Destacou Dom Cícero Alves de França em missa de preparação para o Natal na unidade feminina Chiquinha Gonzaga da Fundação Casa

“Quando celebramos o Natal de Jesus, precisamos olhar para o nosso coração. O coração humano pode se tornar um ‘túmulo’, quando se fecha ao amor e à compaixão, ou uma ‘manjedoura’, quando se abre para acolher Cristo. Se o coração vira pedra, ele para de amar e vira um túmulo. Mas se o coração se torna uma manjedoura, ele se torna lugar de vida, onde Jesus nasce”.
As palavras de Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar de São Paulo, foram especialmente dirigidas às 47 adolescentes e jovens que cumprem medidas socioeducativas de internação na unidade feminina Chiquinha Gonzaga da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa), na zona Leste, que participaram da missa por ele presidida na manhã do dia 10.
A celebração foi organizada pela Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo e pelo Programa de Assistência Religiosa (PAR) da Fundação Casa. Concelebrou o Padre Miguel Cambiona, CSSp, Assessor Eclesiástico desta Pastoral na Região Belém. Também participaram seminaristas da Arquidiocese.
Dom Cícero a todos lembrou que a espiritualidade é uma dimensão inseparável da condição humana e que todas as pessoas buscam a Deus de algum modo: “Não existe alguém que não tenha espiritualidade. Mesmo que a gente negue, estamos sempre procurando um Deus”, afirmou, ressaltando que a espiritualidade tem impacto direto na forma como se vive, se enfrenta o sofrimento e se direciona as escolhas.
O CORAÇÃO É MANJEDOURA
Na homilia, Dom Cícero recordou que Jesus nasceu pobre, em uma manjedoura, partilhando a fragilidade humana, e que essa realidade é fonte de esperança para todos. “A nossa esperança tem um nome: aquele Menino que nasceu no presépio. Jesus nasceu pobre, sem ter onde nascer, para nos dizer que não estamos sozinhos. Quando Cristo nasce no coração das pessoas, nasce também a esperança que não tem prazo de validade”, afirmou.
O Bispo Auxiliar da Arquidiocese também exortou: “Não deixem para amanhã o que pode ser construído hoje. Não deixem de amar quem pode ser amado hoje”. Destacou, ainda, que “celebrar o Natal é permitir que Jesus nasça todos os dias no coração humano. Que os vossos corações sejam manjedouras e não túmulos. Quando escolhemos amar, a gente não perde, a gente ganha”, concluiu, desejando um Natal marcado pela esperança, pela fé e pela certeza de que Deus caminha com o seu povo.
ESPERANÇA E FAMÍLIA

Alana*,19, grávida de 8 meses, está à espera de um menino. “Pouco tempo depois que cheguei aqui na unidade, descobri que estava grávida. A gestação é uma fase que faz pensar e repensar muito. Estou gerando uma vida e sou responsável por ela”, disse, feliz.
Para Jurema*, 17, momentos celebrativos como o realizado no dia 10 “são muito bons pra gente que está longe da nossa família. Acalma o nosso coração ver outras pessoas se importando com a gente e querendo nos ver bem”.
Cassiana, 14*, lembrou à reportagem que o Natal é a época em que ela celebrava com a família. “No Natal deste ano, terei a oportunidade de repensar as atitudes, aprender com os erros e, sobretudo, acolher os ensinamentos de Jesus e receber o amor de quem cuida de nós aqui na unidade”.
Joana*, 15, interpretou Nossa Senhora na representação da Sagrada Família ao final da missa: “Jesus nasceu em uma família, e com essa encenação recordo de todos com amor e saudade”.
ACOLHIDA E CONEXÃO COM O DIVINO

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Claudia Carletto, presidente da Fundação Casa, afirmou que a assistência religiosa colabora com o processo socioeducativo: “Todos os nossos adolescentes têm o direito constitucional de assistência religiosa enquanto cumprem a medida socioeducativa e contamos com diversas denominações, como a católica, presentes no cotidiano e colaborando com o clima local”.
Keila Costa da Silva, diretora da unidade Chiquinha Gonzaga, enalteceu a presença da Igreja Católica. “Como elas não têm a possibilidade de ir à missa, a Igreja vem até nós, e é muito importante. Um momento como este faz com que elas se sintam confortáveis e acolhidas em relação à sociedade”.
Ainda segundo a diretora, “a missa é um passo para que, quando saírem daqui, consigam frequentar uma igreja e tomem decisões menos impulsivas.”
Sueli Camargo, coordenadora arquidiocesana da Pastoral do Menor, salientou que a presença da Igreja nas unidades socioeducativas não é um privilégio concedido pelo Estado, mas um direito assegurado às crianças e aos adolescentes em cumprimento de medida. “A expressão da fé é um direito garantido pela Constituição federal, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Lei de Execução Penal”, afirmou. “Cabe a nós estar aqui acompanhando esta juventude, garantindo que meninas e meninos possam viver sua espiritualidade mesmo nesse contexto”, destacou.
*Todas as adolescentes e jovens citadas nesta reportagem estão identificadas por nomes fictícios em respeito ao artigo 143 do Estatuto da Criança e do Adolescente





