu 300 quilos de sabão ecológico.

A partir deste semestre, terão início ações concretas de recolhimento de itens eletrônicos em parceria com uma empresa especializada no correto descarte deste resíduo.

“O coletivo atua diretamente em três frentes: educação ambiental, reciclagem de resíduos e segurança nutricional, com ações de sustentabilidade e economia solidária, por meio de oficinas, palestras e vivências ecopedagógicas”, afirmou Renato Rocha, empreendedor social do coletivo Dedo Verde. Ele também destaca que o “sabão ecológico é uma opção de renda em parceria com outras ONGs, instituições e empresas”.

A sede do Dedo Verde fica junto à ONG Casa de Cultura e Educação São Luís e faz parte do Fórum em Defesa da Vida da Sociedade Santos Mártires, fundada em 1988 pelo Padre Jaime Crowe.

A entidade dialoga com a Pastoral do Meio Ambiente da Diocese do Campo Limpo na “busca de criar estratégias para inserir ações de sustentabilidade para a comunidade, implantando a conscientização ambiental, pautados no caminho orientado pelo Papa Francisco do cuidado com a casa comum”, disse o empreendedor.

O coletivo, entre outras atividades, possui três hortas, sistema de reaproveitamento da água da chuva para irrigação, pequena fábrica de sabão ecológico, biodigestor, minhocário, casa de abelha sem ferrão e uma cozinha comunitária.

AÇÃO CONCRETA

A Paróquia Sagrada Família, na Região Episcopal Ipiranga da Arquidiocese de São Paulo, contribui com as ações voltadas à preservação do planeta. A Paróquia tem um ponto de coleta de óleo de cozinha, próximo à sua secretaria, no qual os paroquianos e moradores da região deixam o item para o correto reaproveitamento.

O Pároco, Frei Claudemir Rodrigues da Silva, dominicano, destacou que a iniciativa existe há mais de 20 anos e é uma contribuição necessária para amenizar os danos ao meio ambiente.

“O Papa Francisco exorta os católicos em todo o mundo e a todas as pessoas de boa vontade a tomar medidas concretas em relação às mudanças climáticas e à crise ecológica, pensando na preservação do planeta”, disse o Sacerdote, destacando que recolher o óleo de cozinha e direcionar a ONGs ou instituições “é um ato de manifestar a preocupação com o planeta”.

A comunidade, segundo o Frade, é orientada e convidada a separar corretamente o óleo de cozinha, em garrafas PET ou outra embalagem, mas sempre bem vedadas.

“O correto não é descartar o produto em pias, ralos ou bueiros, pois, além de prejudicar o encanamento das residências, contamina o meio ambiente porque dos canos vai direto a córregos, rios e até mesmo ao solo”, afirmou, ressaltando a importância de cada indivíduo fazer a sua parte.

“São ações como esta que transformam o planeta, a nossa casa comum, em um espaço melhor, com maior qualidade de vida, menos poluição e menor contaminação de rios e mares”, pontuou o Frade.

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