Em sua 8ª edição, a marcha também foi ocasião de peregrinação jubilar, com orações pelas mães, pelos nascituros e por todos que atuam pela dignidade humana

“Missão dada, missão cumprida. Eu sou católico e luto pela vida”. Com este e outros gritos de ordem, uma multidão de católicos participou no domingo, 28 de setembro, da Marcha pela Vida 2025 pelas ruas da zona Norte da cidade, agitando bandeiras e balões azuis, deixando um rastro de convicção em favor das duas vidas: a da mulher e a do nascituro.
O evento, que combinou ato público e peregrinação jubilar, foi marcado pela fé, pelo testemunho e pelo compromisso social, em um contexto em que a defesa da vida se confronta com debates políticos sobre a legislação relacionada à assistolia fetal.

ENTRE MÃES
A Basílica Menor de Sant’Ana, dedicada à mãe de Maria, foi o ponto de concentração e partida da Marcha, após a missa presidida por Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade.
Entre os participantes da celebração estavam os deputados estaduais Gil Diniz e Rogério Santos, lembrados por Dom Carlos como parlamentares atuantes na causa pró-vida no campo Legislativo.
Mais do que a defesa do nascituro, a Marcha também volta seu olhar para a mulher, muitas vezes levada ao aborto pela falta de apoio. Essa é a convicção de Marilene Costa, membro da Pastoral Familiar: “Os movimentos feministas dizem que defender a vida é tirar o direito da mulher, mas é justamente o contrário. Ninguém fala sobre os prejuízos físicos e psicológicos que o aborto causa. Nós queremos dar a elas o direito de conhecer essa realidade”.

UM OLHAR PARA O OUTRO
Na homilia, Dom Carlos destacou o caráter público da Marcha: “Hoje, damos testemunho nas ruas de São Paulo de que amamos, respeitamos e promovemos a vida em todas as etapas: a não nascida, a infância, a juventude, a vida adulta, a dos idosos, dos doentes, dos pobres e necessitados. Toda vida importa!”.
Fazendo referência ao Evangelho do dia (cf. Lc 16,19-31), o Bispo citou a parábola do homem rico que não percebia o sofrimento do pobre Lázaro à sua porta: “Quantas vezes, focados no celular, não vemos as necessidades das pessoas ao nosso lado, não dialogamos, não oferecemos atenção. Estar aqui é se importar e interferir com amor no sofrimento de muitos.”

‘ABORTO DE NASCIDOS’
Defender a vida vai muito além do grito “Não ao aborto”. O compromisso se estende também ao cuidado com os idosos, com as pessoas em situação de vulnerabilidade social e com aqueles que enfrentam dependências e vícios.
Antônio dos Santos Morais, coordenador da Pastoral da Sobriedade na Diocese de Osasco (SP), amplia esse olhar ao relacionar o vício com uma forma de autodestruição: “Quando uma pessoa se droga, ela também está se abortando; é um ‘aborto de pessoas já nascidas’, porque agem contra a própria vida. A Pastoral da Sobriedade atende pessoas que usam drogas, que fazem uso abusivo do álcool e até as que enfrentam depressão, pois tudo isso atinge a dignidade humana”.
“Tenho o sonho de ver representantes de todas as pastorais caminhando conosco, porque acredito que defender a vida dá sentido ao serviço pastoral e, ao mesmo tempo, a presença das pastorais fortalece o movimento. Procuramos envolver no evento todos que participam, seja nas leituras da missa, no coral, nas dezenas do Terço, para que se sintam representados, mas ainda poderíamos ser muitos mais”, afirma a coordenadora da Marcha, Elaine Cancian.

ASSISTOLIA FETAL
No dia 14 de agosto, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgaram uma nota conjunta contra a proposta de legitimação da assistolia fetal no País, tema atualmente sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF) na ADPF 1141.
“A prática da assistolia fetal é desumana, dolorosa e desproporcional. Trata-se de uma forma de interrupção da gravidez que, ao provocar sofrimento físico no feto, fere frontalmente o princípio da dignidade da pessoa humana, base do nosso Estado democrático de direito”, afirmam as entidades na nota.
A técnica consiste na injeção de cloreto de potássio diretamente no coração do feto, causando morte por parada cardíaca. O CFM observa que o mesmo método não é autorizado para eutanásia de animais e, em outros contextos, é utilizado apenas para a execução de condenados à morte.

A nota ressalta ainda o compromisso das entidades com a dignidade da vida humana desde a concepção até a morte natural, com a ética médica e o direito de objeção de consciência do profissional de saúde, sempre respeitando os limites legais.
O debate político também se mantém intenso. A resolução do CFM que proibiu a assistolia fetal, considerada “um avanço ético e um posicionamento técnico responsável”, foi suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2024, e ainda não há previsão de votação.
No Congresso, o Projeto de Lei 1904/24, que propõe punições severas para a prática após 22 semanas de gestação, ainda não foi colocado em pauta, enquanto no Senado a Comissão de Direitos Humanos discute a questão, com a senadora Damares Alves defendendo a proibição e destacando a seriedade das pesquisas que embasam a decisão do CFM.

Durante o Congresso pela Vida, em abril, a advogada Andrea Hoffmann, presidente do Instituto Isabel, enfatizou que o aborto é crime no Brasil em todas as hipóteses: “O que existe são excludentes de punibilidade nos casos de gravidez resultante de estupro, risco à vida da gestante e anencefalia fetal. Portanto, termos como ‘aborto legal’ ou ‘interrupção legal da gestação’ são juridicamente imprecisos, já que o aborto continua sendo crime, mesmo que a punição não seja aplicada”.
A próxima Marcha está marcada para 27 de setembro de 2026. Para acompanhar as ações do movimento e se engajar na causa, siga no Instagram (@marchapelavida).