Poder público e voluntários se mobilizam em iniciativas de reforço escolar

Para a maioria dos estudantes, o comparecimento às escolas nos três últimos semestres foi prejudicado, quando não interrompido, em razão da pandemia de COVID-19.

Na recente retomada à sala de aula, há perceptíveis atrasos no nível do aprendizado dos alunos em relação ao ciclo de estudos em que estão, razão pela qual os governos estadual e da capital paulista têm estruturado ações de recuperação e há, ainda, mobilizações de voluntários com este propósito.

Apoio pedaógico do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis

Apoio pedagógico em Paraisópolis

Na zona Sul da capital paulista, o Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis (PECP) – que é mantido há 22 anos pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein – identificou, por meio de uma pesquisa, que 70% das crianças que estudam na rede estadual de ensino e 59% das que frequentam aulas na rede municipal têm dificuldades para manter as atividades escolares na pandemia, especialmente para acessar as plataformas digitais de ensino ou pelo fato de os pais não terem tempo e/ou conhecimentos para ajudá-las.

Por causa disso, no ano passado foi criado o Programa de Apoio Pedagógico do Núcleo de Educação do PECP, pelo qual educadores, psicólogos, assistentes sociais, psicopedagogos, voluntários e parceiros auxiliam cerca de 300 estudantes, de forma virtual e presencial, na realização das tarefas escolares e na superação de dificuldades no aprendizado.

“Cada um dos nossos profissionais atende por duas horas um grupo com três crianças. Além disso, temos três salas de alfabetização, nas quais são atendidas dez crianças a cada quatro horas. É uma ação de trabalho muito individualizado, para que cada criança supere a necessidade educativa que tenha”, explicou, ao O SÃO PAULO, Telma Sobolh, presidente do Voluntariado Einstein, detalhando que para o apoio pedagógico on-line há 42 voluntários e cada criança é atendida duas vezes por semana, em um período de duas horas em cada dia.

A presidente do Voluntariado Einstein conta que o parecer dos professores e dos estudantes atendidos tem sido positivo e que já há fila de espera para o ingresso no projeto, razão pela qual os organizadores buscam por voluntários. É preciso ser maior de 15 anos, ter disposição mínima de dois dias por semana para as atividades ao longo de duas horas em cada um deles. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2151-3580.

Horas de reforço na rede municipal

Desde a volta às aulas presenciais na rede municipal no dia 2, tem sido colocado em prática um projeto de recuperação, “sendo que os que apresentam mais defasagem na aprendizagem em relação ao ano/série em que estão matriculados vão participar da recuperação paralela no contraturno escolar”, informa, em nota, a Secretaria Municipal de Educação.

A pasta diz ainda que há atenção especial às crianças em fase de alfabetização, por meio da realização de sondagens sobre o nível de ensino e a implementação de trilhas de atividades específicas e acompanhamento de sua evolução. Já os estudantes a partir do 3º ano do Ensino Fundamental que estejam com defasagem de aprendizagem e desenvolvimento participam “de uma recuperação paralela, aplicada no contraturno escolar, e contínua, planejada pelos docentes, por meio de estratégias diferenciadas que os levem a superar dificuldades”.

A Secretaria informou ainda à reportagem que mantém o projeto “Trilhas de Aprendizagem”, uma coleção de cadernos que foram enviados às famílias, com atividades também disponíveis on-line.

Suporte on-line e voluntariado nas escolas estaduais  

Diante dos desafios mapeados no aprendizado dos estudantes, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informou que tem realizado uma série de ações, como o “Além da Escola”, que abrange 500 mil estudantes mais vulneráveis. “Eles receberam um chip de internet e estão sendo acompanhados por um professor para cada grupo de 8 a 12 alunos. Este é um trabalho híbrido, que combina o presencial com o remoto, e permite que este professor acompanhe de perto a organização da rotina escolar e apoie cada aluno em sua necessidade de aprendizagem”, detalhou à reportagem Bruna Waitman, coordenadora do Centro de Mídias da Educação de São Paulo, no qual são disponibilizadas as aulas on-line e há canais de diálogo direto com os responsáveis dos estudantes para orientações e dicas sobre como apoiá-los.

Bruna comentou, ainda, que a Secretaria da Educação tem permitido ações de voluntariado para apoio pedagógico nas escolas. Ela citou o que ocorre na Escola Estadual de Ensino Integral Alfredo Paulino, no Alto da Lapa, na capital paulista, onde um grupo de voluntários se dispôs a oferecer aulas de reforço e ajuda para que os estudantes realizem as tarefas escolares de casa. O atendimento individualizado ocorre durante o período de uma hora por semana.

Educadora defende que se priorize revisar conteúdos já vistos

Professora há 34 anos, Maria do Socorro Lima Nascimento há 14 anos se dedica a atividades de reforço escolar. Ela atende 20 crianças em Manaus (AM), faz mentoria para 273 professores de todo o Brasil e desenvolve materiais pedagógicos, que podem ser vistos pelo Instagram (@limasocorro) ou no site https://apoiodavovo.com.

Socorro Lima, como é mais conhecida, considera que a aprendizagem dos estudantes na pandemia foi afetada pela dificuldade dos pais em auxiliar os filhos no ensino remoto, seja pela falta de tempo, seja por não saber lidar com as tecnologias. Outro complicador, em seu entender, foi o fato de escolas não terem centrado suas ações em conteúdos como leitura, interpretação de texto e as operações básicas de matemática.

“Na fase remota, os professores passaram aos estudantes aquilo que normalmente dariam em sala de aula, e agora, nessa volta, dão continuidade ao conteúdo. Entretanto, se a criança teve dificuldade para acompanhar os conteúdos on-line, agora está totalmente ‘perdida’, mas, mesmo assim, obrigada a fazer as atividades”, afirmou Socorro, opinando que o correto seria uma completa retomada daquilo já ensinado, “uma espécie de revisão geral, pois não adianta, por exemplo, querer que a criança aprenda subtração se ela não sabe nada sobre adição. Fazer horas de reforço, mas continuar apresentando novos conteúdos, não faz muito sentido”, avaliou.

Aos pais, ela recomenda que propiciem aos filhos atividades de leitura e interpretação de textos e estimulem as operações básicas da matemática, o que pode ser feito durante as atividades rotineiras da família, como nas situações a seguir:

– Em meio aos jogos como dominó, fale com as crianças sobre adição e subtração;

– Envolva a criança na rotina de compras do supermercado, mostrando o quanto se tem para gastar, o valor de cada item e o quanto restou de dinheiro após as compras;

– Ao calcular as contas mensais a pagar, mostre à criança o valor de cada uma delas e os cálculos feitos;

– Promova rodas de leitura em família;

– Leia com as crianças e peça que recontem a história lida. Isso as incentivará a prestar mais atenção ao texto;

– Procure por atividades lúdicas e materiais pedagógicos na internet.

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