Solidariedade: um apelo global, praticado concretamente pela Igreja

Em 20 de dezembro, celebra-se o Dia Internacional da Solidariedade Humana, que busca recordar os governos sobre seu papel na redução da pobreza e estimula a realização de práticas solidárias por toda a sociedade

Arquivo Pessoal

A solidariedade está no seio da vida cristã e é descrita no Compêndio da Doutrina Social da Igreja como uma verdadeira virtude moral (cf. CDSI 193). “O termo ‘solidariedade’, amplamente empregado pelo Magistério, exprime em síntese a exigência de reconhecer, no conjunto dos liames que unem os ho­mens e os grupos sociais entre si, o es­paço oferecido à liberdade humana para prover o crescimento comum, de que todos partilhem” (CDSI 194).

Na encíclica Fratelli tutti, o Papa Francisco afirma que a solidariedade se concretiza no serviço aos irmãos em di­ferentes formas: “Nesta tarefa, cada um é capaz de pôr de lado as suas exigências, expectativas, desejos de onipotência, à vista concreta dos mais frágeis (…) O serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximida­de e, em alguns casos, até ‘padece’ com ela e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos ideias, mas pessoas”. (FT 89).

A palavra solidariedade tem seu sig­nificado traduzido na identificação para com o sofrimento do outro. Sua origem, retirada do termo francês solidarité, remete a um sentimento ainda mais profundo: o da responsabilidade recí­proca em relação a tal angústia. É esse compromisso que inspira a realização do Dia Internacional da Solidariedade Humana, celebrado em 20 de dezembro.

Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) durante sua Assembleia Geral em 2005, a data chama a atenção para a necessidade de ações em busca da erradicação da pobreza, incluindo o cumprimento de acordos internacionais e a realização de debates para possíveis soluções a serem adotadas por órgãos governamentais e pela sociedade como um todo.

A Igreja Católica no Brasill tem mui­tas ações concretas de solidariedade. Nesta edição, o jornal O SÃO PAULO destaca três delas: a Sociedade São Vi­cente de Paulo, a Caritas Arquidiocesena de São Paulo e o Sefras – Ação Social Franciscana.

OLHAR PARA OS MAIS VULNERÁVEIS COM O AMOR DE DEUS

Formada por seis núcleos regionais, a Caritas Arquidioce­sana de São Paulo tem como princípio promover o desenvol­vimento integral da pessoa humana, em consonância com os valores evangélicos e a Doutrina Social da Igreja.

Uma das grandes contribuições para a diminuição das vulnerabilidades sociais se dá, atualmente, pelo Serviço de Acolhida e Orientação para Refugiados (SAOR). Presente em todas as regiões episcopais, o projeto atende essa parcela da população, direcionando-a para a retirada de documen­tos, prestando assistência social e psicológica, além do ofere­cimento de cursos profissionalizantes e de idiomas. Em 2023, mais de 4 mil pessoas foram contempladas com a iniciativa.

O Diretor da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, Diáco­no Márcio José Ribeiro, realçou que estar a serviço daqueles que sofrem corresponde ao projeto de vida de Jesus:

“O Papa Francisco disse que ‘a missão é o oxigênio da vida cristã’, e nos exortou a não deixarmos de nos alimentar com a Palavra de Deus, a Eucaristia e a oração. Nossa missão é evangélica, olhando para os mais vulneráveis com o amor de Deus e agindo para contribuir para a melhora de suas vi­das. Enquanto houver um irmão em situação de fragilidade social, precisamos acolhê-lo e atuarmos para atender às suas necessidades”, salientou o Diácono Márcio.

Sefras

RECONHECER O SENHOR NO POBRE

Conduzidos pelos valores franciscanos de acolher, cui­dar e defender, o Sefras – Ação Social Franciscana atua em projetos voltados à pessoa idosa, migrantes e refugiados, crianças e adolescentes, população de rua e pessoas acome­tidas pela hanseníase, totalizando em 2023, mais de 100 mil atendimentos.

Para o Frei José Francisco dos Santos, OFM, Diretor-pre­sidente do Sefras, a presença da Igreja no acolhimento das pessoas em vulnerabilidade social é sinônimo de potência para construção de políticas públicas eficientes, inspirando­-se na própria doutrina cristã: “É fundamental estarmos ao lado das pessoas que são vítimas dos grandes processos de violência e desumanização, pois abraçamos a fé de um Deus que se fez humanidade”.

“Deus não se apegou à sua grandiosidade, à sua pleni­tude, mas veio até nós para experimentar a nossa dor e o nosso sofrimento, não simplesmente por sofrer, mas para nos resgatar e nos elevar junto Dele. Ir ao encontro desses nossos irmãos é fazer a experiência de construir a espiritua­lidade do diálogo, do encontro com os que estão em situação desfavorável no caminho da vida. Esse é o sentido da nossa existência e da fé que abraçamos”, manifestou o Frade.

Em preparação à celebração do nascimento de Jesus, o Sefras realizou na terça-feira, 19, uma Ceia de Natal para a população em situaçpão de rua, na sede do projeto Chá do Padre, na região central, com apresentações artísticas. Na ocasião, se fez memória dos 800 anos da criação do presépio por São Francisco de Assis.

Arquivo Pessoal

DIGNIDADE PARA 74 MIL FAMÍLIAS

Fundada em 1833, a Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) é um movimen­to da Igreja Católica presente em todo o mundo, com a proposta de aliviar o sofri­mento e a miséria humana, além de pro­mover a dignidade e integridade da pessoa em todas as suas dimensões.

Com trabalhos voltados às pessoas em si­tuação de rua, lares de idosos, educandários e creches, os vicentinos realizam cotidiana­mente o atendimento às famílias por meio da distribuição de alimentos e itens básicos como gás e produtos de higiene. Também há apoio para custear despesas e encaminha­mento para o mercado de trabalho. Matheus Maciel, Confrade Vicentino da Conferência São João Batista, na Paróquia Santa Luzia, Jardim Primavera, na zona Norte de São Paulo, mais do que oferecer apoio imediato, a SSVP busca atuar na erradicação dos problemas sociais. Somente em 2023, cerca de 74 mil famílias de todo o Bra­sil foram contempladas pela ação por meio de 153 mil vo­luntários; destes, mais de 40 somente no Jardim Primavera.

“A caridade está presente na história da Igreja desde as primeiras comunidades. Colocar-nos a serviço de ações so­lidárias é realizar o mandato de Jesus Cristo. A maior inspi­ração para continuar o trabalho são as pessoas, que mesmo diante da pobreza e das dificuldades continuam disponíveis para serem acolhidas”, refletiu Maciel.

Em vista do Natal, além da arrecadação dos alimentos básicos, os voluntários realizam a campanha de distribuição de uma Cesta de Natal composta de sobremesas, guloseimas e outros insumos aos quais geralmente as famílias não têm acesso, e também arrecadam presentes para as crianças e adolescentes.

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