Tempo Comum, a escola de Jesus

Os chamados “tempos litúrgicos” (Advento, Natal, Quaresma, Páscoa) visam a uma preparação espiritual em dupla dimensão: a reflexão de uma determinada festa ou solenidade, iluminada pela luz da Palavra de Deus, e uma prática sociopastoral que lhe corresponde, esta última, voltada para o cotidiano das relações humanas.

E o “tempo comum”? – Perguntarão alguns. Qual a sua razão de ser? Trata-se de um período de menor importância?

Reprodução do folheto litúrgico “Povo de Deus em São Paulo

De início, convém não esquecer que o ano litúrgico deve ser visto como um “organismo vivo e integral”. Consiste em um todo orgânico, mas concentra a atenção em momentos fortes e oportunos – kairológicos – como referências para o percurso conjugado da fé e da ação.

Voltando à pergunta específica sobre o “tempo comum”, não seria exagero defini-lo como um período propício em que somos convidados a frequentar a escola de Jesus. Tempo de sentar junto ao Mestre ou de caminhar com Ele, escutando com atenção o conteúdo de seus ensinamentos. Momento de catequese, de discipulado. Qual o mistério oculto da Boa Nova, centrada no Reino de Deus? Que querem dizer suas parábolas e discursos, seus gestos e milagres? Como entender seus encontros constantes e prolongados com o Pai?

A escola de Jesus mergulha suas raízes na casa/família de Nazaré. Ou seja, na sabedoria que vem do silêncio. O tempo comum nos chama a uma atitude de silêncio, justamente para que possamos saborear o tempero da Palavra. Esta Palavra (no singular e com maiúscula) é diferente das palavras (no plural e com minúscula). Em vez de ruído, ela é sinônimo de serenidade: livre, criativa, libertadora. Aquece o coração, ilumina a mente, conforta a alma. Nasce, cresce e se fortalece no terreno da escuta. Por isso é que o silêncio é a oficina, o útero da verdadeira Palavra viva da Salvação. O caminho de Jesus ensina a respirar o oxigênio da vida.

A experiência de Jesus – onde o tempo comum figura como uma espécie de frequência escolar – também ajuda a dar um passo fundamental: a passagem do discípulo para o missionário, usando a linguagem do Documento de Aparecida.

Após o Mistério Pascal e o Pentecostes, os discípulos medrosos se converteram em missionários ardorosos. “Não ardia o nosso coração enquanto Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras”, comentavam entre si os discípulos de Emaús (Lc 24,32). Tornaram-se evangelizadores, apóstolos da Boa Nova, espalhando-se pela Ásia, a África e a Europa.

O aprendizado junto ao Mestre, enfim, coloca-nos em relação com sua prática pedagógica. Para entendê-la, basta ter em conta os lugares privilegiados pelo homem de Nazaré. Três se destacam com grande ênfase: a montanha, onde permanece longamente com o Pai; a casa/mesa, em que valoriza a partilha do pão e da vida; e o caminho, por onde vai ao encontro do pobre e doente, dos excluídos e indefesos, do invisível e marginalizado. Tríplice horizonte de sua prática evangelizadora: a oração, a comunhão e a missão. Três dimensões interligadas, indissociáveis, complementares, que reciprocamente se fortalecem.

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